segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sussurros da Meia Noite, publicação do Vale Fantástico

     Foi uma boa surpresa o livro Sussurros da Meia-Noite, lançado por quatro autores joseenses, que se intitularam Vale Fantástico, Daniel Pedrosa, Juliana Velonessi, Leandro Reis e Stefânia Andrade. Publicado pela Editora Pandorga.
     Um livro composto de 10 contos de terror, muito bem elaborado que demonstra o cuidado da equipe editorial de fazer um bom produto para o mercado de livros e ele é isso mesmo, veio para ser bom e conseguiu. Gostei de todas as histórias, cada uma com a característica do seu autor, e todas no mesmo nível, não há histórias ruins. Ponto positivo para os autores e para a equipe editorial.
     Eu gostaria de falar de cada história, dizer o que senti em cada uma e não sei se conseguirei ser preciso o suficiente. Vou tentar.
     O que eu gostei muito nas histórias é o uso de paisagens daqui do Vale do Paraíba, daqui de São José dos Campos, ainda que isto não esteja explícito porque a ideia, acredito, era fazer um livro que pudesse ser lido em qualquer lugar, mas as referências estão lá.
     O trabalho de edição foi muito bom, uma bonita capa e me diverti com o prefácio e com a escala de medo, um boa ideia.
     Pude notar que em quase todos os contos, as referências do cinema e de outros personagens dos filmes de terror estão presentes. Por exemplo, criaturas negras sobrevoando as pessoas lembrando os dementadores do filme do Harry Potter, bonecas que provocam a morte, crianças que parecem bonecas que matam as pessoas da família, referência ao boneco "Chuck", fantasmas, espíritos malignos, bruxas. Deste ponto de vista podemos entender o trabalho editorial. Fazer um trabalho com bons autores, e todos são, indiscutivelmente, mas um trabalho que não seja difícil para o leitor médio compreender as referências porque ele precisa tê-las para entender os contos e assimilá-los bem.
     Talvez por isso, quando os autores conseguiram fugir um pouco destas referências, fizeram os melhores contos, destacando para cada um deles os seguintes: "A Pedra da Caveira" de Daniel Pedrosa por relacionar histórias de maus-tratos a escravos com o terror em uma vila, destacando a feliz ideia de colocar a protagonista descendente de uma família que combatia os maus tratos aos escravos. "Insôniade Leandro Reis, por trabalhar muito bem com a ideia de loucura do personagem, "Tormento" de Stefânia Andrade por trazer o mal como algo de dentro da protagonista, como algo que era imperdoável para si mesma, uma ótima colocação. "O Broche Azul" de Juliana Velonessi, sendo o único conto desta autora, não me permitiu fazer comparações com outros escritos dela, mas achei ótimo também.
     Por conta disso, o livro é uma ótima diversão. Recomendo a quem gosta de um bons textos. E espero que não levem a sério, são só histórias criadas para assustar, nada é verdade... será?
     Cada um dos autores tem uma característica própria, Daniel Pedrosa gosta de trabalhar mais a ação, Leandro Reis procura um texto mais detalhado, e com Stefânia Andrade, fazem um passeio maior pela mente e consciência, Juliana Velonessi, conta uma boa história envolvendo muitos personagens.
     Lendo este livro e retornando ao livro que comentei anteriormente "Niffilins" de Wilson R,.não posso deixar de pensar neste viés mercadológico que se forma aqui em São José dos Campos, vejo com bons olhos que é algo crescente pelos bons textos sendo publicados. Defendo que devemos mesmo formar um mercado consumidor de livros de escritores joseenses e vejo que estes autores, persistindo, com certeza estão conseguindo construir este caminho.
      E, mesmo defendendo o mercado consumidor, sei que é este também o entrave para fazer uma literatura de ideias novas, Escrevendo para o mercado, consegue-me mais leitores, mas também reduz-se a possibilidade de inovação e eu gostaria de ver mais discussão e embate dentro da literatura, mais defesas de ideias e de conceitos, mais inovação. Ainda falta isso para nós. Continua valendo o que eu disse de ser um leitor chato e que quer ser chacoalhado pelo livro.
     Apesar de serem boas histórias e ótimos textos, não senti que são livros que me acrescentam novas ideias e perspectivas. ainda quero, neste caso, uma história de terror que me dê medo de ler a próxima página.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A Literatura de Entretenimento de Wilson R.

          Recentemente, li o livro "Niffilins, Os Filhos de Deus" do autor joseense Wilson R., presidente da Academia Joseense de Letras e gostei muito do livro.
          Como um livro de entretenimento é realmente muito bom de se ler, e não deve nada para qualquer "Best-seller" internacional, ouso dizer que seria muito fácil uma produção "Hollywoodiana" em cima da história. O autor tem muitos méritos, Wilson R. sabe escrever um bom texto, que prende o leitor, aproveita-se muito bem de um sem número de conhecimentos superficiais, em especial aqueles que uma pessoa formada na civilização ocidental possui como noções de antigas civilizações, conhecimentos bíblicos e um pouco de conhecimento científico. Aliado a isso, ele inclui algumas noções de seres e divindades menos conhecidos de várias mitologias.
          Desta forma, constrói seu livro contando com muitos estereótipos para a história e para os personagens, como, por exemplo, a existência de um escolhido capaz de fazer coisas que os outros não conseguem, e o fato de que todos os envolvidos sabem que o escolhido é importante e teve sua vida orientada, acompanhada e algumas vezes manipulada pelos seres e divindades. Temos os demônios todos com o estereótipo de demônio, com chifres, unhas grandes, peludos e feios; o anjo como deve ser um anjo, alto, louro, belo, vestindo túnica azul clara; a mulher do escolhido como extremamente bela e por aí vai.

        O autor soube lidar com o clássico estilo de livro de ação, a história vai tomando o rumo e se direcionando para o "grand finale" no entanto, faltou um pouco mais de acentuação do ponto alto do livro que seria a esperada guerra entre os habitantes da Terra e os Niffilins, houve este ponto, mas creio que a dificuldade de descrever tirou um pouco da emoção deste momento.
          Wilson R., portanto, vem se dedicando a esta literatura do entretenimento com elementos fantásticos, a exemplo do que faz também outros autores da cidade como, por exemplo, Leandro Reis, também um excelente autor. Acredito e desejo mesmo que ele consiga muito sucesso com a sua literatura.
          Este tipo de escrita funciona, para a literatura, como um filme de ação do tipo "Os Vingadores" funciona para o cinema, ou seja, a gente curte (assiste ou lê) e fica satisfeito porque aconteceu tudo do jeito que tinha de ser, os vilões são superados e vencidos apesar de todo o poder de destruir o mundo um milhão de vezes que tem, os mocinhos vencem sempre mesmo estando em tremenda desvantagem afinal têm o que precisam para vencer, e a gente tem a certeza de que o mundo continua com o mesmo dualismo, as coisas no mesmo lugar. Assim, o cérebro não precisa pensar demais para aceitar que é tudo sempre a mesma coisa, o mundo é o mesmo, os estereótipos continuam firmes e fortes.
         E é isto que justamente me incomoda como leitor. São filmes e livros que não me acrescentam, não me tiram da mesmice, dão-me satisfação e prazer mas não me levam a ter uma outra atitude. Mas eu sou um leitor chato, que quer ser chacoalhado, que quer ver as minhas bases balançando, que quer ver uma escrita diferente na literatura e quer a literatura como forma de transformação do mundo e das pessoas, quer a literatura participando ativamente da construção de um mundo melhor, de mais aceitação e menos discriminação, de mais bondade e menos intolerância, de mais compreensão e menos ignorância. Tudo isso não encontrei no livro de Wilson R.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Anarcopoesia de Paulo Roxo Barja

          http://paulobarja.blogspot.com.br/ 

          Em 2014, Paulo Roxo Barja, publicou dois pequenos livros de poesia, Anarcopoesia e Sonetos. Falarei aqui do que senti em Anarcopoesia.
          Anarcopoesia começa com o poema "A Cobra":          
Este poema me chamou a atenção com a construção da cobra, que remete aos protestos de junho de 2013, chamados de Jornadas de Junho. No poema, a cobra vai crescendo com a multidão até atingir mais de 3 km e tomar a rodovia. Referência clara à noite em que a Rodovia Presidente Dutra foi fechada pelos protestos de junho em São José dos Campos. Claro que faz referência à lenda da Cobra Grande, comum em todo o país, em geral, esta lenda conta que uma cobra gigantesca vivia embaixo da cidade, saía à noite e comia pessoas. De certa forma, o poeta faz esta junção, a cobra de junho de 2013 saía à noite e era formada de pessoas mas a questão mais importante que ele coloca foram os versos:"a cobra/ tem 2 km/ muitas cabeças/ nenhuma cabeça/ será que pensa?". Sei que o espaço do papel não comporta bem a ideia do poema, mas eu pensei este poema em um movimento sinuoso como uma cobra, mexendo-se entre as ruas, seria interessante para alguém que gosta de fazer vídeos aproveitar a ideia.
          Apesar do título ser Anarcopoesia, o autor poderia ser muito mais anárquico do que realmente foi, em Oração a Boal e Oração do Artista, revela muita sua influência religiosa, mas são boas homenagens aos artistas que fazem de sua arte sua profissão de fé fazendo certa analogia com o futebol de "Neymar" (Disso não gostei porque não sou santista). É uma brincadeira minha, o autor pode citar quem ele entende como artista (lembrando que Paulo Barja é santista, daí vem a citação ao Neymar).
          Gostei muito do "Poemeto não muito Erudito sobre Língua Portuguesa" em que PRB (as iniciais parecem nome de partido político!, acho melhor usar PRBarja), revela muito da sua anarcopoesia e da sua ironia, lembrando que a marca do livro é a ironia, a graça, em que o autor tem sido muito bom, em poemas como "Comentários a uma (Auto) Crítica", "Defesa do Lobo" e outros, mas no poemeto ele foi excelente, a dúvida, claro, ele sabe qual é o uso correto da língua, mas ironiza muito bem o excesso de erudição.
          Na sequência, PRBarja vem com um poema para fazer rir, e muito, em sua homenagem ao poeta Laurindo Rabelo "Quando o Cume dá Poesia" e também no poema "Os Cães também têm suas Prioridades". Só fazendo a referência, Laurindo Rabelo é um poeta considerado o Bocage brasileiro, ou herdeiro direto de Gregório de Matos Guerra, por seus poemas obscenos e pornográficos, hetero e homossexuais. Interessante é notar a diferença de visão dos pederastas da época de meados do século XIX, que eram tratados como parceiros sexuais iguais às prostitutas e os homens de então não se sentiam mais ou menos homens por os procurarem, visão social totalmente diferente deste início de século XXI.
         Paulo Barja faz poesia bem certinha, contrariando o título do livro, para mim, faltou bastante da anarquia sugerida no título. Seus poemas são corretos, trabalhados, versados e pensados mas falta um elemento a mais, algo que torne a sua poesia marcante, falta esta anarquia mais acentuada. PRB é excelente quando se propõe a ironia mas ele parece temer que esta ironia seja ofensiva e acaba contido. Para mim, ele precisava ser mais agressivo, mais terno, mais ácido, mais lírico, ele precisa colocar mais vigor, força, emoção na sua poesia, falta uma pitada de ousadia. Em alguns momentos, eu sentia que o poema ia me apunhalar mas depois passava raspando. Talvez seja um defeito meu querer que o poema me fira como se fosse uma faca, ou me balance como se fosse um terremoto, ou me derreta como se fosse ácido, ou me acaricie como se fosse amor, ou me excite como se fosse sexo. Mas este defeito de querer mais é para dizer que Paulo Barja está neste projeto, fugindo da literatura de cordel, da qual ele é especialista, o livro Anarcopoesia é um bom trabalho, falta um pouquinho a mais de ousadia ou anarquia, que aguardo nos próximos trabalhos.
       É importante ressaltar que Paulo Barja, em outros trabalhos, fala de assuntos da atualidade em sua poesia, há vários assuntos que acontecem e logo ele nos brinda com um poema, lembrando o caso do Pinheirinho, onde rapidamente saiu um cordel sobre a expulsão dos moradores do Pinheirinho. Nisso, ele tem feito um trabalho muito importante e eu até usaria o termo de que ele faz uma Poesia Crônica ou seria uma Crônica Poética? O fato é que ele faz poesia de assuntos cotidianos, de fatos acontecidos, registrando tudo isso, como no dia em que o Papa Bento XVI renunciou e, no mesmo dia, ele fez uma marcha de carnaval (era terça-feira de carnaval, 11/02/2013).
          Paulo Barja também publicou o livro Sonetos, contendo 93 sonetos em que trata de diversos temas, em especial o amor e também de vários outros temas, como homenagens poéticas, ciência, poesia. Em meio a tantos, alguns me chamaram a atenção, "Gata de Alice", "Soneto Comestível", "Soneto Científico" e "Soneto Numérico". Poderia enumerar mais alguns mas como o poeta colocou tantos sonetos juntos, dificultou demais a minha leitura, pois a sua forma engessada não me é agradável.
         Então, fica o mesmo problema que tenho visto em vários livros dos autores que comento, a vontade de publicar, no mesmo livro, uma grande quantidade de poemas. Fica a sugestão de publicar menos poemas e tratar cada livro como uma obra de arte.