quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Poesia no Vale do Paraiba

Residimos em uma região mutante. Todos os dias, novas pessoas chegam dos mais diversos pontos do país e vêm fazer a vida neste vale. Alguns voltam para sua terra natal sem conseguir fixar-se nesta terra das oportunidades. E nesta sopa fervendo no caldeirão formado pelo Vale do Paraíba, todos os ingredientes se misturam e se forma uma cultura sem rumo, sem denominação, onde a sua identidade é a falta de identidade.
Não é fácil encontrar algo idêntico, típico do vale. Alguns falam dos tropeiros, outros do matuto, do pescador, do agricultor, como sendo representantes autênticos do vale.
Mas o verdadeiro representante do Vale do Paraíba, em especial de São José dos Campos, é o migrante.
Aquele que veio das mais diversas partes do Brasil e do mundo e se instalou para trabalhar, veio, quase sempre, com a intenção de voltar, mas aí os filhos nasceram por aqui, e foram ficando. Outros voltaram, muitos ficaram.
E o migrante traz a sua bagagem cultural para ferver no caldeirão do vale.
Que cultura faremos desta miscigenação?

domingo, 19 de agosto de 2007

Para quem o escritor escreve?

Faço-me esta pergunta sempre que alguém compra o meu livro. Compra apenas porque é meu amigo? Ou porque gosta de ler? Tive a experiência de dar o meu livro para os meus irmãos dois meses antes do lançamento e me surpreenderam ao declarar, quase no dia do lançamento que ainda não o haviam lido.
Fizemos mais uma noite de autógrafos ontem em que foram apenas seis pessoas. Pouco, mas caiu uma tempestade enorme no dia e ninguém quis arriscar-se a ir à noite. Fiquei feliz de ainda aparecerem seis pessoas. A vida do escritor é isso. Felizmente não é meu ganha pão.
E continuo me perguntando por que o escritor escreve.
Para mim, a resposta é: escrevo porque preciso. É parecido com aquela frase, navegar é preciso, viver não é preciso. Não é isso. Esta frase quer dizer que navegar é certo, tem rumo, é preciso no sentido de precisão, correção. E viver não é preciso, viver não tem rumo, não tem nada certo, não tem linha de chegada, só tem partida.
Então, escrevo porque preciso, porque necessito. Porque minha cabeça tem um monte de histórias que eu gostaria de ler e ainda não li. Porque sinto que alguém tem de escrever, alguém da minha geração tem de provar que é capaz de fazer isso, alguém na cidade em que vivo tem de mostrar que é possível fazer literatura neste mundo.
Minto, não escrevo para provar nada. Escrevo para mim e quero escrever para as pessoas. Escrevo para enriquecer as pessoas com as minhas palavras, ainda que as pessoas não tenham interesse por leitura. É o paradoxo do escritor.
E escrevo em Português, uma língua falada por duzentos e trinta milhões de pessoas no mundo, das quais oitenta por cento são brasileiros, ou seja, uma língua brasileira. Escrevo porque esta língua única e fascinante é a minha pátria, é o Brasil, é o português e como sou grato por pensar em português com toda a história que esta língua bela carrega.
Escrevo para não morrer o pensamento português, para não morrer a língua portuguesa e sua nuance repleta de perdão, de saudade (que bela palavra que resume tanta esperança e tristeza ao mesmo tempo), de alegria e de amor.
Escrevo porque sinto que o Brasil precisa de alguém que escreva, ainda que não me dêem valor, ainda que não me leiam, ainda que não me encontrem, ainda que se percam os meus livros numa estante sem nunca serem abertos, escrevo para eu entender toda esta história e para fazer o futuro, e, acima de tudo, escrevo para eu ler as histórias que eu gostaria de ouvir do meu mundo, do meu país, da minha língua.
Sei que um dia, estes meus textos cairão nas mãos de pessoas que os usarão como estudo para novos textos e como o galo cantando na madrugado no poema de Fernando Pessoa, os futuros galos poderão continuar existindo e transformando este belo idioma, que é a minha pátria no seu sentido mais amplo.
Vejo as pessoas pegando os meus livros e os tratando como algo importante e não fazem o simples ato de os ler e de ver o quanto as histórias que eles contém são histórias das suas próprias vidas. Como eu gostaria que as pessoas o lessem para que elas mesmas se compreendessem com este gesto.
Mas a maioria não lê. Que língua bela e ingrata é esta que não ensina os seus filhos a compreendê-la. Não é culpa de ninguém, o Brasil ainda é um país muito pobre economicamente, ler ainda é muito caro por aqui, é ato reservado aos mais abastados ou aos mais loucos, ou aos mais persistentes que vão às bibliotecas públicas.
Um dia tudo estará transformado.