sexta-feira, 10 de junho de 2011

NO RELÓGIO DA COLINA

     No Relógio da Colina é um livro bem escrito, uma história articulada sem dar grandes sustos no leitor, em que o autor ainda reserva uma grande surpresa no último capítulo com a intenção de fechar a história com chave de ouro. Para mim, soou como um romance turístico, ou um policial incompleto.
     Tem todos os ingredientes perfeitos para um romance adolescente, há o bom moço, ou príncipe encantado, aquele cara capaz de resolver problemas fantásticos, sobe rapidamente na vida.
     Há a mocinha linda, branca, cabelos pretos e olhos claros, maravilhosa que, no momento em que o mocinho a conhece ele sabe que é a paixão da vida dele, é amor à primeira vista. É recíproco para ela.
     Aí passamos para o romance turístico, o autor descreve os dois passando bons momentos juntos em Graz e Viena.

    Depois, vem a parte mais misteriosa, em pouco tempo, questão de horas, o mocinho descobre toda a trama, passa de uma desconfiança para a certeza e a explicação do mistério num clique, como se tudo fosse muito fácil de se conseguir, bastam alguns telefonemas, umas consultas pela internet e pronto, o mistério foi resolvido. E ele é capaz de acusar com todas as provas um dos mais importantes diretores da empresa multinacional.
     Fora isso, algumas partes soam muito inverossíveis como o momento em que o amigo advogado consegue a foto necessária para provar a sabotagem em um carro. O mocinho liga às 18:30 de sexta-feira para o Brasil, com quatro horas a menos, então, às 14:30 no Brasil, para o advogado descobrir onde está o carro acidentado e se ele foi sabotado. E o advogado, que não tem nada para fazer, lógico, não trabalha, estava lá só para isso, em São Paulo, sexta-feira à tarde, não tem trânsito e nem gente mal humorada, aí ele descobre o processo, o fórum, o laudo, o carro e consegue tirar fotos da sabotagem até sábado, seis horas da manhã. É demais. Outra parte é o momento em que a mocinha consegue, com alguns telefonemas, os relatórios de despesas de dois anos da multinacional toda em apenas algumas horas, consegue analisar e descobrir o culpado de pagamentos fantasmas! É uma dupla dinâmica, se os dois trabalhassem para a polícia federal, acabavam com os crimes no Brasil em seis meses.
      Os personagens principais são tão certinhos e tudo acontece tão bem que eu fico pensando como é que tem gente com ideia de fazer maldade neste mundo, porque vai se dar mal. O mocinho não tem nenhum conflito de consciência, apenas a certeza de que ele deve fazer tudo daquele jeito, que é o jeito certo, claro.
      Apesar destes detalhes, o livro funciona muito bem como uma aventura adolescente, um romance rápido para se ler sem entrar em temas duros e cruéis, há um vilão escondido o tempo todo que se revela só no final, em que o mocinho não precisa explicar nada para a polícia, tudo está ali fácil e entendido.
       Então o livro fica só como aventura mesmo. Não é uma literatura profunda e nem reflexiva sobre o mundo industrial e capitalista. É só aventura. Acredito até que esta foi a proposta mesmo do autor, escrever um livro de aventura, apenas isso.