ENTREVISTA PARA O JORNAL “O GRITO” N.23 PUBLICADA EM SETEMBRO / 2009 - "O Grito" é uma publicação cultural editado por Dailor Varela
Qual a matéria prima dos seus contos?
Meus contos falam de situações cotidianas, dos fatos que influenciam a vida, em geral, que escapam ao nosso controle e nos obrigam a tomar as decisões e os rumos, e disso, o caminho que as pessoas seguem. Procuro mostrar o sofrimento de cada um e a influência que a ação de uma pessoa exerce sobre outras pessoas.
O que é escrever para você?
Escrever é uma forma de me manter vivo. É a forma de escapar da mesmice e do peso que a sociedade de consumo exerce sobre a pessoa. Escrevendo eu consigo confrontar a sociedade egoísta e consumista em que vivemos e escapar deste jugo prejudicial à vida. Escrever é pensar e, se penso, existo.
Você pretende estudar a produção poética joseense. Fale sobre isso.
Depois de alguns anos sem produção literária em São José dos Campos, a partir de 2005, começaram a surgir vários livros de poesia publicados por poetas independentes da cidade, sendo um leitor de poesia, comecei a perceber que o trabalho destes poetas não era algo feito sem critério. Comecei a entender que são poetas completos, cheios de experiências literárias válidas, cheios de vigor e que não são compreendidos. Tanto porque as pessoas lêem pouco quanto porque os que lêem, muitas vezes, não se dão ao trabalho de interpretá-los. Vendo a qualidade destes poetas e a quantidade de livros que estão surgindo, comecei a fazer pequenos estudos destas obras mais recentes, surgindo a idéia de publicar um livro mostrando a qualidade destes poetas.
Como você vê a vida cultural em SJC? E a Fundação Cultural?
Vejo a vida cultural mais efervescente hoje do que há alguns anos atrás quando a cidade parecia viver num marasmo. O próprio crescimento populacional trouxe mais gente disposta a batalhar pela cultura e isto é muito bom. Vejo que o debate cultural aumentou e que as pessoas estão se dispondo a fazer cultura.
Vejo que a FCCR faz um trabalho cultural de abrangência ou de massa, ou seja, procura levar o máximo de cultura ao máximo de pessoas mas, ao fazer isso, exclui a criação artística de seu programa, fazendo uma cultura de repetição do que já existe. Falta-lhe dar um passo à frente, ou seja, incentivar a criação artística.
A FCCR, por estar atrelada à prefeitura, infelizmente, vê-se obrigada a seguir as diretrizes políticas da mesma. Penso que ela deveria ter independência política, uma forma de mudar seria desvinculá-la da orientação política do detentor do poder através de eleições diretas para presidente e conselheiros da FCCR.
Quais os seus autores nacionais em prosa preferidos?
Machado de Assis continua o grande prosador brasileiro até hoje. Luís Fernando Veríssimo, Marcelo Rubens Paiva.
Você acha que a internet mexeu com seu processo criativo?
Ajudou porque posso ler muito mais textos e buscar inspiração em fatos que chegam pela internet, mas não alterou o básico do processo criativo, que é a observação do cotidiano e das relações humanas.
Como apareceu na sua vida a vontade de escrever? Existe inspiração para escrever?
Desde criança, sempre gostei muito de ler e de escrever. Todo o trabalho literário atual é a continuação das aulas de Língua Portuguesa que tive na infância, apenas continuei e me aprimorei ao longo do tempo.
Existe inspiração para escrever. Sem inspiração, que é a idéia primeira de um texto, não haverá o texto. O resto é transpiração.
Como é o seu processo de criação literária?
Após ter um idéia para um conto eu o escrevo. Posteriormente, vou lapidando, cortando, aumentando, transformando aquele texto até chegar no ponto em que o considero terminado. Muitas vezes não consigo terminar uma história, então, deixo-a de lado até que surja nova inspiração para continuá-la. E trabalhar tudo de novo. Muitas vezes, uma história começa de um jeito e o resultado final é outra história de tanto que foi trabalhada, mantendo apenas a idéia original.
Você acha que o escritor recebe uma inspiração divina?
Sim, acredito que todos nós recebemos nossas inspirações divinas, mas cada um desenvolve este inspiração de um jeito.
Fale um pouco sobre você. Quem é Fernando Scarpel.
Sou contador de profissão e um escritor por Paixão. Pai de Cibele, Lorena e Eric, casado com Miriam. Gosto de lembrar disso porque sei da importância destas pessoas em minha vida. Também gosto de saber que venho de uma família de imigrantes italianos que está nesta cidade há mais de um século. Gosto de ler e escrever, curto família, amigos e tento sempre encontrar o que há de bom em cada pessoa. Gosto da profissão em que atuo, gosto de ouvir as pessoas porque são a matéria prima das minhas histórias. Estudei em escola pública no primário, estudei no extinto colégio Olavo Bilac na adolescência e formei-me em Ciências Econômicas na Univap. Publiquei dois livros de contos: “Hoje tem Espetáculo” e “Pelo Adão no Paraíso”. Estou trabalhando em novos livros que serão publicados no futuro.
Um comentário:
blablabal
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