tag:blogger.com,1999:blog-84867804475328979932024-02-02T02:20:43.111-03:00FALANDO DE LIVROS DOS AUTORES DO VALEUnknownnoreply@blogger.comBlogger39125tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-55874185786154907242019-12-19T17:07:00.003-03:002019-12-19T17:24:06.640-03:00Luiz Ruffato - O Verão TardioEsta obra de Luiz Ruffato é provocadora, no mínimo. Quando iniciei a leitura, achei muito difícil e complicada, não porque as palavras eram difíceis, nem porque o texto era de difícil compreensão. Porque o autor vai descrevendo o dia inteiro do personagem, iniciando-se quando ele chega em Cataguases-MG. Aí ele descreve literalmente o que personagem faz, faz as necessidades, sente calor o tempo todo, anda para lá e para cá, o que ele vê, mas não descreve o que ele sente, obrigando o leitor a decifrá-lo.<br />
Ao contar exatamente como é o dia do protagonista, o autor se aproxima do Ulisses de Joyce. Este descreve um dia na vida de Leopold Blum, aquele descreve 4 dias na vida de Oséias.<br />
<br />
O protagonista não tem nada a acrescentar. Uma pessoa desinteressante e medíocre, que não construiu nada interessante, não guardou dinheiro, não manteve relacionamentos, atormentado pela situação familiar nunca resolvida. Pequeno, careca, que se define como um fracassado, que perdeu o contato com o filho e com a ex-esposa. Cheio de manias, como a insistência de "limpar os óculos com a fralda da camisa".<br />
<br />
No entanto, está em uma jornada particular para dentro do lugar de onde saiu, como se retornando à sua origem para tentar entender o que aconteceu na sua vida. Ao visitar os irmãos mostra a miséria humana em cada um deles, como miséria humana em cada extrato social brasileiro.<br />
<br />
A irmã Rosana, primeira a ser visitada, classe média alta, vive um casamento sem amor, cujo marido é conhecido por negócios ilegais, cuja filha é uma mulher solitária. O mais pungente é a solidão das pessoas que vivem na mesma casa e não se encontram. O marido sempre fora, a irmã, sempre fora, a filha, sempre fora, às vezes se encontram na casa. Cada um com sua vida miserável de amor, solitários, que não acolhem nem um ao outro e não se importam um com o outro. Em que algum consumo de sonhos ainda faz acontecer, a viagem anual para Nova York, a academia, a amante, os carros novos.<br />
<br />
Convidado a se retirar da casa da irmã, vai para o Hotel. O protagonista circula pela cidade, lembra dos amigos, um se tornou prefeito, outro o empresário que vive às custas dos gastos públicos, encontra um ex-professor de artes, aposentado, homossexual, acabado, sem amor, enganado e vivendo a própria solidão.<br />
<br />
Na casa da irmã mais pobre, mostra como é a classe baixa, com filhos fazendo outros filhos, largando tudo para a mãe cuidar, com pouco dinheiro e fazendo muitas coisas ao mesmo tempo para juntar alguma coisa, com marido bêbado que nunca tem emprego fixo. Onde ela é a autêntica matriarca, com todos girando em torno dela.<br />
<br />
Enfim, acaba encontrando o irmão mais velho, este ficou rico com fábrica de móveis, comprou maquinário na Itália, mas também se mostra solitário ao ser encontrado no sábado, refugiado no sítio.<br />
<br />
Chama atenção a falta de entrosamento entre os irmãos, a falta de diálogo, a dificuldade de acolher um ao outro, o desinteresse pelo que o outro faz. Um que se vai e nunca mais retorna, outro que está na mesma cidade e não se visitam, a falta de diálogo é peça importante da história. Isto nos leva à reflexão atual sobre a falta de diálogo entre partes distantes que se intitulam direita e esquerda e nunca conseguem ouvir um ao outro. Parece que o autor quer nos mostrar que a origem dos problemas atuais do Brasil se encontra na destruição dos laços de cuidados entre as pessoas, no desinteresse de um pelo outro, cada um vivendo a sua própria vida solitária e desimportante para o outro. Fica claro isso nos momentos raros em que o protagonista encontra um dos irmãos, uma ou outra pergunta sobre como está passando, a dificuldade de se abrir ao outro, o desinteresse sobre o que cada um é. A superficialidade dos relacionamentos. Em nenhum momento perguntam ao outro pela saúde de cada um (Um mínimo de interesse).<br />
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Mas há outros aspectos. A cidade de Cataguases também é um pouco do que é o Brasil. Quente, com muita gente andando pela rua, com o passado sendo constantemente destruído, com a cidade em eterna construção e reconstrução, com as pessoas se tornando evangélicas neopentecostais. Com as drogas e prostituição fazendo parte da vida, com a violência crescente. Com a classe média sonhando com os Estados Unidos, os ricos dando suas migalhas ao pobres, e os pobres tentando sobreviver. O rio que se transforma em esgoto denunciando a falta de saneamento básico.<br />
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Um Brasil interessante e contraditório, que, ao mesmo tempo que cresce economicamente e se transforma como a cidade de Cataguases, também constrói a ruína da sociedade, mostrada na ruína interior em que vivem os personagens pois não construíram em cima do amor, mas em cima da indiferença.<br />
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O que me leva a entender que o autor deseja mostrar que um dos grandes males da sociedade é a indiferença, que vai de encontro a algo que sempre coloco em discussão há alguns anos. A única saída para a sociedade é a alteridade, é a vida em contato um com o outro, contato íntimo e profundo.<br />
<br />
Para alguns, o livro pode soar extremamente depressivo, para outros, difícil, para mim, soou tudo isso e, mesmo após o trágico final, em que o protagonista se enfia na mata para morrer, como se desejasse retornar ao útero da mãe no único lugar em que ela foi feliz. Ainda consigo enxergar que o livro é um grito de desespero para uma sociedade que está se matando pela indiferença e pelo consumo.<br />
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Aí reside a esperança, pois, é nas ruínas que reside o substrato do novo. Lembrando de Deleuze ou de Guatari, agora tenho dúvida. Resta-nos buscar este novo nos relacionamentos, nas dores e alegrias compartilhadas.<br />
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<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-72991681961615380172018-09-17T19:59:00.001-03:002018-09-17T20:16:45.961-03:00Olhar de Cão de Francisco José Ramires Em 13/09/2018, Francisco José Ramires lançou "Olhar de Cão" na Literacia.<br />
É interessante o esforço do autor de olhar a sua vida a partir de outro ponto de vista, no caso, do ponto de vista de seu cão. De certa forma é uma tentativa de compreender o próprio mundo e suas dificuldades, apreensões e alegrias, colocando-se do lado de fora da sua vivência.<br />
A partir deste ponto de vista, o autor nos traz o seu cotidiano de maneira lírica e agradável, levando-nos a uma reflexão sobre o que uma outra pessoa diria se apenas acompanhasse a nossa rotina sem poder<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqb8T8TcWMmgLmLEErg-Y4EEBXmzLJrL54PaCABIUGYR00uZv2sFaTVD1_3MUQjSFgnT8k0qvToUXB9vQtZFycUncyJjsNUwQWYbV3dmWpIdheQ_C2g7VT9V26ZROYWJ6_ouFpoVzamzKn/s1600/olhar+de+cao.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1071" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqb8T8TcWMmgLmLEErg-Y4EEBXmzLJrL54PaCABIUGYR00uZv2sFaTVD1_3MUQjSFgnT8k0qvToUXB9vQtZFycUncyJjsNUwQWYbV3dmWpIdheQ_C2g7VT9V26ZROYWJ6_ouFpoVzamzKn/s320/olhar+de+cao.png" width="214" /></a></div>
interferir em nossas decisões, parecendo muito como se assistíssemos um novela diária. Nesta "novela" senti falta da manifestação do "cão" sobre o que sentiu quando a velhinha de rodinhas não estava mais presente no apartamento. Confesso que vim acompanhando esta personagem coadjuvante, aguardando mesmo o que o cachorrinho diria sobre a partida definitiva dela.<br />
Claro que ao dar voz a seu cão, o autor dá voz a si mesmo, fazendo com que estas crônicas tornem-se ao longo deste livro uma grande declaração de amor do autor pela vida, pela mãe, pelo cãozinho e, principalmente pela sua companheira. Se faltou um mergulho maior nos sentimentos mais profundos, obscuros e complexos do mesmo, compreende-se que a intenção é dar ao leitor um texto leve, agradável e despreocupado como se fosse mesmo a vida do seu cão, que só conhece o presente, não entende de passado e de futuro.<br />
O livro é uma reflexão poética sobre o cotidiano e sua beleza, sobre o mundo e suas restrições, e, principalmente, sobre o amor que se encontra e permeia a rotina das coisas simples da vida.<br />
O que me chamou bastante atenção é a forma poética presente em todo o livro, em todas as pequenas crônicas encontramos este lirismo, por exemplo, na página 71, crônica 41: "Meu território é sagrado, de vestíbulo cravado na entrada, a separar mundos vários, sagrado e profano. Assim sendo, as idas e vindas de pessoas novas requerem rituais de iniciação.", e gostei muito das disfarçadas (ou não?) declarações de amor pela dona do pedaço como na crônica 29: "Minha dona porta sinfonias. E eu tenho a magia de ouvi-las. Aonde quer que ela vá, suas harmonias preparam os caminhos, afastam pedras, abrem flores.", é poesia em forma de crônica.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-74564148546982979562017-09-17T09:12:00.003-03:002017-09-17T09:12:41.496-03:00Festivais de LIteratura Neste exato momento está acontecendo a FLIM - Festa Lítero-musical do Parque Vicentina Aranha e muitas reflexões surgem do evento.<br />
A primeira reflexão é que os autores de São José dos Campos que quiseram ter suas obras expostas na Flim tiveram de participar de um sorteio porque não havia espaço para todos. Os sorteados ainda teriam de pagar R$ 60,00 para ter suas obras expostas e ter o direito de vendê-las durante a Flim.<br />
A segunda questão é a participação de músicos consagrados como Antônio Nóbrega e Chico César.<br />
Para mim, estes eventos deveriam superar a questão da inserção da literatura no mercado de livros, são coisas tão distintas e estes eventos insistem em tratar a literatura como venda de livros segundo a ótica predominante do capitalismo em que tudo tem de ser mercadoria.<br />
A literatura não é mercadoria, não consegue ser mercadoria porque é uma manifestação que exige uma complexidade maior de compreensão do consumidor. E enquanto os autores forem tratados desta forma, como pessoas que devem inserir-se no mercado (e este "mercado" é uma instituição nebulosa), os autores terão sempre a dificuldade de saber como se faz isso e podem sujeitar-se a primeira questão que coloquei: a de pagar para ter o seu produto exibido. O erro será sempre pensar que o seu trabalho autoral é um produto. Livro não é produto, livro é autoria, é pensamento, é reflexão. Quanto o livro se torna produto, passa a ser apenas um objeto a ser adquirido e deixa de ser autoria, pensamento e reflexão. Tornando-se objeto, ele é consumido no momento em que é comprado e não no momento em que é lido.<br />
Penso que estes organizadores deveriam pensar em convidar, pode até ser por edital, pois talvez não haja espaço para tanta gente, os autores da cidade onde a festa se realiza para expor seus livros e deveria comprar os livros para que fossem distribuídos gratuitamente entre os leitores interessados. O leitor chega na mesa em que o autor está, conversa com ele, interessa-se pelo assunto que foi proposto e leva o exemplar do livro do seu interesse que será consumido no ato da leitura do mesmo e não pela compra.<br />
Que se pague por exemplo, R$ 10,00 por livro e permita-se ao autor entregar 100 livros durante a festa, que se tenha 50 autores e 5.000 livros sejam distribuídos gastando-se R$ 50.000,00 com os livros.<br />
Que se permita aos músicos se apresentar recebendo cachê adequado, por exemplo, R$ 1.000,00 por apresentação e que se tenha 10 músicos da cidade em palco durante os dias do evento.<br />
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Que se traga autores renomados, e músicos consagrados para que este se misturem e troquem experiências com os autores e músicos da cidade.<br />
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Isso para mim seria uma festa lítero-musical.<br />
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O que vejo é o uso dos autores como chamariz para um público que se pensa superior intelectualmente num evento feito para que a cidade se aproxime de um modelo de capital, onde os organizadores pensam em atrair público para justificar o uso de dinheiro público em organização social que faz o papel de secretaria de cultura ou fundação cultural, desvinculando o evento da sua cidade porque este evento poderia ocorrer aqui em São José dos Campos, em Jacareí, Taubaté, São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto ou qualquer outra cidade pois não tem a cara e nem a participação dos autores e músicos da cidade, mas tem a cara e a participação de autores e músicos de fora da cidade que poderiam estar em qualquer lugar do país.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-69592785671280333232017-03-23T08:56:00.002-03:002017-03-23T17:27:25.662-03:00JURO QUE TENTEI - FABRÍCIO CUNHA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2oBOOYnG4ZLTDXMBA9OOLLq9TSkBBZVtJMoS8-kN1ASps12lqHoW6uRdFssMvjjPlplFSjs8svXU8dZrNPqyQlJ5Bt3kGlOTN8P4o2CZgUZMyiCLbfm-2-swEnzOBr7ShBd4c2aojWYwh/s1600/texto001jqt.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2oBOOYnG4ZLTDXMBA9OOLLq9TSkBBZVtJMoS8-kN1ASps12lqHoW6uRdFssMvjjPlplFSjs8svXU8dZrNPqyQlJ5Bt3kGlOTN8P4o2CZgUZMyiCLbfm-2-swEnzOBr7ShBd4c2aojWYwh/s320/texto001jqt.jpg" width="320" /></a> Ao ler este livro de Fabrício Cunha, admito que fiquei transitando entre gostar de algumas coisas e não gostar de uma forma mais generalizada. O autor sabe como escrever bem e tem seu estilo bastante marcante no livro. Ele intercala uma sequência de frases curtas em parágrafos enxutos onde vai construindo o seu pensamento para, depois, vir com um parágrafo um pouco mais longo, entrecortado, isto torna o texto ágil e interessante, um exemplo é o início do conto "O Primeiro Chicabon a Gente Nunca Esquece":<br />
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Percebe-se a sequência de frases curtas para formar o pensamento do leitor na direção do clima que o autor cria com o sentido de tentar prender a atenção até o desfecho.<br />
Este formato ocorre no livro todo. O autor não constrói frases longas, sua intenção é criar uma leitura rápida, isenta de formas requintadas e de dificuldades semânticas. Vai sempre direto ao assunto, sem floreios.<br />
Este estilo funcionou muito bem nos textos curtos, de duas a seis páginas, em que se esperava uma rápida solução para a história. Com isso, percebe-se que houve uma dificuldade em construir uma história longa e o estilo não funcionou para a única história longa, o conto "Ela, era ela, é ela", pois acabou por ser de uma leitura previsível e cansativa, uma vez que se advinha a história na medida em que vai acontecendo e que não há uma construção forte dos personagens.<br />
Então, a forma que o autor propõe tem uma leitura aprazível nos textos curtos pois seu estilo é bom.funciona para estes textos.<br />
Aí entro na questão do tema do livro que e a busca pelo sexo oposto e, deste ponto de vista, fiquei um pouco decepcionado e em dúvida quanto à intenção do autor em mostrar as questões emocionais (subtítulo do livro) de forma tão superficial, reduzindo o relacionamento às questões sexuais. Gosto de pensar que o autor de um livro não é o seu personagem principal, o autor cria um personagem e trabalha com ele, ainda que esteja escrevendo em primeira pessoa. Este personagem protagonista do livro parece que está eternamente cheio de testosterona, fazendo sexo com todas as mulheres que aparecem pela frente.<br />
Preciso dizer que os contos deste livro me passaram uma visão onde os relacionamentos estão cercados de machismo. as personagens femininas são mostradas apenas como objetos do prazer do protagonista, elas não tem voz, não tem vez, e vivem como se estivessem em outro mundo, inacessível para o homem, fazendo-se a devida exceção para o momento do sexo que passa a ser o elo entre os mundos masculino e feminino. Não há muitos sentimentos, a vida se resume a busca do prazer, a tentar um momento (ou vários) de sexo, a perfomance é mais importante do que a intimidade. Senti-me dentro de uma propaganda de cerveja de milho transgênico, numa praia em que os homens estão atrás das mulheres bonitas e acham que bebendo vão conquistar o sexo desejado. Nota-se a importância do aspecto físico, não basta ser mulher, tem de ser bonita, não basta ser bonita, tem de aceitar ser objeto de prazer. O relacionamento é um consumo, assim como os produtos de um supermercado.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipsZQV3Ftm7cm_ePOHYT2O8LHgCa5UQA27pe_yc_Q4bODCU2_EhT7j74JjviCip4VRWPlGwyKciDLx0laNbXWJWtPxnief_5HsgRI0M4eUhqrWv8SuxhdMDE8ALw5m103PXec7AufdKCIt/s1600/001-juroquetentei.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipsZQV3Ftm7cm_ePOHYT2O8LHgCa5UQA27pe_yc_Q4bODCU2_EhT7j74JjviCip4VRWPlGwyKciDLx0laNbXWJWtPxnief_5HsgRI0M4eUhqrWv8SuxhdMDE8ALw5m103PXec7AufdKCIt/s320/001-juroquetentei.jpg" width="209" /></a></div>
A minha dúvida é: o autor pensa assim ou está, com o livro, mostrando o seu lado de crítica social. Parece-me que ele está dizendo que a sociedade é assim mas não deveria ser machista, utilitarista (transforma pessoas em objeto), rasa nos relacionamentos, egoísta. Ao contrário, deveria ser mais profunda, solidária, não consumista, onde as pessoas deveriam ser vistas no todo, considerando as suas tristezas, alegrias, conquistas pessoais e coletivas, sentimentos.<br />
Ao ler o livro, espero que o leitor considere as questões acima e não tome a vida mostrada pelo autor como a correta.<br />
Se o protagonista é um "ferrado emocional", diria que mereceu ser assim ao considerar a forma como enxerga as pessoas do sexo oposto. A visão que o protagonista dos contos oferece é justamente aquela que se tenta combater mas que é real, está presente na sociedade e influencia a todos. Sou contra esta visão machista, misógina, sexista, consumista, egoísta. Desejo que as pessoas sejam sempre mais solidárias, sociais, coletivas, acolhedoras, não consumistas.<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-34693914774345875672016-09-01T17:11:00.001-03:002016-09-01T17:11:43.620-03:00O PRETÉRITO DAS HORAS DE JORGE PESSOTO<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> <b> </b></span></div>
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span><span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Na medida em que eu avançei na leitura do livro, senti-me</span><span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;"> um arqueólogo, pois </span><span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif; text-align: justify;">saí do século vinte e um e entrei por um túnel do tempo no fim do século dezenove e início do século vinte, onde percorri as ruas de uma pequena cidade perdida do Vale do Paraíba (poderia ser São José dos Campos antes da industrialização), senti o seu ritmo de vida, entrei nas suas casas onde encontrei o interior intacto, da mesma forma que fora deixado pelos habitantes, que, aparentemente, a teriam abandonado. Então, vi o baú e o abri, também fiz o mesmo com as gavetas. Encontrei os pequenos objetos e os pensamentos sobre a vida que fora ali vivida.</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="color: #47423a;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUFuIi1g7bgZWRx6jrQtY_Uc72UFb-yvVtJPEUExBUZ2dKlx38XHD2ZpNOGCH_dcq-TQKa253Pz9k0WbJ1BflbnY5cwztxsG4oMdwNyDSEdPD34FmYUjUMuDxCr9NH1JAczDMOzkHd_iOw/s1600/capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUFuIi1g7bgZWRx6jrQtY_Uc72UFb-yvVtJPEUExBUZ2dKlx38XHD2ZpNOGCH_dcq-TQKa253Pz9k0WbJ1BflbnY5cwztxsG4oMdwNyDSEdPD34FmYUjUMuDxCr9NH1JAczDMOzkHd_iOw/s320/capa.jpg" width="216" /></a><span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span><span style="color: #47423a; text-align: start;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os aspectos preponderantes do livro são a saudade, o tédio, a passagem do tempo, o passado. Neste sentido, a leitura do livro é bastante interessante mas demanda tempo e reflexão, primeiro porque os poemas são longos, de versos longos, dando um ritmo lento ao livro, segundo, porque é preciso pensar em cada cena que se vai projetando do livro para a cabeça.</span></span><span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> </span><span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Este tempo mais lento de leitura remete ao mesmo momento temporal em que encontrei esta vila, em que a vida tinha este ritmo mais lento. Desta forma, os poemas são reflexo do tema proposto no livro e isso fez dele uma obra bastante coesa.</span><br />
<span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="color: #47423a;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Fiquei intrigado. Haverá outros livros em que o tempo será trazido para o presente e o ritmo dos poemas também será mais acelerado? Não sei nem se é a intenção do poeta fazer um outro livro neste sentido mas fica a ideia de um livro de São José dos Campos industrializada, onde o ritmo dos seus habitantes é acelerado e, praticamente, nem tem mais tempo para sentir o tédio das catorze horas, tão insistentemente vivo no livro.</span></span></div>
<span style="color: #47423a;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="color: #47423a;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> No entanto, como não fiz a leitura toda de uma só vez, pois tenho o costume de ler alguns poemas num dia, depois outros no outro dia e assim por diante, muitas vezes tive a sensação de já ter lido o poema e, algumas vezes, pareceu-me que li o mesmo poema com as palavras em ordem trocada. Ou seja, senti algumas vezes que havia um excesso de repetição no tema e nas palavras utilizadas, Cortar alguns poemas do livro teria trazido benefício para o leitor.</span></span></div>
<span style="color: #47423a;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="color: #47423a;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Algumas palavras que se repetiram e foram mais marcantes foram "saudade", "cidadela" e "tédio". Em um poema, li a palavra "cidadela" duas vezes, não que isso seja ruim ou bom, apenas percebi que esta figura, esta metáfora é importante para o poeta, fiquei pensando e fica a pergunta: Qual é a questão da cidadela? Por quê cidadela? Porque, para mim, cidadela tem outro significado, conforme o dicionário: <span style="color: #222222;"> fortaleza situada em lugar estratégico, que domina e protege uma cidade. Isso me confundiu porque penso que o poeta queria dizer cidade pequena ou talvez uma cidade perdida, mas na minha cabeça cidadela tem sentido militar. No livro, pode até ter o sentido de um local de resistência ao mundo caótico que vivemos atualmente.</span></span></span><br />
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></span></div>
<span style="color: #47423a;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> O Vale do Paraíba é um tema importante para o autor. Há o questionamento do que foi o Vale, do que é hoje e, dentro deste tema, o autor reflete se teria este vale uma alma própria vinda de seu passado e se isto nos quer dizer alguma coisa. Teria uma forma de ver e viver o mundo típica e característica do Vale do Paraíba, única, distinta de todas as outras formas de ver e viver o mundo? Um jeito perdido no tempo em algum momento? Para ilustrar, trouxe este trecho do poema A Espera.</span></span><br />
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ9cnzLaUUXcgN93FoZ4Q1CjRuio7TyvzzrRriPXrAlFw995Ndi4l1FzQj17yLnR2VSuN5ZlsKF5kCAQxOQcSrX6EA5N4kqLMG7IhWLINnBn0-SUB78IEQBYpokZvw8ZVyYstT5WjGaJNP/s1600/ESPERA.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="513" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ9cnzLaUUXcgN93FoZ4Q1CjRuio7TyvzzrRriPXrAlFw995Ndi4l1FzQj17yLnR2VSuN5ZlsKF5kCAQxOQcSrX6EA5N4kqLMG7IhWLINnBn0-SUB78IEQBYpokZvw8ZVyYstT5WjGaJNP/s640/ESPERA.png" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trecho do poema: A Espera</td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<span style="color: #47423a;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Outra questão que trago é da distância que os poemas tem da vida atual da sociedade. Foi proposital, creio, escrever o livro desta forma, como contraponto ao ritmo da sociedade que mau tem tempo para o tédio ou para o ócio. Mas só o poeta pode esclarecer melhor as suas intenções ao propor o livro.</span></span><br />
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></span><br />
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<br />
<span style="color: #47423a;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_hdoBJQdVaOtLp-2qNcFQoA0L-UnNRwCKX33-bE4k-9_Ftd62zzm2czDRzXqdKpq6c0wwck8hfwU9VxB17M62Xz9TZo53S597V6Ym1Z0zxcF4CYz6R6zjUyq7D9OcLOGnN25lsiB4U6L9/s1600/exilio-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_hdoBJQdVaOtLp-2qNcFQoA0L-UnNRwCKX33-bE4k-9_Ftd62zzm2czDRzXqdKpq6c0wwck8hfwU9VxB17M62Xz9TZo53S597V6Ym1Z0zxcF4CYz6R6zjUyq7D9OcLOGnN25lsiB4U6L9/s640/exilio-1.jpg" width="364" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trecho final de Exílio (Banhado)</td></tr>
</tbody></table>
<span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Sobre a questão do tempo passado e do tempo presente, do progresso que chega para alterar a forma de viver, temos este belíssimo trecho do poema Exílio (Banhado): </span><br />
<span style="color: #47423a; font-family: arial, helvetica, sans-serif;">Este poema é também um bom exemplo do ritmo da poesia de Jorge Pessoto, é possível sentir a lentidão do tempo até o momento em que o progresso chega e industrializa a cidade, transforma aquele mundo anterior, traduzindo bem o sentimento do poeta em relação a esta questão da perda de um jeito de viver único. E, quando percebemos, tudo foi perdido, e o passado é um estorvo no mundo atual feito somente de presente.</span></div>
<span style="color: #47423a;">
</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-32819662979549167572015-10-26T17:00:00.001-02:002015-10-26T17:15:02.170-02:00Sussurros da Meia Noite, publicação do Vale Fantástico Foi uma boa surpresa o livro <b>Sussurros da Meia-Noite</b>, lançado por quatro autores joseenses, que se intitularam Vale Fantástico, <b>Daniel Pedrosa</b>, <b>Juliana Velonessi</b>, <b>Leandro Reis</b> e <b>Stefânia Andrade</b>. Publicado pela Editora Pandorga.<br />
Um livro composto de 10 contos de terror, muito bem elaborado que demonstra o cuidado da equipe editorial de fazer um bom produto para o mercado de livros e ele é isso mesmo, veio para ser bom e conseguiu. Gostei de todas as histórias, cada uma com a característica do seu autor, e todas no mesmo nível, não há histórias ruins. Ponto positivo para os autores e para a equipe editorial.<br />
Eu gostaria de falar de cada história, dizer o que senti em cada uma e não sei se conseguirei ser preciso o suficiente. Vou tentar.<br />
O que eu gostei muito nas histórias é o uso de paisagens daqui do Vale do Paraíba, daqui de São José dos Campos, ainda que isto não esteja explícito porque a ideia, acredito, era fazer um livro que pudesse ser lido em qualquer lugar, mas as referências estão lá.<br />
O trabalho de edição foi muito bom, uma bonita capa e me diverti com o prefácio e com a escala de medo, um boa ideia.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjekDlGqgan5qLkWGSq_p9EVvC0D_AkGfWz_fqFgNZBiaEVuFDZuUCYC6qYSjDfTNqahsvXS1gWfIQxd2Tyxc8bTN66T-rmUF2MmkoSoTpiwRhb2NkkqFw1oZh2MyVOln5q5EGs46gPgm3z/s1600/foto+sussurros.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjekDlGqgan5qLkWGSq_p9EVvC0D_AkGfWz_fqFgNZBiaEVuFDZuUCYC6qYSjDfTNqahsvXS1gWfIQxd2Tyxc8bTN66T-rmUF2MmkoSoTpiwRhb2NkkqFw1oZh2MyVOln5q5EGs46gPgm3z/s320/foto+sussurros.jpg" width="210" /></a> Pude notar que em quase todos os contos, as referências do cinema e de outros personagens dos filmes de terror estão presentes. Por exemplo, criaturas negras sobrevoando as pessoas lembrando os dementadores do filme do Harry Potter, bonecas que provocam a morte, crianças que parecem bonecas que matam as pessoas da família, referência ao boneco "Chuck", fantasmas, espíritos malignos, bruxas. Deste ponto de vista podemos entender o trabalho editorial. Fazer um trabalho com bons autores, e todos são, indiscutivelmente, mas um trabalho que não seja difícil para o leitor médio compreender as referências porque ele precisa tê-las para entender os contos e assimilá-los bem.<br />
Talvez por isso, quando os autores conseguiram fugir um pouco destas referências, fizeram os melhores contos, destacando para cada um deles os seguintes: "<i><b>A Pedra da Caveira</b>"</i> de Daniel Pedrosa por relacionar histórias de maus-tratos a escravos com o terror em uma vila, destacando a feliz ideia de colocar a protagonista descendente de uma família que combatia os maus tratos aos escravos. "<i><b>Insônia</b>" </i>de Leandro Reis, por trabalhar muito bem com a ideia de loucura do personagem, "<i><b>Tormento</b></i>" de Stefânia Andrade por trazer o mal como algo de dentro da protagonista, como algo que era imperdoável para si mesma, uma ótima colocação. "<b><i>O Broche Azul</i></b>" de Juliana Velonessi, sendo o único conto desta autora, não me permitiu fazer comparações com outros escritos dela, mas achei ótimo também.<br />
Por conta disso, o livro é uma ótima diversão. Recomendo a quem gosta de um bons textos. E espero que não levem a sério, são só histórias criadas para assustar, nada é verdade... será?<br />
Cada um dos autores tem uma característica própria, Daniel Pedrosa gosta de trabalhar mais a ação, Leandro Reis procura um texto mais detalhado, e com Stefânia Andrade, fazem um passeio maior pela mente e consciência, Juliana Velonessi, conta uma boa história envolvendo muitos personagens.<br />
Lendo este livro e retornando ao livro que comentei anteriormente "Niffilins" de Wilson R,.não posso deixar de pensar neste viés mercadológico que se forma aqui em São José dos Campos, vejo com bons olhos que é algo crescente pelos bons textos sendo publicados. Defendo que devemos mesmo formar um mercado consumidor de livros de escritores joseenses e vejo que estes autores, persistindo, com certeza estão conseguindo construir este caminho.<br />
E, mesmo defendendo o mercado consumidor, sei que é este também o entrave para fazer uma literatura de ideias novas, Escrevendo para o mercado, consegue-me mais leitores, mas também reduz-se a possibilidade de inovação e eu gostaria de ver mais discussão e embate dentro da literatura, mais defesas de ideias e de conceitos, mais inovação. Ainda falta isso para nós. Continua valendo o que eu disse de ser um leitor chato e que quer ser chacoalhado pelo livro.<br />
Apesar de serem boas histórias e ótimos textos, não senti que são livros que me acrescentam novas ideias e perspectivas. ainda quero, neste caso, uma história de terror que me dê medo de ler a próxima página.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-84001715542997249962015-10-01T11:21:00.001-03:002015-10-01T11:21:15.870-03:00A Literatura de Entretenimento de Wilson R. Recentemente, li o livro "Niffilins, Os Filhos de Deus" do autor joseense Wilson R., presidente da Academia Joseense de Letras e gostei muito do livro.<br />
Como um livro de entretenimento é realmente muito bom de se ler, e não deve nada para qualquer "Best-seller" internacional, ouso dizer que seria muito fácil uma produção "Hollywoodiana" em cima da história. O autor tem muitos méritos, Wilson R. sabe escrever um bom texto, que prende o leitor, aproveita-se muito bem de um sem número de conhecimentos superficiais, em especial aqueles que uma pessoa formada na civilização ocidental possui como noções de antigas civilizações, conhecimentos bíblicos e um pouco de conhecimento científico. Aliado a isso, ele inclui algumas noções de seres e divindades menos conhecidos de várias mitologias.<br />
Desta forma, constrói seu livro contando com muitos estereótipos para a história e para os personagens, como, por exemplo, a existência de um escolhido capaz de fazer coisas que os outros não conseguem, e o fato de que todos os envolvidos sabem que o escolhido é importante e teve sua vida orientada, acompanhada e algumas vezes manipulada pelos seres e divindades. Temos os demônios todos com o estereótipo de demônio, com chifres, unhas grandes, peludos e feios; o anjo como deve ser um anjo, alto, louro, belo, vestindo túnica azul clara; a mulher do escolhido como extremamente bela e por aí vai.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrandBM_tYz6WS2F52pxFazCad8lRS_f-y0cI2wwP17QbbnjW_thbFf2QU5e1aTppCOQIiWksh6j8VmsrDOlxxOCqX2VUNSmRol7qOTjnPEpkQpLBJZgEuxJHUpeGWaeuRG7EPZIpizrOI/s1600/Niffilins2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrandBM_tYz6WS2F52pxFazCad8lRS_f-y0cI2wwP17QbbnjW_thbFf2QU5e1aTppCOQIiWksh6j8VmsrDOlxxOCqX2VUNSmRol7qOTjnPEpkQpLBJZgEuxJHUpeGWaeuRG7EPZIpizrOI/s320/Niffilins2.jpg" width="226" /></a></div>
O autor soube lidar com o clássico estilo de livro de ação, a história vai tomando o rumo e se direcionando para o "grand finale" no entanto, faltou um pouco mais de acentuação do ponto alto do livro que seria a esperada guerra entre os habitantes da Terra e os Niffilins, houve este ponto, mas creio que a dificuldade de descrever tirou um pouco da emoção deste momento.<br />
Wilson R., portanto, vem se dedicando a esta literatura do entretenimento com elementos fantásticos, a exemplo do que faz também outros autores da cidade como, por exemplo, Leandro Reis, também um excelente autor. Acredito e desejo mesmo que ele consiga muito sucesso com a sua literatura.<br />
Este tipo de escrita funciona, para a literatura, como um filme de ação do tipo "Os Vingadores" funciona para o cinema, ou seja, a gente curte (assiste ou lê) e fica satisfeito porque aconteceu tudo do jeito que tinha de ser, os vilões são superados e vencidos apesar de todo o poder de destruir o mundo um milhão de vezes que tem, os mocinhos vencem sempre mesmo estando em tremenda desvantagem afinal têm o que precisam para vencer, e a gente tem a certeza de que o mundo continua com o mesmo dualismo, as coisas no mesmo lugar. Assim, o cérebro não precisa pensar demais para aceitar que é tudo sempre a mesma coisa, o mundo é o mesmo, os estereótipos continuam firmes e fortes.<br />
E é isto que justamente me incomoda como leitor. São filmes e livros que não me acrescentam, não me tiram da mesmice, dão-me satisfação e prazer mas não me levam a ter uma outra atitude. Mas eu sou um leitor chato, que quer ser chacoalhado, que quer ver as minhas bases balançando, que quer ver uma escrita diferente na literatura e quer a literatura como forma de transformação do mundo e das pessoas, quer a literatura participando ativamente da construção de um mundo melhor, de mais aceitação e menos discriminação, de mais bondade e menos intolerância, de mais compreensão e menos ignorância. Tudo isso não encontrei no livro de Wilson R.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-52094169610608452062015-07-21T23:43:00.001-03:002015-07-24T17:22:22.215-03:00Anarcopoesia de Paulo Roxo Barja <a href="http://paulobarja.blogspot.com.br/">http://paulobarja.blogspot.com.br/</a> <br />
<br />
Em 2014, Paulo Roxo Barja, publicou dois pequenos livros de poesia, Anarcopoesia e Sonetos. Falarei aqui do que senti em Anarcopoesia.<br />
<b>Anarcopoesia</b> começa com o poema "A Cobra": <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoxYXJ7J7T6glOBMPo99cgJeh4Y21C05X7HtSx8GsHE97K5g-_szZ_ZCVTFJtj7pk3qef0lzQt6Rg8qb-AK0ZO3uQjInWapjLyn5ikKD4ehsXhKyEYJWbbNHdSbs8A1wpMw0CHpvSDyXPX/s1600/a+cobra2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoxYXJ7J7T6glOBMPo99cgJeh4Y21C05X7HtSx8GsHE97K5g-_szZ_ZCVTFJtj7pk3qef0lzQt6Rg8qb-AK0ZO3uQjInWapjLyn5ikKD4ehsXhKyEYJWbbNHdSbs8A1wpMw0CHpvSDyXPX/s400/a+cobra2.jpg" width="400" /></a></div>
Este poema me chamou a atenção com a construção da cobra, que remete aos protestos de junho de 2013, chamados de Jornadas de Junho. No poema, a cobra vai crescendo com a multidão até atingir mais de 3 km e tomar a rodovia. Referência clara à noite em que a Rodovia Presidente Dutra foi fechada pelos protestos de junho em São José dos Campos. Claro que faz referência à lenda da Cobra Grande, comum em todo o país, em geral, esta lenda conta que uma cobra gigantesca vivia embaixo da cidade, saía à noite e comia pessoas. De certa forma, o poeta faz esta junção, a cobra de junho de 2013 saía à noite e era formada de pessoas mas a questão mais importante que ele coloca foram os versos:<i>"a cobra/ tem 2 km/ muitas cabeças/ nenhuma cabeça/ será que pensa?"</i>. Sei que o espaço do papel não comporta bem a ideia do poema, mas eu pensei este poema em um movimento sinuoso como uma cobra, mexendo-se entre as ruas, seria interessante para alguém que gosta de fazer vídeos aproveitar a ideia.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGbjdVDjPl9GySa5DxT3c8P6zmvYJfFZ8k5GiuA0V-pFv4Sb24vjy9J5rKouUWBK_H6G_XRh2uuVJFgl0i4nHLOS4Lv2Q8n_KErvqYjWnEDiBNsXgqcF9pbGymRB5Rx0H_jORUV86RPDeB/s1600/prbanarco.bmp" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGbjdVDjPl9GySa5DxT3c8P6zmvYJfFZ8k5GiuA0V-pFv4Sb24vjy9J5rKouUWBK_H6G_XRh2uuVJFgl0i4nHLOS4Lv2Q8n_KErvqYjWnEDiBNsXgqcF9pbGymRB5Rx0H_jORUV86RPDeB/s1600/prbanarco.bmp" width="234" /></a></div>
Apesar do título ser Anarcopoesia, o autor poderia ser muito mais anárquico do que realmente foi, em Oração a Boal e Oração do Artista, revela muita sua influência religiosa, mas são boas homenagens aos artistas que fazem de sua arte sua profissão de fé fazendo certa analogia com o futebol de "Neymar" (Disso não gostei porque não sou santista). É uma brincadeira minha, o autor pode citar quem ele entende como artista (lembrando que Paulo Barja é santista, daí vem a citação ao Neymar).<br />
Gostei muito do "Poemeto não muito Erudito sobre Língua Portuguesa" em que PRB (as iniciais parecem nome de partido político!, acho melhor usar PRBarja), revela muito da sua anarcopoesia e da sua ironia, lembrando que a marca do livro é a ironia, a graça, em que o autor tem sido muito bom, em poemas como "Comentários a uma (Auto) Crítica", "Defesa do Lobo" e outros, mas no poemeto ele foi excelente, a dúvida, claro, ele sabe qual é o uso correto da língua, mas ironiza muito bem o excesso de erudição.<br />
Na sequência, PRBarja vem com um poema para fazer rir, e muito, em sua homenagem ao poeta Laurindo Rabelo "Quando o Cume dá Poesia" e também no poema "Os Cães também têm suas Prioridades". Só fazendo a referência, Laurindo Rabelo é um poeta considerado o Bocage brasileiro, ou herdeiro direto de Gregório de Matos Guerra, por seus poemas obscenos e pornográficos, hetero e homossexuais. Interessante é notar a diferença de visão dos pederastas da época de meados do século XIX, que eram tratados como parceiros sexuais iguais às prostitutas e os homens de então não se sentiam mais ou menos homens por os procurarem, visão social totalmente diferente deste início de século XXI.<br />
Paulo Barja faz poesia bem certinha, contrariando o título do livro, para mim, faltou bastante da anarquia sugerida no título. Seus poemas são corretos, trabalhados, versados e pensados mas falta um elemento a mais, algo que torne a sua poesia marcante, falta esta anarquia mais acentuada. PRB é excelente quando se propõe a ironia mas ele parece temer que esta ironia seja ofensiva e acaba contido. Para mim, ele precisava ser mais agressivo, mais terno, mais ácido, mais lírico, ele precisa colocar mais vigor, força, emoção na sua poesia, falta uma pitada de ousadia. Em alguns momentos, eu sentia que o poema ia me apunhalar mas depois passava raspando. Talvez seja um defeito meu querer que o poema me fira como se fosse uma faca, ou me balance como se fosse um terremoto, ou me derreta como se fosse ácido, ou me acaricie como se fosse amor, ou me excite como se fosse sexo. Mas este defeito de querer mais é para dizer que Paulo Barja está neste projeto, fugindo da literatura de cordel, da qual ele é especialista, o livro Anarcopoesia é um bom trabalho, falta um pouquinho a mais de ousadia ou anarquia, que aguardo nos próximos trabalhos.<br />
É importante ressaltar que Paulo Barja, em outros trabalhos, fala de assuntos da atualidade em sua poesia, há vários assuntos que acontecem e logo ele nos brinda com um poema, lembrando o caso do Pinheirinho, onde rapidamente saiu um cordel sobre a expulsão dos moradores do Pinheirinho. Nisso, ele tem feito um trabalho muito importante e eu até usaria o termo de que ele faz uma Poesia Crônica ou seria uma Crônica Poética? O fato é que ele faz poesia de assuntos cotidianos, de fatos acontecidos, registrando tudo isso, como no dia em que o Papa Bento XVI renunciou e, no mesmo dia, ele fez uma marcha de carnaval (era terça-feira de carnaval, 11/02/2013).<br />
Paulo Barja também publicou o livro <b>Sonetos, </b>contendo 93 sonetos em que trata de diversos temas, em especial o amor e também de vários outros temas, como homenagens poéticas, ciência, poesia. Em meio a tantos, alguns me chamaram a atenção, "Gata de Alice", "Soneto Comestível", "Soneto Científico" e "Soneto Numérico". Poderia enumerar mais alguns mas como o poeta colocou tantos sonetos juntos, dificultou demais a minha leitura, pois a sua forma engessada não me é agradável.<br />
Então, fica o mesmo problema que tenho visto em vários livros dos autores que comento, a vontade de publicar, no mesmo livro, uma grande quantidade de poemas. Fica a sugestão de publicar menos poemas e tratar cada livro como uma obra de arte.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-21855127741318092272014-08-12T22:07:00.004-03:002014-11-10T11:58:03.319-02:00VIRAVIDA DE ROSÂNGELA RIBEIRO Ler um livro de poemas é decifrar um novo universo contido dentro do poeta que o escreveu e o tornou público. É algo complexo que exige leituras e releituras, mas acho que já disse isso em algum momento. Muitas vezes eu não consigo chegar no âmago do universo proposto.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZNK_xVNKEQMkWih7vuqzu_TrL37gS90N_dRyZaTLnAQR4ziG3e24TMegt4cvSHRMyyY9M3-txI8eKBNtP_bzwBVHgUT0WL6x7QUmFVjbYheOFgQiZcxiF_auuopGCSy6I5S-MIThpt3lh/s1600/foto+viravida+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZNK_xVNKEQMkWih7vuqzu_TrL37gS90N_dRyZaTLnAQR4ziG3e24TMegt4cvSHRMyyY9M3-txI8eKBNtP_bzwBVHgUT0WL6x7QUmFVjbYheOFgQiZcxiF_auuopGCSy6I5S-MIThpt3lh/s1600/foto+viravida+3.jpg" height="211" width="320" /></a></div>
Rosângela Ribeiro me deixou com a sensação de que há muito mais dentro de sua alma poética do que o que está contido em Viravida, profunda conhecedora das palavras e seus significados, ela traz muitos vocábulos que não encontramos no dia-a-dia e precisamos recorrer ao dicionário algumas vezes.<br />
Ela usa seu conhecimento para brincar ao mesmo tempo em que mergulha, seus poemas são curtos, mínimos, seus versos não tem métrica e nem utiliza rimas, ou estas são muito raras. A força de sua poesia está no significado de cada palavra, muitas vezes, é como se cada poema possuísse uma palavra única que o definisse e o resto girasse em torno dela.<br />
Falarei de alguns poemas para exemplificar o que compreendi.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZnLGddS43JWVZhy2nYRQsESTVVGC01RtDoHzbePj8UuuUcn7itprV2Wb75WVWr9yQ0knvPphyphenhyphenND1qY8bZPAXcyp6s49vZf9XaD5cL82gPttgVVL97eKroK1bHJP4JJhnr-GpNUDgGvcK7/s1600/Foto-Viravida-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZnLGddS43JWVZhy2nYRQsESTVVGC01RtDoHzbePj8UuuUcn7itprV2Wb75WVWr9yQ0knvPphyphenhyphenND1qY8bZPAXcyp6s49vZf9XaD5cL82gPttgVVL97eKroK1bHJP4JJhnr-GpNUDgGvcK7/s1600/Foto-Viravida-2.jpg" height="219" width="320" /></a> Começa o livro com o interessante "Indivíduo" do qual destaco que se veja a página do livro porque o trabalho gráfico faz parte dele ao mostrar o rosto da poetisa dividido em muitas partes. Obviamente, ela não fala de si mesma mas de todas as mulheres, em que usa o recurso do prefixo "in" separado da palavra original, como a afirmar que a mulher pode ser a qualidade proposta ou pode não ser, dependerá do momento. Perdoamos e damos a licença poética para os "enes" antes de "pês". Para mim, a magia do poema está no uso das palavras "interstício" e "insétil", palavras que, diferente de todas as outras do poema, não podem ser escritas com o prefixo "in" separado porque elas não tem este prefixo. Interstício, que é o intervalo entre dois momentos onde a mulher pode ser ou não ser, e insétil que significa indivisível e resume tudo. Indivisível tem o prefixo "in" mas ela quis insétil para mostrar que a mulher, dependendo do momento, pode ser muitas mas ela nunca poderá ser dividida, ela é única, cada uma é única em todas as suas possibilidades.<br />
Outro poema interessante é "Mulheragem", com o uso da palavra "florífago", que significa "aquele que se alimenta de flores", no poema, a mulher faz parte da mãe-terra e por isso alimenta o sonhador, o homem, que é o que se alimenta destas flores-mulheres.<br />
A poetisa utiliza bastante o conflito de opostos para fazer a sua poesia, vemos o jogo de "noite-dia" em "Meato", retornando ao primeiro poema, do "ser" e "não ser", e, ao longo do livro, encontramos outros exemplos como "silêncio-canção"; "esconder-revelar"; "Tino e Desatino", "vida-morte", e outro poema interessante que é "Inviso", onde ela inova e vem com "inviso-invite-inflija-insurja" e vou deixar para vocês o lerem e encontrar nele mais do que dicotomias, e que me leva a crer que não é apenas a questão de conflito, não é só preocupação com o ser e não ser mas, principalmente, com a natureza das coisas, das pessoas e da vida.<br />
Também achei muito bom o poema "Palavra" em que as palavras escritas na vertical e de cima para baixo, parecem escorrer pelo papel. Neste poema, o uso da palavra "palavra" escrita logo abaixo e com ligeira angulação, acaba, graficamente, dando suporte para o poema. É um poema para ser lido e visto, a palavra dando suporte a tudo.<br />
É isso, Rosângela Ribeiro fez um bom livro, combinado e amparado pelo belo trabalho gráfico e estético de João Manccini, e deixo para vocês um poema que não compreendi totalmente:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #741b47;">Âncora</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;">Mar icônico</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;">Náufrago homem</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;">Eido rotativo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Ele parece dizer muito mais do que estas seis palavras significam, tem o conflito da poetisa "Mar-Eido". Tenho minhas teorias mas gostaria que os leitores me auxiliassem nesta interpretação e lessem o livro para compreender tudo isso e entrar neste mundo.<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-20261869118527035782014-07-28T18:20:00.000-03:002014-11-10T11:58:48.677-02:00A POESIA VULCÂNICA DE MARCOS GROZA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim5USh8mev4L3PcvazcZyieGGdNiI-NrfzfBKKOpHTgyYZBrIIysg0n4VcOYdDjSls5JSBT7aLjqVd8W2SI7Sp9RbnOkEGbz6RYcmNvK0ptiIA_lM-D0FiUfTBul9YS9kCl_eBDbuL-QG9/s1600/groza.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim5USh8mev4L3PcvazcZyieGGdNiI-NrfzfBKKOpHTgyYZBrIIysg0n4VcOYdDjSls5JSBT7aLjqVd8W2SI7Sp9RbnOkEGbz6RYcmNvK0ptiIA_lM-D0FiUfTBul9YS9kCl_eBDbuL-QG9/s1600/groza.jpg" height="320" width="204" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> Do</span> Buraco à poça é um livro difícil de se ler e de se compreender. A grande quantidade de neologismos, metáforas, inversões e frases que parecem que não tem um fim ou um sentido é um desafio. Aviso a todos, a leitura é difícil, não é necessário dicionário mas é preciso muita imaginação e dedicação, leituras e releituras, tentativas de entrar num mundo muito diferente. Numa poesia muitas vezes rebuscada e de frases compridas, que o leitor terá de completá-las.</div>
<div style="text-align: justify;">
Marcus Groza faz poesia como um vulcão em erupção, as frases vão jorrando da maneira que vêm à mente e se despejam quentes no papel com o intuito de buscar as emoções mais entranhadas do leitor e aí vem a necessidade verbal, pois esta emoção entranhada só pode ser retirada quando a poesia é lida em voz alta, com frases impactantes apoiadas pelo ritmo e pela respiração da leitura. Ler um poema destes de forma linear matará a poesia e o leitor de incompreensão porque a grande força é a oralidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que foi por isso que demorou muito para eu compreender este livro. Eu fui lendo e relendo e tentava entender o que significavam frases como no primeiro poema do livro, <span style="color: #274e13;">"Vocação"</span>:</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">eu vim para dizer obviedades</span></i>" e depois mais para a frente: "<span style="color: #0b5394;">Arranco do papel um única clave de sol e a devolvo qual aranha boa a um pentagrama de vento</span>".</div>
<div style="text-align: justify;">
Vou citar aqui pelo menos uma dezena de exemplos de frases:</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">aceno um rio/ desdobrado/ cavalo</span></i>" (<span style="color: #274e13;">Da Janela, pg. 15</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<span style="color: #0b5394;"><i>A fruta-pão que dava no pé de guerra/ pântanos e túneis espantaram/ depois de engolirem as feras/ e o verde todo gramado</i></span>" (<span style="color: #274e13;">Oroborus, nome da fruta, pg 20</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">e, dia por outro, me converto, selenita da lua refletida nas águas</span></i>" (<span style="color: #274e13;">Cinco cantos ao som da ressaca, pg 22</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">Tuas opiniões nasceram gêmeas dos furadores de papel/ e dos grampeadores pouco usados sobre a mesa</span></i>" (<span style="color: #274e13;">Autorretrato, pg 28</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">o filho do contra que nasceu pela culatra/ cutelo azul fosco que não reflete a luz da lua</span></i>", (<span style="color: #274e13;">Pranto chorado sobre o túmulo de um inimigo, pg 38</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">Pro nosso ralo de fundo costura um pano/ me deita nas esquinas urina e muco</span></i>";(<span style="color: #274e13;">Súplicas, pg 43</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">você seca as avalanches fazendo montes na escada/ surripiando a pele dos meus irmãos</span></i>", (<span style="color: #274e13;">Deslocanto, pg 45</span>)</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">voa talvez toupeira pelo céu/ encoberto de vaginas/ ferrenho das gengivas/ onde cagou e adormeceu</span></i>", (<span style="color: #274e13;">Sob Saturno, pg 81</span>);</div>
<div style="text-align: justify;">
Então, acabei por compreender que o poeta tem este trabalho visceral, jorrando palavras que, muitas vezes, parecem sem sentido mas que, no conjunto do poema, com o ritmo e a sonoridade pega o ouvinte e o encanta, trazendo-lhe emoções diversas e o chacoalhando por dentro, ainda que ele não entenda o porquê.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em leituras profundas dos poemas, minimizando a oralidade poética e buscando um sentido na poesia (se é que isso é possível no caso de Groza) encontro um poeta que procura estabelecer sua relação com o mundo, com a pessoa amada e com os próprios pensamentos, onde começamos com o próprio título estranho, "Do buraco à poça", estranho e tão óbvio que tentamos enxergar mais do que é, para se chegar na poça, precisa-se encher o buraco com água que pode ser uma enxurrada, que deve ser a maneira preferida do poeta, ou, voltando ao título, com a lava quente do vulcão que jorra do poeta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Com todas estas emoções que surgem com a audição dos poemas, e com todos os jogos e figuras de linguagem extremamente interessantes e fortes, o livro faz de Marcos Groza um poeta com grande capacidade que precisaria, em muitos casos, retrabalhar o poema que jorrou do seu vulcão e lapidar as pedras brutas-diamantes que foram lançadas, eles estão aí, um pouco de lapidação os tornarão mais belos.<br />
<i><span style="color: #134f5c;">Nota: em troca de ideias com Marcus Groza, o autor me informou que pensa e repensa cada verso, então, fica aqui meu reconhecimento ainda maior pelo trabalho dele porque isso torna ainda mais forte a sua busca pela emoção do leitor/ouvinte. Corrijo aqui o comentário que fiz e agradeço pelas informações que ele me passou sobre o seu fazer poético, tornando ainda mais importante o trabalho que ele faz.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Trago então, um exemplo de sua poesia:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;">"Autorretrato"</span></i></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: magenta;"> </span><span style="color: #a64d79;"> Tiras pouco tão pouco leite da terra</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">que tuas mãos têm cheiro de suor velho</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">e o calor que te derrete não basta</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">para esquentar o pão cru</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">que por anos carregaste nos braços.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">Este sol entanto muito suficiente é (e não ignoras)</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">para pôr gotas de suor no lóbulo das orelhas</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">pingando a golpes de pequenas frustrações</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">como brincos derretendo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">sobre o chão que ainda podes pisar.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">Melhor fora se não compreendesses</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">os bilhetes que adolescente enviaste a ti mesmo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">enfiando nos bolsos das calças velhas que agora usas por moda</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">e ainda os trazes repletos como se de mensagens cifradas</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">de ágrafos e prolixos.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">Podes lavar os veios que tens na palma da mão</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">mas a pele não vela moeda fiação destino</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">se enfeita apenas de dobras e cicatrizes</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">sulcando chão entre as pedras</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">desse trejeito teu de olhos amargos</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #741b47;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">Tuas opiniões nasceram gêmeas dos furadores de papel</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">e dos grampeadores pouco usados sobre a mesa</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">tatuaste a palavra amor nas pupilas com radiações de silício</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">que pesavam teus olhos como um telefone ocupado</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #a64d79;">as vontades obscenas terá que cometer porém.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: left;">
<i> </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Neste poema, autorretrato pode ser que o poeta queira dizer que ainda não retirou tudo o que pode se si mesmo, ainda não deu o seu máximo, que está em construção, e este calor que ele sente é forte para a transpiração mas ainda não é forte para aumentar a sua criação,o pão cru, a massa poética que precisa fermentar e crescer, talvez ele se sentisse melhor se não ouvisse o chamado adolescente da poesia, mas agora, como poeta, ele tem de amar e praticar as suas vontades obscenas, que, diga-se, não são obrigatoriamente pornográficas mas sim, sem pudor, sem medo de ser poeta.</div>
<div style="text-align: left;">
Ler Marcos Groza é fundamental, é difícil, mas é uma voz muito forte. Força maior que se encontra no verbal, na audição, como um vulcão que gera um furacão interno.</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-24528001783724805532013-06-06T07:49:00.001-03:002014-11-10T12:00:43.540-02:00Olhos de Vidro para enxergar por dentro de si<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivZorM4h380vY3Jhfk_05LiPTiENca9WEvKzko9FMyJ0Ku0c8Gt6hvb-3ZwykfCLV4SRTQibqEBu9frpwT1J1SPGgzrbUm_ozM1J1YQaHSJknx8X2Jcvz8JbPnCqU7QRelY33_B5tBYFVv/s1600/Capa5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivZorM4h380vY3Jhfk_05LiPTiENca9WEvKzko9FMyJ0Ku0c8Gt6hvb-3ZwykfCLV4SRTQibqEBu9frpwT1J1SPGgzrbUm_ozM1J1YQaHSJknx8X2Jcvz8JbPnCqU7QRelY33_B5tBYFVv/s320/Capa5.jpg" height="320" width="208" /></a> Venho arriscar-me muito ao tecer comentários deste livro interessante de Andrea de Barros. Afinal, falar de uma Mestre em Literatura e Crítica Literária pela USP não será tarefa fácil, mas, eu gosto de correr riscos e vale a pena falar deste pois tem bastante qualidade poética.</div>
<div style="text-align: justify;">
Este pequeno livro, "Para Seus Olhos de Vidro", lançado em Março de 2013 traz dentro uma dor aguda dos amores experimentados, vividos, com a certeza de que nenhum amor é perdido, tudo é conhecimento adquirido e transformação de vida, por piores que sejam as experiências. Lendo, tentei encontrar o tema predominante e fiquei em dúvida se o livro tratava de amores ou da resiliência, pois, percebe-se no fundo que a autora se mostra viva, firme, resistente, apesar de tudo o que sofreu. Ela não expôs apenas o sofrimento, o qual podemos deduzir, mas a sua resistência a ele.</div>
Vejamos que ela começa o livro com:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;"><b>Idade</b></span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">É o tempo</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Que me corta os dias</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">O mesmo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Que me conta os casos</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Dos quandos</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Que eu não mais ouvia</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Aos comos</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Sem porquês dos atos</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">É dele</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Meu desenho à pele</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">O mapa</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Pelo qual escapo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Da velha juventude eterna</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Ao tempo</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Meu melhor bom dia</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Sem medo do que o sol me tira</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #cc0000;">Me farto do que a luz me soma</span></i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ao dizer que o tempo vai lhe cortando mas ainda assim ela lhe dá o seu melhor bom dia sem medo, a poetisa vem dizer que resiste, que ele pode trazer o que for mas ela não terá mais medo do que lhe for tirado porque aprender a viver com o que lhe foi acrescentado (as experiências acrescentam).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sobre este poema ainda vou acrescentar a forma de usar sílabas fracas e fortes no sentido de dar ritmo ao texto, veja que em "é o tempo", temos a sílaba poética "é o", fraca, depois, "tem-", forte, no verso seguinte "que / lhe ", fraco, fraco, "cor-", forte, "ta-os ", fraco, "dias", forte, ficando o ritmo, fraco, forte, fraco, fraco, forte, fraco, forte, melhorando, colocando f minúsculo para fraco e f maiúsculo para forte, o ritmo do poema é: f F f f F f F f F f f F f F.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A poetisa utilizou-se muito da forma em seus poemas, alterna versos curtos e longos, faz estrofes com versos com métrica, mistura um e outro mas não fica restrita à forma, em muitos poemas, usa de construções que mais se assemelham a um texto em prosa, como em</div>
<br />
<i><span style="color: #cc0000;">Último</span></i><br />
<i><span style="color: #cc0000;"><br /></span></i>
<i><span style="color: #cc0000;">Eu não deixei de amar. Só me libertei de você.</span></i><br />
<i><span style="color: #cc0000;">Só atravessei a vidraça.</span></i><br />
<i><span style="color: #cc0000;">Só rompi os pontos, jorrei o verbo, cravei os caninos nos seus adjetivos.</span></i><br />
<i><span style="color: #cc0000;">Me insurgi.</span></i><br />
<i><span style="color: #cc0000;">(...)</span></i><br />
<br />
Retornando à questão da resiliência, ela traz também a ambiguidade do desejo, ora mostra-se ávida e cheia de amor, apaixonada, ora, mostra-se decepcionada e amargura, vamos aos exemplos:<br />
<br />
Em " Presença n.º 5": "<i><span style="color: #990000;">Eu amo o cara que passa/ longe/ Em minha memória</span></i>".<br />
Em "Para seus olhos de vidro": "<i><span style="color: #990000;">E quando me olha/ me faz invisível</span></i>"<br />
Em "Primeiro": "<span style="color: #990000;"><i>Saudade dos seus olhos na minha pele</i>/</span>"<br />
Em "Vermelho Verdade": "<span style="color: #990000;"><i>Não foi pra você/ A melhor poesia</i>/</span>"<br />
Em "Véspera": "<i><span style="color: #990000;">Medo de me sentar na banqueta e pegar as doenças da sua família</span></i>".<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Prevalece sempre o amor vivido e desejado e as marcas que ele trouxe e deixou na poetisa, as dores, as lembranças que não saem da memória e continuam ainda que o amor tenha acabado. Ao percorrer o livro, é este amor muito desejado e pouco realizado que fica em evidência, dando a entender que a dor do amor vivido foi maior do que a alegria que dele veio, onde senti bastante vigor em poemas mais duros como "Último", "Cônjuge", "Véspera". Ao encerrar com "Adendo", ela mostra bem que entende melhor este amor vivido e sentido e continua se entregando a ele apesar de tudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não posso deixar de destacar o belo poema que ela fez para sua avó, Augusta em que começa com estes belos versos: "<i style="color: #990000;">Eram seis... e a rede trançava fiapos de luz da janela tardia"</i>, e depois encerra com: "<i style="color: #990000;">Foi moça / Augusta Maria / Sem se dar conta / Que o tempo só / ia.</i>"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A poesia de Andrea de Barros mostrou-se bastante intimista, voltada para suas próprias experiências amorosas, onde pouco identifiquei elementos de vínculo com seu tempo ou seu lugar, é uma poesia dela, de sua existência, de suas experiências que, lógico, podem ser compartilhadas e compreendidas pelos outros. Isto ficou evidente em "No Escuro" em que diz: "<i style="color: #990000;">Se a luz se apagar / ainda serei eu / no espelho?</i>". Os elementos que encontrei de referências são bastante urbanos e universais, o que me leva a crer que o livro tem a função de expurgar e esmiuçar o caso específico das emoções que o amor vivido trouxe. A pessoa se entrega ao amor e depois sobra o quê? Para mim, ficou este o questionamento do livro, de certa forma respondido ao longo das páginas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembrou-me outra autora que comentei aqui neste blog há pouco tempo, Débora Valim, que também, de certa forma, fez do seu livro um expurgo de mágoas e ressentimentos vividos. Cabe aí um questionamento interessante, se pensarmos que são formas de mostrar uma condição feminina diante do amor vivido e que não é realizado. Estaria a nossa sociedade "vendendo" uma ideia de amor que não corresponde à realidade? Existe mesmo este amor romântico, desejado e buscado, principalmente pelas mulheres? Ou estariam os homens enxergando a vida e o amor de uma maneira tão diferente que não estão vivendo no mesmo mundo que as mulheres? Questões para se pensar.</div>
<br />
-------------------------------------------------------------------------------------------<br />
<i><span style="font-size: x-small;">Para quem se interessar em adquirir o livro, pode ir direto no link abaixo.</span></i><br />
<span style="font-size: x-small;"> <a href="http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105">http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105</a></span> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-11754104819879535612013-06-03T09:07:00.006-03:002013-06-03T09:07:51.764-03:00Programação do VI Festival da Mantiqueira<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;"> Segue a programação do VI Festival da Mantiqueira. Participarei no domingo, falando sobre o livro do Moacyr Pinto acompanhado dos excelentes André Freire, José Moraes e Paula Barja.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;"> A programação abaixo foi retirada do Jornal "O VALE" de domingo.</span></b></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKZj5NgXkEC3ONxKGUdoupIpNMxjX_pRHODk9j8jgZi9spDibsz1bGm5JfQAwLBJCe2tjhpL257y51OMSx2jLtFWugwbV4r7G2xZIJvPC8hUqOsvtSMp3XhZfYBgMxCWFwhCoTns2TVKky/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+Sexta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="451" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKZj5NgXkEC3ONxKGUdoupIpNMxjX_pRHODk9j8jgZi9spDibsz1bGm5JfQAwLBJCe2tjhpL257y51OMSx2jLtFWugwbV4r7G2xZIJvPC8hUqOsvtSMp3XhZfYBgMxCWFwhCoTns2TVKky/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+Sexta.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgviGRlPSLjPTjdgRBEk1zh5_wE-3BE_zxmKIM1e8tDKwqBoi-uITD1mKhJKGl8Sp_kBXUkxuNVxDceK5M3_WFrv71MVjRoSBQM70hvoo8v_ZGXpv-ndsCr5MUiL9AenJUdLwdiqFX0aa5R/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgviGRlPSLjPTjdgRBEk1zh5_wE-3BE_zxmKIM1e8tDKwqBoi-uITD1mKhJKGl8Sp_kBXUkxuNVxDceK5M3_WFrv71MVjRoSBQM70hvoo8v_ZGXpv-ndsCr5MUiL9AenJUdLwdiqFX0aa5R/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+1.jpg" width="386" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_obJ4qfVt5Zbfq0J3J18w0o01cqRlqxxi6j8stFFX9u6YtWIDaK06Y4C6xOv_T1OufgzMZISuA9GYMXvNQUq4sNDeyx_AaI4OxPEZ_nyZ9AZb3GPwZYoPzFN4PjYAxURqXgoYhiY0ULSW/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_obJ4qfVt5Zbfq0J3J18w0o01cqRlqxxi6j8stFFX9u6YtWIDaK06Y4C6xOv_T1OufgzMZISuA9GYMXvNQUq4sNDeyx_AaI4OxPEZ_nyZ9AZb3GPwZYoPzFN4PjYAxURqXgoYhiY0ULSW/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+2.jpg" width="584" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXnt_lhJke4yOCogU5rVLQPual5cJg6mbOp1QG0T0TQzaOiJNFw4iXLJaZRyf3UKHD4VovZsn0LtNZgBccQCyhhcbsRhjSGgORmMQQZpyu0yiQXfRouO2lY3GcOaPO3AWdQRcKsugHXuuo/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXnt_lhJke4yOCogU5rVLQPual5cJg6mbOp1QG0T0TQzaOiJNFw4iXLJaZRyf3UKHD4VovZsn0LtNZgBccQCyhhcbsRhjSGgORmMQQZpyu0yiQXfRouO2lY3GcOaPO3AWdQRcKsugHXuuo/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+S%C3%A1bado+3.jpg" width="504" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqRfqHGAhLaSSk-usOjw3QXbxHFup3eoX6ghVq9nHTTDcR0PNZoNJzlTB1ppoMym7c0QqwJE8LGj7DcXjToNBLuqKGSBC9-Tj3XSgJa7K2AmN4pyuOsW-ZwfLR4QQJgm-m6KTfSiWT5XH8/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+Domingo+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqRfqHGAhLaSSk-usOjw3QXbxHFup3eoX6ghVq9nHTTDcR0PNZoNJzlTB1ppoMym7c0QqwJE8LGj7DcXjToNBLuqKGSBC9-Tj3XSgJa7K2AmN4pyuOsW-ZwfLR4QQJgm-m6KTfSiWT5XH8/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+Domingo+1.jpg" width="522" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqs8rrd2hNQr4HjOH76iiOBX3dtP2v0NktQcLdFt8wS6xpZuSgPtIZdUhtW1loxgVyML-FnSLZ50uMQyvTf5QodPzHMAXlS7yGZ7pta7ZrsseBweh7nHNo7-i7WJwa4_QbM63CI9jAzr05/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+Domingo+2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqs8rrd2hNQr4HjOH76iiOBX3dtP2v0NktQcLdFt8wS6xpZuSgPtIZdUhtW1loxgVyML-FnSLZ50uMQyvTf5QodPzHMAXlS7yGZ7pta7ZrsseBweh7nHNo7-i7WJwa4_QbM63CI9jAzr05/s640/Programa%C3%A7%C3%A3o+Domingo+2.png" width="532" /></a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-83110107978159206042013-03-26T13:42:00.000-03:002014-11-10T12:01:47.577-02:00Águas de Março<div style="text-align: justify;">
Em seu terceiro livro solo, Reginaldo Poeta Gomes trouxe até nós uma boa seleção de poemas que se mantém bastante fiel ao seu estilo. Acrescenta que fala mais de amor, continua com a inserção da água em muitos poemas e vem alguns toques sociais.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuRa1npyCGCgMHj8hWvFPlZp5fOHRCd_b38QiFgkVq2eClEMuHWxNX5UxGgaJAQ_M8zYfxrH6SAfuUJ0h0n3WaPR2KkIlp86RNUZtCvD96yu83gvWtHMoWwTSDQxshXMQCoLg_xxpR9Rkh/s1600/Capa-chover-Reginaldo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuRa1npyCGCgMHj8hWvFPlZp5fOHRCd_b38QiFgkVq2eClEMuHWxNX5UxGgaJAQ_M8zYfxrH6SAfuUJ0h0n3WaPR2KkIlp86RNUZtCvD96yu83gvWtHMoWwTSDQxshXMQCoLg_xxpR9Rkh/s200/Capa-chover-Reginaldo.jpg" height="200" width="142" /></a></div>
Na forma, distingue-se um pouco do livro anterior, agora, há mais poemas com muitos versos e poucos poemas curtos e diretos, está mais filosófico, mais pensador e mostrando-se mais, permitindo-se aos outros que o descubram como um homem simples e apaixonado pela vida.<br />
Mas, apesar da maioria do livro ser assim, bastante lírico e romântico, percebemos que há uma certa angústia em tudo isso e uma percepção de desilusão na vida em:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"> <b> <i>Lírica Manhã</i></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"> Não vale a pena se iludir</span></i><br />
<i><span style="color: #073763;">Não existem milagres</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">A flor que conduz os sonhos</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">É a flor da tempestade.</span></i></div>
<i><span style="color: #134f5c;"><br /></span></i>
<span style="color: #134f5c; font-style: italic;"> </span>Assim, somo convidados a descobrir este mundo ou o que está por trás dele, quando analisamos com mais calma a ideia de cada poema, vemos que o poeta, para variar, é este fingidor nato.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Lugar Estranho</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">O menino pulo num buraco</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">O buraco era muito profundo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">De repente chegou noutro lado</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Do lado do lado</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">De um estranho mundo.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Esse mundo era desabitado</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Era um mundo diferente</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Esse mundo só tinha uma porta</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>Que dava para dentro d</i><i>e dentro da gente.</i></span></div>
<i style="color: #0b5394;"><br /></i>
<i style="color: #0b5394;"> </i>Ou seja, ao longo do livro, ele tenta fazer-nos acreditar que está somente contando coisas belas, mas há uma busca de si mesmo, que menino é esse que pula dentro de si mesmo senão o próprio poeta? E este pulo dentro de si que ele expõe fica mais claro nos poemas dedicados a um pai ausente na sua infância. Há desilusão e dor ainda que disfarçadas, fingidas e transformadas em beleza. E também há crítica mais séria e interessante em "Escombros", poema dedicado ao Pinheirinho, e também no poema:<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Conversa entre postes</b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>Ontem foi terrível</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>1 estupro;</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>5 assaltos</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>E nenhum beijo de amor...</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>Quanto horror!</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i>Esta claridade ainda vai nos matar!</i></span></div>
<br />
Quando começamos a enxergar a violência e a ver a realidade corremos o risco de morrer não pela violência em si, mas pelo horror que a realidade nos traz, mas esta claridade também pode ser transformadora, pois o primeiro passo para mudar é enxergar o problema.<br />
Outro aspecto interessante neste livro é a presença de poemas do cotidiano, onde se retratam cenas simples e cheias de poesia, temos aí alguns poemas bons em que destaco "Antena Prateada"; "Partilhando Segredos", "Doação" e "O asfalto não entende o lamentar dos chinelos". Também a presença da sua musa inspiradora é marcante, poderia o poeta até fazer um livro somente dos seus poemas de amor, belos poemas como "Fênix", "Desembrulhando Sono"; "O Vento trazendo notícias do mundo lá fora"; "Uma escada longa para suprir a curiosidade dos meus olhos". "CEP 58700-000".<br />
E, como não podia deixar de ser, a presença da água em todo o percurso do livro, a água como fonte de vida, constante, perene, uma lembrança de sertão que não podia faltar no Réginaldo, sempre referindo-se a nuvens, arco-íris, chuva, pingos, choro.<br />
Ainda assim, apesar deste livro possuir belos poemas, faltou-lhe mais uma vez a dimensão de obra mais completa, novamente o poeta colocou uma grande quantidade de poemas e temas sem preocupar-se com o conjunto da obra, muitos poemas poderiam ser deslocados para outro momento ou não precisavam talvez estar no livro pois retiraram a coesão como, por exemplo "Um encontro inusitado"; "Dentro" e "Irregular" e "Um olhar em cada canto". Também poderia concentrar um pouco mais os temas e ousar um pouco mais.<br />
É isso, com certeza é uma ótima leitura deste poeta que vem construindo uma obra interessante e consistente.<br />
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-75910380385629031752013-01-27T08:57:00.001-02:002014-11-10T12:02:42.238-02:00A escrita perigosa de Débora Vallim<div style="text-align: justify;">
"Cartas às Amigas" de Debora Vallim é um livro muito interessante, com escrita fluente e intimista, que me trouxe a alegria de ver a qualidade do texto deste pequeno livro. Não o defino como um livro de crônicas simplesmente pois, seu foco é a impossibilidade da existência, sendo esta tão cruel e nada confortável.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao expor as dificuldades de se encontrar a felicidade na sociedade, a autora mergulha na complexidade da vida, dos pensamentos e dos sentimentos, relacionando-os com a sociedade em que vive, incluindo aí a família, os amigos, os outros. Apesar de admitir que está quite com as suas ambições materiais e que tem uma estrutura familiar relativamente boa, não consegue encontrar a verdadeira felicidade neste ambiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo o que ela escreve relaciona-se com a sua história, mas também é a história de uma sociedade que perdeu os vínculos sanguineos e comunitários, em detrimento dos vínculos profissionais e individuais. E muito disso eu já discuti aqui neste espaço e, como tal, a escrita de Débora Vallim relaciona-se com a percepção atual de que o ser humano perde algo muito precioso ao passar para a sociedade de consumo de massa e de competição individual pelo sucesso construído em cima do fracasso dos outros. Perde a socialização, a comunidade, a comunicabilidade.</div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgekh8GzX0q1ncYP0awjhszUaVJ6mvCMT0Yvc6zt8l0A7U35CJFBHPIZ_drIem-84pAn_35ELl_dmQ-DdCsIgmHIz1vzNNGbMmwZl-baFtNhbSkE8dvm4AMVN4WS53Y8UmHGfoQSxsvcZBT/s1600/img005.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgekh8GzX0q1ncYP0awjhszUaVJ6mvCMT0Yvc6zt8l0A7U35CJFBHPIZ_drIem-84pAn_35ELl_dmQ-DdCsIgmHIz1vzNNGbMmwZl-baFtNhbSkE8dvm4AMVN4WS53Y8UmHGfoQSxsvcZBT/s200/img005.jpg" height="200" width="131" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Seus questionamentos são bons e talvez ainda não tenhamos as respostas como, por exemplo, porque em algum momento, as pessoas pararam de falar dos seus problemas, pararam de se mostrar fracas e com dificuldades, onde foi que passamos a ver a vida apenas como sucesso (profissional e financeiro), independente de como se o alcança?</div>
<div style="text-align: justify;">
E depois de alcançado o sucesso, o que resta? Uma das muitas passagens belas na forma de escrita e no questionamento deste livro está na Carta n. 1: "<i style="color: #0b5394;">Cumpri o "protocolo da vida" como uma máquina indigna de erros. Nasci, cresci, estudei, casei, me reproduzi, trabalho, ainda. Tenho tudo. Acabei cedo, mas ainda falta muito tempo... e agora?</i> Remete-nos ao "E agora, José?" de Drummond, alcançado o sucesso, gozado a vida, o que sobra?</div>
<div style="text-align: justify;">
Outro questionamento é sobre esta sociedade onde as pessoas não olham para dentro de si mesmas, e, quando olham, não se vêem como indivíduos completos e atuantes, mas como indivíduos fora de contexto, um grau abaixo dos outros (pois os outros sempre aparentam ter mais sucesso financeiro).</div>
<div style="text-align: justify;">
A questão deste embate entre ela e os outros parece ser o tema central, ela sempre se colocando como alguém que não está bem inserida no mundo, pois este mundo não a acolhe, não a completa, não a torna feliz. E os outros sempre estão a espreitar os defeitos e colocar o dedo nas feridas e aumentá-las se assim puderem.</div>
<div style="text-align: justify;">
A autora questiona o mundo enfadonho que construímos, podemos citar um trecho da carta n.º 3:</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i style="color: #0b5394;">Todos os anos os mesmos desejos, mesmas angústias e anseios, beijos, bebidas, excesso de comida e pratos exóticos..."</i>, e logo depois: <i style="color: #0b5394;">"Hoje desejei só uma cama e hospital: lençóis limpos, silêncio externo que invade o corpo, medicamentos que aliviam a dor de estar vivo, dão trégua ao pensamento..."</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
E são estes e muitos outros questionamentos que tornam o livro interessante pois o situa numa faixa de literatura perigosa que leva o leitor à beira de um precipício, prestes a cair, deixando-o alerta. Só para citar alguns exemplos, temos na Carta n.º 11:</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i><span style="color: #0b5394;">Sinto-me farta da convivência, das perdas constantes, da falta de troca, da arrogância alheia, da soberba, da ausência de humildade, do sentimento humano de perenidade, dos humanos aristocratas, da pobreza que humilha, do alimento que não nutre, da grosseria diária, da frieza dos olhos, dos andróides que caminham ao nosso lado, da doença que infecta a mente...</span>".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i></i> Ou então, podemos ler na Carta n.º 12:</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"<span style="color: #0b5394;">...grito e ninguém escuta, caio e não há quem estenda a mão. Esforço-me na limpeza e tudo permanece sujo, coloco perfume mas o odor da podridão impera. Cheiro de pus que invade as narinas quando me aproximo de alguém, cheiro de flores em putrefação, olhos sem visão - globo ocular vazio.</span>".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas é preciso compreender que a autora não fala, na verdade de si. Ela usa o recurso de falar de si mesma para criticar duramente a sociedade atual, este recurso de trazer para a primeira pessoa esta crueza é para dizer que todos nós, como sociedade, passamos por esta dureza, estranheza e dificuldade. Lembra que não é a pessoa sozinha que está doente, mas a sociedade atual, ao abandonar tudo o que nos faz humanos em troca de algo que nos faz máquinas virtuais perfeitas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Boa leitura, mas peço ao leitor que não leia este livro no alto de um edifício ou à beira da Dutra, pode dar vontade de se jogar.</div>
<br />
----------------------------------------------------------------------------------<br />
<span style="font-size: x-small;">Para quem se interessar em adquiri o livro, pode acessar o link abaixo:</span><br />
<a href="http://www.netebooks.com.br/__loja.html"><span style="font-size: x-small;">Editora Netebooks - Cartas às amigas</span></a>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-72414131295813600962012-09-15T08:40:00.003-03:002014-11-10T12:03:36.240-02:00TECENDO O AMANHÃ<div style="text-align: justify;">
"Tecendo o Amanhã", de Moacyr Pinto é um romance diferente. O livro conta as mudanças sofridas por uma comunidade ao longo de 27 anos, de 1975 a 2002. Uma comunidade de um bairro de Santo André, palco de lutas operárias. Portanto, desde o período em que a ditadura militar ainda estava muito atuante no Brasil (só para lembrar, Wladimir Herzog foi assassinado em 1975), até o ano da eleição de Lula como o primeiro presidente proletário do país. Conta as situações desta comunidade, suas mudanças através do tempo e da atuação dos personagens.</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYD4yKBXBOgPD5TLIhIMGl0x7NBoD6xTWLzQq14MeOSSPLGWnrZ6xP4xf1YOMZ1hCPMDEJiE5xh06jDMw3gVZrWuUAZDnj6SqO1m7mrrv7BhSerMDBCuIi5G3aLlBtxt7G_o5CX4tu9TwS/s1600/img004B.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYD4yKBXBOgPD5TLIhIMGl0x7NBoD6xTWLzQq14MeOSSPLGWnrZ6xP4xf1YOMZ1hCPMDEJiE5xh06jDMw3gVZrWuUAZDnj6SqO1m7mrrv7BhSerMDBCuIi5G3aLlBtxt7G_o5CX4tu9TwS/s200/img004B.jpg" height="200" width="138" /></a> Houve uma certa dificuldade minha de compreender este formato que o autor propôs para o romance, pois esta não é uma história individual, mas uma história coletiva que remete ao conhecimento de sociologia do autor. Assim, o autor não utilizou a visão individualista, não há um herói e nem um vilão, há fatos, análises, decisões e consequências (individuais ou coletivas) mas sem a fixação na atitude de um indivíduo. Há a coletividade e por isso pensei que pudesse até ser uma novela, pois há uma boa quantidade de personagens mas não chega a este formato, então, chamo-o de romance da coletividade.<br />
Interessante destacar que o autor não conta uma história épica de um ou de outro indivíduo, mas histórias comuns, com problemas comuns a qualquer família como questões amorosas, adaptação, filhos com problemas na escola, mulheres com dificuldade em local de trabalho, homens comuns enfrentando seus dilemas entre trabalhar e estar com a família. Não há herói, não há alguém com emoção, racionalidade e força sobre-humanos em que a comunidade se apóia. As pessoas apoiam-se umas nas outras, como é a comunidade de uma região.</div>
<div style="text-align: justify;">
Além do aspecto de ser um romance de um coletivo, há outro: o uso de diálogos sobrepondo-se à ação. Ficamos sabendo das coisas que acontecem com os personagens, na maior parte da história, através das conversas entre eles. Na medida em que se desenvolve o diálogo, o autor conta a história de cada um. Compreendo que não é um meio comum fazer isso e a opção deve ter sido para demonstrar o crescimento da conscientização e da ideia mais do que a ação. Quem espera um romance de ação não vai encontrar neste livro. </div>
<div style="text-align: justify;">
Esta forma de colocar o diálogo acima da ação pareceu-me, em muitos casos, como se estivesse assistindo uma peça de teatro, no primeiro capítulo comecei a ter esta sensação: três amigas discutindo sua vida dentro de uma sala. E vem a sequência, no segundo, marido e mulher discutindo sua relação; no terceiro, o casal que chega de longe e está conversando com a família na cozinha e por aí vai numa série de cenas teatrais que podem, a qualquer momento, ser até representadas por atores, pois já estão escritas, colocados os seus diálogos. A cada capítulo ou cena, parecia que eu via os personagens conversando, exaltando-se, chorando, discutindo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para situar o momento histórico em cada período colocado, em alguns momentos foi utilizado o recurso de fazer uma pequena resenha no início dos capítulos. Este didatismo trouxe um problema, se, de um lado, é importante situar-se historicamente para compreender a vida daqueles personagens, por outro, quem não viveu este momento histórico talvez não lhe dê importância ou compreenderá o texto de outra maneira, sem alcançar a proposta do autor de demonstrar e discutir o cerne das mudanças políticas do país como tendo sido feitas a partir da base em que as lideranças individuais não se sobrepunham ao coletivo, mas respeitavam as opiniões de todos, avançando no tempo, o autor começa a mostrar que, atualmente, vivemos o contrário, o individualismo em detrimento deste coletivo. Mesmo assim, sopra um pouco de esperança no final do livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é um livro no formato: "descrição do ambiente e do herói, fator de mudança, atuação do herói, ambiente modificado", típico dos romances atuais de sucesso porque não há um herói, há uma coletividade, não há um fator de mudança pois é colocada a vida em constante processo de mudança mas há o ambiente anterior e o ambiente modificado, eu diria que é: "descrição do ambiente, vida corrente dos personagens sem atuação espetacular de ninguém em especial, ambiente alterado". </div>
<div style="text-align: justify;">
Este formato é diferente, válido e precisa ser aprimorado.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que me chamou a atenção em muitos personagens que autor nos traz é a racionalidade que se sobrepõe à emotividade mas isto deve ser uma opção do autor, chamou-me a atenção em especial dois momentos: o primeiro em que a personagem Filomena decide aproximar-se finalmente de Fernando, e o outro momento quando da morte do filho deste mesmo Fernando, tratada de maneira bastante acelerada. Outro autor talvez desse mais ênfase à parte emotiva. Talvez o recurso de utilizar o diálogo em detrimento da ação tenha dado esta percepção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Penso que o livro tem muitas propostas como, por exemplo:</div>
<div style="text-align: justify;">
-a mudança política no país não se deu pela luta armada como se faz pensar, mas pela conscientização do operariado que se propôs a fazer a sua própria história;</div>
<div style="text-align: justify;">
-na história não há um herói que a faz mas um coletivo que transforma;</div>
<div style="text-align: justify;">
-a Igreja Católica deu uma guinada da luta política para a tradição religiosa;<br />
- a dificuldade da classe política de compreender a ação cultural como ação transformadora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Podemos encontrar muitas outras propostas no livro mas faltou uma discussão aprofundada sobre como transformamos a sociedade brasileira, de uma sociedade que pensava muito mais no coletivo para esta consumista e hedonista da atualidade. Esta discussão deve ficar para um próximo momento porque não era este o foco do livro, mas há algumas colocações neste sentido. Talvez o que tenha faltado seja uma percepção de qual é a visão do mundo do ponto de vista do autor, faltou esta ênfase em demonstrar a contradição desta sociedade através da colocação efetiva de um assunto mais forte que permeasse o livro e fizesse uma ligação entre a sociedade de 1975 e a de 2002. Senti falta deste fator transformador mas é possível que esta seja mesmo a proposta do autor: a transformação se dá pela ação individual em busca de um bem comum, cada um lutando pelas suas verdades mas pensando na comunidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda assim, por tudo o que eu percebi no livro, sinto que o autor consegue propor ideias novas, é um livro que precisa ser lido e compreendido de outras formas ainda pois me fez pensar em muita coisa, não apenas da forma utilizada pelo autor, como também nas ideias que ele propõe nas entrelinhas da vida dos seus personagens e na visão que ele tem da sociedade brasileira.<br />
<br />
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<i><span style="font-size: x-small;">Se alguém se interessar em comprar o livro, clique no link abaixo:</span></i><br />
<a href="http://www.livrariaasabeca.com.br/"><span style="font-size: x-small;">Tecendo o Amanhã - Moacyr Pinto</span></a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-74710662222292171772012-03-25T19:52:00.001-03:002014-11-10T12:04:40.637-02:00O QUARTO VAZIO<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguOxuiyGWHGf4qwTNYRLas5ubifbqhDC5VSBuUM5vr0WZZMWyzymcn2q11BODnaUQgHfQ5IXHm3RIGe1XneJnO1FzU3GPaqVAkcuMwSS-tG9BxVjmUKoUTHTfW9d-xDY25d7SNyyw121IA/s1600/img003.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguOxuiyGWHGf4qwTNYRLas5ubifbqhDC5VSBuUM5vr0WZZMWyzymcn2q11BODnaUQgHfQ5IXHm3RIGe1XneJnO1FzU3GPaqVAkcuMwSS-tG9BxVjmUKoUTHTfW9d-xDY25d7SNyyw121IA/s200/img003.jpg" height="200" width="135" /></a> Quando Pablo Gonzalez lançou o seu primeiro romance: "O Quarto Vazio", em 2007, eu ainda não o conhecia. Vim conhecê-lo no ano de 2010 e já no seu segundo livro "Aqui estão os Tigres" que comentei aqui neste blog. Agora, ao ler o primeiro livro, sinto necessidade de voltar a este autor, tanto porque sei que está próximo do seu terceiro livro, quanto porque a sua qualidade literária merece mais destaque.</div>
Neste livro, ele demonstra o seu talento literário diferenciado, ao qual devemos dar muita atenção. Consegue construir um história interessante, que não tem uma ação fantástica e nem se parece com um filme de aventura, ao contrário, busca mais a reflexão nos pequenos atos de cada personagem e, principalmente, do protagonista, Álvaro, que é demitido da empresa por ser preguiçoso demais e passa a viver um tempo de fundo de garantia e seguro desemprego. É sobre este tempo ocioso que o protagonista tem que o autor construiu a sua história.<br />
Primeiro, devo destacar os momentos de Álvaro na empresa, seu discurso contra o trabalho, a sua fuga para um lugar que ele chamou de Limbo, onde havia vários empregados perdidos, depois sua demissão, a existência do leão de chácara que caça os funcionários vadios ou que causam problemas na empresa.<br />
Fica interessante como uma crítica ao sistema capitalista. Longe de ser contrário ao sistema, pois Pablo não se preocupa em apresentar uma alternativa, ele critica mais a transformação do homem em simples realizador de tarefas, ainda que intelectuais, mas que geram lucro e bem estar para alguém que não é o funcionário. Quando define um "limbo" para onde os funcionários são jogados, parece dizer que as pessoas de um modo geral são jogados neste limbo pelo sistema, passam a viver um momento de desimportância à empresa, apesar de continuarem a gerar o lucro com o trabalho, ao dizer que um leão de chácara o leva de volta ao seu local de trabalho, também coloca a opressão sentida pelo trabalhador e a atitude de Álvaro, a preguiça, acaba por ser um ato de revolta contra a empresa e contra o sistema capitalista.<br />
Mas o livro não é somente sobre isso. Vale mais sobre a atitude da pessoa em relação ao mundo, em relação às outras pessoas, ao sistema, a si mesmo. Não deixa de ser uma espécie de iniciação a uma discussão importante que Pablo Gonzalez faz da sociedade: qual é o papel de alguém no mundo de hoje?<br />
Álvaro, ao não resolver sua situação com a sua amada, seja por não saber como fazê-lo, seja por não sentir-se seguro, ou por deixar que as pessoas façam suas ações cotidianas sem impedi-las ou criticá-las, ao deixar que as coisas simplesmente aconteçam e por não interferir no mundo, acaba sendo um reflexo da impotência do indivíduo em relação ao sistema, e até de uma sociedade que muitas vezes deixa que as coisas aconteçam para depois fazer algo. <br />
Ao final do livro, percebi que ele representa as engrenagens de um sistema em cada personagem, representam formas de dominação ou de sujeição, como exemplo, posso tomar o caso de Otílio e Evelina, ela, com a sua beleza domina Otílio, que tem uma força enorme, ao contar o episódio de Otílio carregando a geladeira e dizer ao final: "Mas, oh, o peso que esse homem carrega", ele acaba por dizer não o peso da geladeira, mas o peso interno de ser apaixonado por uma mulher que não corresponde a paixão dele, o peso de uma vida que só tem sentido por alguém que não lhe dá valor.<br />
Outra curiosidade é utilizar muitos nomes clássicos: "Ártemis, Argos, Diana, o que representa mais do que a situação em que as personagens são apresentadas.<br />
Acabei por compreender que há uma ligação entre este primeiro livro e o segundo pois, enquanto neste, Pablo discute esta sociedade com uma variedade maior de personagens, mostrando-nos como funciona este sistema, em seu segundo livro, traz à tona esta discussão através de um único personagem que sofre todas as consequências deste sistema, que também tem suas dificuldades de sentir-se importante dentro deste mundo. <br />
Com isso, Pablo cria sua visão de mundo muito particular mas que tem profundidade e conhecimento, coloca-nos uma questão importante: qual é o papel do indivíduo neste sistema em que vivemos? O indivíduo é apenas trabalhador, gerador de lucro? É apenas consumidor, novamente, gerador de lucro? Só tem utilidade enquanto parte de um sistema em que há dominação? Qual é a utilidade de um indivíduo ou não devemos falar em utilidade quanto falamos de pessoas?<br />
Questionamentos importantes no trabalho de Pablo Gonzalez, e é este o trabalho que o escritor tem de realizar: criar o seu mundo e questionar o mundo de todos com isso, ele está realizando muito bem isso e aguardo ansioso seu próximo livro.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-6648173351591132282011-11-04T22:31:00.003-02:002014-11-10T12:05:33.103-02:00AUSÊNCIAS DE MAH LUPORINI Em 2011, Mah Luporini lançou o seu segundo livro "Ausências" em que ela nos mostra quarenta poemas pequenos, cada um possuindo de um a quatro versos. Cada poema é uma pequena definição de um momento, de uma ideia, de uma atitude, de uma sensação ou de um sentimento. Então, ela dá um pequeno título e escreve alguns poucos versos relacionados ao título dado. Desta forma, ela vai descrevendo, através de sua poesia intimista, o mundo em que ela se encontra e aí é a sua grande qualidade e, ao mesmo tempo, o grande defeito.<br />
<br />
<div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpxK1p4AdM7CtgeS7f1_HiQWuMCaXnvL9dF3cu5KmPMj1M13Bl6pI4LZqpnXMXUgKtD-Put43fWZHGJWmieH2jakmsY05LErXKsUtUaRkNMct00iSYhN5BD_6yNrOUs-ZCgBBE-37AbMw0/s1600/img002.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; height: 268px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; width: 181px;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpxK1p4AdM7CtgeS7f1_HiQWuMCaXnvL9dF3cu5KmPMj1M13Bl6pI4LZqpnXMXUgKtD-Put43fWZHGJWmieH2jakmsY05LErXKsUtUaRkNMct00iSYhN5BD_6yNrOUs-ZCgBBE-37AbMw0/s200/img002.jpg" height="200" ida="true" width="139" /></a></div>
Às vezes penso que ler um livro de poesia é um pouco o trabalho de um médico legista que acaba de encontrar o objeto com o qual trabalha e que vai tentar descobrir as causas daquele objeto ter chegado ali. Começo a ler e vou decifrando palavras e significados, muitas vezes, passa-me pela cabeça que a poesia não é para ser decifrada, entendida ou explicada. A poesia apenas é, apenas existe, existe mais para o poeta do que para o leitor de poesia, mas as palavras, o grande tema de Mah Luporini, pois o tempo todo dedica-se a duas coisas, a si mesma e à sua relação com as palavras, que vem desde a infância pois não podemos deixar de lado a presença dos pais poetas.<br />
Dos quarenta poemas, vinte deles encontram-se na primeira pessoa do singular no tempo presente. Então, ela usa palavras como "escrevo, dissolvo, perco-me, encontro-me, sou, procuro, liberto-me, quero, caminho, contemplo, navego, habito, ceifo, estou, brinco, sobrevivo, bebo, toco" que, a meu ver, mostra o quanto a poeta é voltada para si mesma tentando encontrar o seu mundo ou se encontrar no seu mundo. E aproximadamente a metade dos poemas também falam sobre palavras, versos, escrever, poesia, muitas vezes, misturam-se os dois temas básicos: quem sou e porque escrevo.<br />
Então, esta poesia super intimista, voltada somente a si e às suas vontades e desejos, expõe-se mas não interage com o mundo. Falta-lhe enxergar o mundo à sua volta, interagir, enfrentar, sair do seu casulo e sofrer por tentar em vez de sofrer por ficar presa ao seu mundo.<br />
De certa forma, este entranhamento em si mesmo é uma marca da modernidade. Viver sem ver a realidade, ou ver a realidade e preferir viver o seu mundo próprio. As duas coisas se completam e são frequentes atualmente, não enxergar além do seu mundo.<br />
Dentro da poesia de Mah Luporini encontro, entre os seus pequenos poemas, coisas muito boas como:<br />
<br />
<u> <strong>Ausência</strong></u><br />
Bebo o vinho da noite<br />
Esqueço quem sou<br />
Perco-me em<br />
Ausências.<br />
<br />
Gostei desta figura de "beber o vinho da noite", embriagar-se daquele momento silêncioso e se esquecer de tudo, perder-se em ausências, perder-se na falta de tudo, onde tudo e todos são ausentes. Então aí temos os temas muito explorados pela poeta como o silêncio (13 em 40 poemas remetem ao silêncio, à necessidade de não ter som ou de se calar), a si mesma e suas próprias ações (bebo, esqueço, perco, ) e às ausências na vida, das coisas, das pessoas, dos amores que tanto afligem o coração da poeta. Completando tudo em outros poemas como:<br />
<br />
<u> <strong>Insônia</strong></u><br />
Rendas silenciosas<br />
Tecem a noite, outono de púrpuras,<br />
Sob águas cristalinas.<br />
<br />
Completa a ideia das coisas que estão acontecendo enquanto as pessoas estão dormindo, e também um outono, algo aguardando a primavera escondida nas águas cristalinas, talvez algo que irá surgir deste silêncio, desta noite, uma paixão (púrpura)?. E depois, da noite e do silêncio, depois desta espera pela primavera, encontramos:<br />
<br />
<strong><u>Identidade?</u></strong><br />
Clara manhã<br />
Tímido azul...<br />
Sou alguém que não conheço<br />
<br />
Então, apesar de eu ter visto o excesso de uma poesia intimista, de voltar-se para si mesmo, de acreditar que é necessário à poeta sair do casulo e expor-se para encontrar as oportunidades do mundo, penso, também que o livro tem a qualidade da coerência, da proposta de mostrar este eu poético, de apresentar este eu em silêncio, em horas noturnas, de distanciar este eu do mundo real e buscar a essência desta vida. Infelizmente, o ser humano, além de ser poético é ser social e, enquanto sobra a autora o "eu poético", falta-lhe, por enquanto, o ser social, a sua relação com o mundo real.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-43511933128062825632011-10-29T19:01:00.000-02:002014-11-10T12:08:10.097-02:00O CIENTISTA E A POETA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihPm8tYmr1Ltv1A4IpWv7bL8H6HQMYyeGKY057hEXsgVEXscAZnDZ_EAzVGJtfIX2ChBoqqs6IfYyhjcADK4iIyekMXnYaJl7-egdyWvF0DRymYRhBfEHxWtyiuBWJghkRqA1U0d6hhWwn/s1600/img026.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; height: 119px; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; width: 184px;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihPm8tYmr1Ltv1A4IpWv7bL8H6HQMYyeGKY057hEXsgVEXscAZnDZ_EAzVGJtfIX2ChBoqqs6IfYyhjcADK4iIyekMXnYaJl7-egdyWvF0DRymYRhBfEHxWtyiuBWJghkRqA1U0d6hhWwn/s200/img026.jpg" height="132" ida="true" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
Mírian Menezes de Oliveira lançou recentemente o livro "O Cientista e a Poeta", cujo exemplar impresso trouxe novidades no formato e manteve formas poéticas conhecidas. Explico: o livro foi impresso de forma a ser lido na horizontal das páginas e não na vertical igual a todo livro. Além disso, foi escrito em letra cursiva e vem recheado de desenhos curiosos.</div>
<div style="text-align: left;">
Segundo a autora o livro nasceu após um estudo sobre transdiciplinaridade que a entusiasmou. Ela já possuía uma alma de poeta e ao mesmo tempo de cientista, daí o título. Voltando ao assunto, após estes estudos, ela colocou-se a escrever porque os assuntos vinham e precisavam transferir-se ao papel.</div>
Sendo esta a primeira experiência poética, acredito que a Mirian antecipou-se demais ao tempo do poeta, pois a poesia exige um cuidado diferente. Transcrever os sentimentos é somente a primeira parte do trabalho poético, isto ela fez bem. Há tantas outras coisas envolvidas num trabalho de poesia além da simples transcrição dos sentimentos, sensações e observações sobre o mundo.<br />
O livro vale por esta explosão de sentimentos e pela necessidade de expressão que todos temos. Infelizmente, ainda está longe de um trabalho poético verdadeiro, que deve levar em conta algo mais.<br />
Assim temos poemas longos, com frases compridas, discutindo temas, expondo as ideias da autora como logo no início do livro com "Teorema Poético-Científico" em que lemos:<br />
<div style="text-align: center;">
"a partir de agora, o cientista e a poeta</div>
<div style="text-align: center;">
(poetisa é muito açucarado) se</div>
<div style="text-align: center;">
fundirão no caldeirão da existência". </div>
Vemos que a forma colocada para os versos é uma afirmação, faltando-lhe os elementos poéticos como as figuras de linguagem, metáforas, dissimulações, ausências, dubiedade de significados. Outro exemplo está em "Poema da Relatividade" em que ela escreve:<br />
<div style="text-align: center;">
A grama vista da janela </div>
<div style="text-align: center;">
Quando bate o vento,</div>
<div style="text-align: center;">
não é grama...</div>
<div style="text-align: center;">
É mar!</div>
Ou seja, ela já conta tudo, tira o sabor da imaginação, dos diversos rumos e significados que uma palavra atinge. Faz uma poesia com poucas figuras de linguagem, poucas variações e sem uma dor. Uma poesia bastante contemplativa. Apesar disso, consegue ao longo livro, iniciar-se numa crítica social percebendo a redução do homem a objetos e coisas produzida pelo sistema econômico-social vigente.<br />
Acredito que ela deve aprimorar-se ao longo dos anos ao pensar o trabalho poético com muito mais variáveis. O trabalho poético na sua essência é a expressão do sentimento do ser humano em relação ao meio em que ele vive, sendo assim, a poesia deve considerar os sentimentos mais vitais em primeiro lugar, depois, o meio da vivência do poeta, em seguida, as contradições, figuras de linguagem, crítica, e sem esquecer que é necessário ver, ler, analisar o trabalho que os pares poéticos fazem para poder compreender o momento artistíco atual.<br />
Sendo assim, apesar de eu não gostar de repetições para marcar definições num poema, fico com o seguinte poema, como um dos mais significativos:<br />
<br />
HOMEM-RÓTULO OU LOGO-HOMEM<br />
<br />
Homem-rótulo<br />
Homem-síntese<br />
Homem-marca<br />
Logo-homem<br />
<br />
Homem predestinado<br />
Homem etiquetado<br />
Homem resumido <br />
Logo-homem<br />
com tarja preta<br />
ou vermelha.<br />
<br />
O mais interessante é pensar que este poema ficaria muito mais forte se fosse menor, numa livre adaptação e sem querer modificar o estilo poético, a autora poderia cortar o poema, aproveitar apenas a essência das palavras e escrever:<br />
<br />
Logo-homem<br />
Homem-rótulo<br />
Com tarja preta<br />
Ou vermelha.<br />
<br />
Pois assim já diria tudo o que ela queria, a transformação das pessoas em coisas com muitos rótulos, marcas, logotipos, ao mesmo tempo que não percebem o perigo deste vício, em que faz alusão às tarjas pretas e vermelhas das embalagens de remédios que podem viciar. Em poucas palavras vem muita coisa à mente, deixando o leitor interpretar à sua maneira, dentro da sua experiência.<br />
Espero mais de Mírian Menezes e acredito que ela tem este potencial. Aguardaremos.<br />
Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-78557876870807873012011-10-22T19:43:00.002-02:002014-11-10T12:09:03.574-02:00PREFÁCIO DE POEMAS DO SUBSOLO Em 20 de Outubro de 2011, José Moraes lançou sem livro mais recente "POEMAS DO SUBSOLO", prefaciado por Fernando Scarpel. Segue o prefácio do livro.<br />
<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5EVz_UMpzOcOdTQ7eCByr1m-SaI1T3xU7maRljdsnTAGCdkdIsAiaRovrdl6viBX5dYDqFt0IXE6U67a0-5KEC1I-nxPqp61Ihho4a4OZ2m0EAKPQI_Stcw707ZK2dhRoE1ONtfph0bY8/s1600/img027+%25283%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5EVz_UMpzOcOdTQ7eCByr1m-SaI1T3xU7maRljdsnTAGCdkdIsAiaRovrdl6viBX5dYDqFt0IXE6U67a0-5KEC1I-nxPqp61Ihho4a4OZ2m0EAKPQI_Stcw707ZK2dhRoE1ONtfph0bY8/s200/img027+%25283%2529.jpg" height="200" ida="true" width="138" /></a> POEMAS DO SUBSOLO dá continuidade ao excelente trabalho que o poeta Moraes desenvolve desde FRAGMENTOS URBANOS, seguido de POEMAS RAREFEITOS, mas, para compreendermos e entendermos a complexidade deste trabalho temos de colocar em mente a dimensão do ser humano diante de uma cidade devoradora de costumes, tradições, sentimentos, meio ambiente. Precisamos considerar a relação da cidade de São José dos Campos com o homem José Moraes Barbosa que enxerga como o excesso do concreto sobre o ser humano, o concreto que esmaga e destrói mais do que constrói coisas belas (lembrando até Caetano Veloso). Esta é a poesia por trás dos poemas de Moraes. Ele vê a cidade se transformando e esmagando seus habitantes, destruindo a alma humana; como exemplo temos </div>
<br />
<div style="text-align: center;">
O CONCRETO É RETO</div>
<div style="text-align: center;">
CURVO ÁRIDO ERETO</div>
<div style="text-align: center;">
INQUIETO AQUIETA</div>
<br />
Vemos que, além de falar da característica física e visual do Concreto (Reto, árido, ereto), também lhe dá dimensão de falta de sentimento (árido) e indiferença (ereto), apesar disso, mostra que não para (inquieto), mas, quando diz inquieto, ao mesmo tempo, quer dizer que ele representa a sociedade que insiste em erguê-lo, em continuar transformando a cidade em concreto e, quando diz aquieta, não quer dizer que ele para, mas que ele sufoca o ser humano dentro dele, aquieta o ser humano, aquieta o homem que, ao habitá-lo obriga-se a aceitá-lo.<br />
<br />
Em "Interstício", outro excelente poema deste livro, enxergamos outra relação importantíssima do trabalho deste poeta que é a visualização do seu poema, a poesia do concreto visualizada num poema concreto, vem-me à mente a imagem do bairro joseense Jardim Aquarius quando estamos observando-o do alto da Vila Betânia, mais exatamente quando o visualizamos vindo de carro pelo Anel Viário, sentido centro-bairro e vemos aquele amontoado de prédios, com suas janelas surgindo como se fossem uma cadeia de montanhas, mas é acúmulo de concreto, lindamente traduzido neste poema, tanto na sua forma visual quanto na sua forma textual.<br />
<br />
Esta relação entranhada do homem com a cidade, do homem com o mundo é a poesia concreta de Moraes, que denuncia as prostitutas de rua, os menores abandonados, os relacionamentos efêmeros criados no mundo moderno e suas novas tecnologias que, a pretexto de libertar, prendem ainda mais o ser humano dentro de um ambiente virtual e irreal.<br />
<br />
Mas este aspecto não é o único que devemos destacar na poesia de José Moraes, há de se notar a sua relação com a palavra como modificadora de pensamento, a palavra em seus aspectos visuais, na letra original deste poeta podemos perceber mais claramente o aspecto visual. Fora que as quebras que ele propõe também fazem parte de sua poesia, uma parte da palavra em uma linha, outra na linha de baixo, obriga-nos a ler o poema de maneiras diferentes, como uma frase única, como frases diversas, com cada palavra separadamente com seu significado que, juntas, tem outro. O que me remete a uma pequena diferença deste livro para os anteriores, neste ele volta a utilizar mais verbos em sua poesia, a dar mais ação, o que me traz o seguinte aspecto desta, se assim podemos dizer, trilogia poética que se forma entre "Fragmentos Urbanos", "Poemas Rarefeitos" e "Poemas do Subsolo".<br />
<br />
Em "Fragmentos Urbanos" vemos o poeta tentando compreender a cidade onde existe, juntando suas faces e personagens, em "Poemas Rarefeitos", o poeta, abusando de não usar verbos, parece apenas refletir sobre o ambiente, parece em estado de transe, sem saída, sem ação, apesar de que a verdade é o estado de reflexão sobre o mundo. Agora, em "Poemas do Subsolo", traz tudo isso à tona, mais verbos, mais ação, extrai deste subsolo urbano a sua contestação e expõe aos habitantes da urbe e insiste em fazer poesia, em construir o seu mundo em cima deste mundo de concreto.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-69269405837473741822011-07-31T10:43:00.000-03:002014-11-10T12:09:52.945-02:00SELF - PROFESSOR WILSON O professor Wilson Roberto, membro da Academia Joseense de Letras, lançou o livro <strong>"Self"</strong> por ocasião do Festival da Mantiqueira deste ano. É um livro de poesia clássico, não quero dizer pertencente ao classicismo mas clássico no sentido do que o pensamento médio entende de um poeta e poesia: para a grande maioria das pessoas, o poeta é aquele indivíduo usa muito o lirismo, o eu lírico, e que escreve difícil, usa versos muitas vezes rebuscados (como o Wilson mesmo diz em que "uso sinéreses, diéreses, hiatos e elisões numa forma que pode ser criticada por alguns metrificadores mais arraigados à tradição, nos quais, por vezes, procurei impor a cadência que desejei e, por outras, fui conservador..."). Neste livro, Wilson foi conservador o tempo todo pois não ousou no formato e nos temas, ateve-se a um formato ora moderno, ora romântico, ora clássico, em suas sinéreses (transformação de um hiato em ditongo), diéreses (o contrário, o ditongo vira hiato), suas elisões (elidir é suprimir, retirar letras de uma palavra).<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1-0dGYB6CtetAjMnxOQrkK5CBC6FtEkM5tvMravb1B0aWLBCav7-OuJYuh0yUkj-7gXgTBhBJwj2vQkfJt8gwaMiOH2zdPlks-I4ZfeFySBvm_egug3VnmMB-3VFZPnsWt54rIV_RT2yv/s1600/Self-Wilson.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1-0dGYB6CtetAjMnxOQrkK5CBC6FtEkM5tvMravb1B0aWLBCav7-OuJYuh0yUkj-7gXgTBhBJwj2vQkfJt8gwaMiOH2zdPlks-I4ZfeFySBvm_egug3VnmMB-3VFZPnsWt54rIV_RT2yv/s200/Self-Wilson.jpg" height="128" width="200" /></a></div>
Ele foi romântico em excesso ao longo do livro ao tratar da Morte, tema preferido dos românticos do século dezenove, começa no primeiro poema e vem ao longo de todo o livro, a primeira estrofe do primeiro poema é um resumo do livro, ao ler:<br />
<em><strong> "Inconteste fim de minha carne que,</strong></em><br />
<em><strong> de inevitável, te tornaste esperada.</strong></em><br />
<em><strong> Cessar aterrorizante das sensações,</strong></em><br />
<em><strong> serás por mim esquecida</strong></em><br />
<em><strong> no momento de teu toque."</strong></em><br />
é rebuscado, romântico e clássico, muitas vezes até parnasiano, só não é 100% tudo isso porque os seus versos têm métricas variadas e assim vai ao longo do livro. Não posso negar, dentro deste raciocínio, que o livro é muito bem escrito mas achei que houve, em alguns momentos, uma ou outra deslizada, por exemplo em um verso de <strong>"Sonetos de Bagdá"</strong> em que escreve no segundo soneto:<br />
<em><strong>"se batalho do modo certo ou do errado;</strong></em><br />
<em><strong> se tornei-me herói, mártir ou simples tarado."</strong></em><br />
<em> </em>ainda que a expressão tenha sentido no poema, é estranho lê-la, ou no terceiro soneto, uma interessante e rebuscada figura de dar inveja:<br />
<em><strong>"mas os ígneos plúmbeos pirilampos ateus"</strong></em><br />
<em> </em>compreendo que ele se referia às balas de um revólver no poema, é bonito, mas é rebuscado demais.<br />
<em> </em>Então, ao longo do livro, vamos lendo uma constante luta interior entre a Vida e a Morte, a Ciência e a Religião, a Dor e a Saudade, onde não consegui entender se ele é contra ou a favor da fé, se quer a morte ou se quer a vida, se está feliz ou triste, sempre nesta falta de definição, como se fosse um luta interna.<br />
Outro tema que me chamou a atenção é a palavra "puta", bastante utilizada pelo poeta ao longo do livro, não sei se era necessário tanto uso do palavrão, e notei que poucas vezes ele falou das mulheres de outra maneira nos seus poemas, procurei algum que enaltecesse a mulher de outra forma e não encontrei, falha do poeta nestes tempos politicamente corretos ou vontade de ir contra estes tempos? Não sei. A entender ainda este aspecto.<br />
Talvez com o fim de mostrar seu conhecimento literário, inegavelmente vasto e diverso, Wilson colocou muitos poemas no livro como as livres adaptações do poema "O Corvo" de Edgar Alan Poe e outro poema de Luis de Góngora y Archote de 1602, além de uma curiosa "Canção do Martírio" parodiando a Canção do Exílio, como a querer mostrar todas as suas qualidades poéticas, deste jeito o livro, como um todo, deixou a desejar por não ter um foco. O foco foi a quantidade e não a seleção, no geral, evitou a experimentação, escrevendo versos com pouca inovação na forma e no uso da palavra, mesmo em alguns momentos em que ousou um pouco mais, não conseguiu atingir um poema que debatesse com vigor o mundo atual, a relação do homem com o consumismo, com a violência, ou que leve a uma reflexão maior do mundo urbano em que vivemos.<br />
Apesar da quantidade de poemas, faltaram emoções mais fortes, debate, discussão, tomar partido de algo com profundeza. Ficou mais no debate sobre a morte e a religião. O que não deixa de ser um reflexo, neste ponto, da sociedade moderna em que a religião ganha cada vez mais força, não que Wilson tome partido da religião, mas coloca este debate quando se confronta com a Morte, afinal, é do confronto com a morte tão inexplicável quanto certa que a religião tenta dar sentido à vida humana.<br />
Os poemas com linguajar caipira podem ser considerados valeparaibanos, mas acho que seria caricaturizar o caipira valeparaibano. Apesar de que em "Soneto Caipira" (o uso do soneto, forma clássica) ele lembra da tristeza do caipira com as mazelas do progresso industrial, carrega uma das características do Arcadismo, em que o homem devia fugir da urbanidade e se voltar ao agrário e pastoril. Acredito que o Vale do Paraíba é uma região complexa e que a figura do "caipira", quase extinta, não representa o atual momento da região, muito urbanizada, industrial e violenta.<br />
Em "Civitano de La Mondo", Wilson resolve fazer a demonstração de que o cidadão de São José dos Campos é um cidadão do mundo, ficou interessante mas sinto ausência de algo mais forte no poema.<br />
Ficou a sensação de que li uma aula de história da poesia, em que passeei por diversas escolas literárias, mas o poeta ficou devendo o experimentalismo e a inovação no fazer poético.<br />
Houve esta experimentação nos Nanocontos mas, ainda neste campo (talvez minhas observações estejam influenciadas pelo que li da poesia), o poeta precisaria ler os autores de vanguarda nesta área, aliás, poderia ler seu xará, Wilson Gorj, autor que já comentei neste blog, que faz o microconto com maestria.<br />
Resumindo, o uso de formas mais clássicas, do lirismo, da preocupação com vida e morte, transformaram o livro em poético mas não ousado ou experimental, não foi um livro inovador do fazer poético. faltou esta ousadia.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-69672702065364559202011-06-10T16:03:00.004-03:002014-11-10T12:10:50.511-02:00NO RELÓGIO DA COLINA No Relógio da Colina é um livro bem escrito, uma história articulada sem dar grandes sustos no leitor, em que o autor ainda reserva uma grande surpresa no último capítulo com a intenção de fechar a história com chave de ouro. Para mim, soou como um romance turístico, ou um policial incompleto. <br />
Tem todos os ingredientes perfeitos para um romance adolescente, há o bom moço, ou príncipe encantado, aquele cara capaz de resolver problemas fantásticos, sobe rapidamente na vida.<br />
Há a mocinha linda, branca, cabelos pretos e olhos claros, maravilhosa que, no momento em que o mocinho a conhece ele sabe que é a paixão da vida dele, é amor à primeira vista. É recíproco para ela.<br />
Aí passamos para o romance turístico, o autor descreve os dois passando bons momentos juntos em Graz e Viena.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAE1D1s5AVkKiUdHGtuwIwbKcnwmb8BxGcCaaI1-yw7QUUamzNcYXkUKN5jfZAy1qBVw0uL9ODn6aRJuQCRfIRY_VLnjZZ_fFtXtHV67HNm18jDHzB0Kf0480Scwzuv3hyphenhyphenhsCbR72fy-R/s1600/Capa-Colina-Pedrosa.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; display: inline !important; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAAE1D1s5AVkKiUdHGtuwIwbKcnwmb8BxGcCaaI1-yw7QUUamzNcYXkUKN5jfZAy1qBVw0uL9ODn6aRJuQCRfIRY_VLnjZZ_fFtXtHV67HNm18jDHzB0Kf0480Scwzuv3hyphenhyphenhsCbR72fy-R/s200/Capa-Colina-Pedrosa.jpg" height="200" width="133" /></a><br />
Depois, vem a parte mais misteriosa, em pouco tempo, questão de horas, o mocinho descobre toda a trama, passa de uma desconfiança para a certeza e a explicação do mistério num clique, como se tudo fosse muito fácil de se conseguir, bastam alguns telefonemas, umas consultas pela internet e pronto, o mistério foi resolvido. E ele é capaz de acusar com todas as provas um dos mais importantes diretores da empresa multinacional.<br />
Fora isso, algumas partes soam muito inverossíveis como o momento em que o amigo advogado consegue a foto necessária para provar a sabotagem em um carro. O mocinho liga às 18:30 de sexta-feira para o Brasil, com quatro horas a menos, então, às 14:30 no Brasil, para o advogado descobrir onde está o carro acidentado e se ele foi sabotado. E o advogado, que não tem nada para fazer, lógico, não trabalha, estava lá só para isso, em São Paulo, sexta-feira à tarde, não tem trânsito e nem gente mal humorada, aí ele descobre o processo, o fórum, o laudo, o carro e consegue tirar fotos da sabotagem até sábado, seis horas da manhã. É demais. Outra parte é o momento em que a mocinha consegue, com alguns telefonemas, os relatórios de despesas de dois anos da multinacional toda em apenas algumas horas, consegue analisar e descobrir o culpado de pagamentos fantasmas! É uma dupla dinâmica, se os dois trabalhassem para a polícia federal, acabavam com os crimes no Brasil em seis meses.<br />
Os personagens principais são tão certinhos e tudo acontece tão bem que eu fico pensando como é que tem gente com ideia de fazer maldade neste mundo, porque vai se dar mal. O mocinho não tem nenhum conflito de consciência, apenas a certeza de que ele deve fazer tudo daquele jeito, que é o jeito certo, claro.<br />
Apesar destes detalhes, o livro funciona muito bem como uma aventura adolescente, um romance rápido para se ler sem entrar em temas duros e cruéis, há um vilão escondido o tempo todo que se revela só no final, em que o mocinho não precisa explicar nada para a polícia, tudo está ali fácil e entendido.<br />
Então o livro fica só como aventura mesmo. Não é uma literatura profunda e nem reflexiva sobre o mundo industrial e capitalista. É só aventura. Acredito até que esta foi a proposta mesmo do autor, escrever um livro de aventura, apenas isso.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-29328260819502544442011-02-18T17:15:00.002-02:002014-11-10T12:12:13.235-02:00A Minhoca ou o Chocolate? Que o galo decida. Como eu já afirmei aqui antes, eu sou apenas um leitor interessado em poesia, querendo compreender e registrar de alguma maneira este momento poético porque passa nosso Vale do Paraíba e demorou um pouco para eu entender o livro "Minhoca de Chocolate" do músico e poeta Léo Mandi. Foi uma leitura difícil porque seu estilo causou-me estranheza, a começar do título: "Minhoca de Chocolate". Confesso que as expressões utilizadas pelo autor são incomuns, muitas vezes beirando visões oníricas, lembrando-me de poetas que fizeram uso substâncias químicas para obter resultados novos e diferentes na poesia, acredito que não é este o caso deste autor, mas sua escrita foi incômoda. Não é fácil entender poemas como:<br />
<br />
<em><strong><span style="font-size: x-small;">"Berro Mergulho"</span></strong></em><br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;">O vê de luz nas mãos</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">As borboletas laranjas astrais</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">As pedras</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Magnéticas do poder do chão</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">A dupla de urubus nas rádios das matas</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">O berro mergulho na água de húmus</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Somos seres Sol Vagens</span></em><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJMgWyfItz5cQ4YBR4qBnF8zCyy9I-VdBX1xOodA-zR06UYOOYFD-g6WtPR-anrqVVWH1hBp2C_41xY_caRjQsOEqdnvt7TTmkGOhyphenhyphen62pa5zaZtt0N_3ZGAZA2CbsjtCE8Raqz7SsVTFqq/s1600/Capa-Minhoca-Mandi.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJMgWyfItz5cQ4YBR4qBnF8zCyy9I-VdBX1xOodA-zR06UYOOYFD-g6WtPR-anrqVVWH1hBp2C_41xY_caRjQsOEqdnvt7TTmkGOhyphenhyphen62pa5zaZtt0N_3ZGAZA2CbsjtCE8Raqz7SsVTFqq/s200/Capa-Minhoca-Mandi.jpg" height="200" width="141" /></a><br />
Aos poucos, fui compreendendo que Léo Mandi não escreve somente e exatamente um poema, porque poesia exige significados diferentes, várias interpretações para a mesma palavra dentro do poema e o uso de<br />
figuras de linguagem. A linguagem de Léo Mandi é feita como se fosse uma prosa, uma crônica que, apesar de estar elaborada na página em forma de versos, nem sempre deve ser lido como poesia. Muitas vezes é uma crônica poética, uma prosa poética, como, por exemplo:<br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;"> "<strong>Churrasco de Carrasco"</strong></span></em><br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;">O isqueiro</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">substituiu o palito de fósforo</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">é um empresário fora de forma</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">na minha mão</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Precisa ter a cabeça</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">rodada para trás</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">para cuspir o fogo</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">O calo do meu dedo</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">roça com força</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">a cabeça do empresário</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">o empresário havia</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">contratado um homem forte</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">que era uma árvore brutal</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">e produzia peças raras</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Até que o homem contratado</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">se tornou um palito de fósforo</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">E, o empresário o queimou</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Eu peguei o empresário</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">emprestado</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">para comprar alcool</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">e acender meu carvão</span></em><br />
<br />
Para mim, o poema acima é uma prosa, uma crônica, que ficaria melhor se fosse escrita como tal, e ficaria:<br />
<br />
<em> <span style="font-size: x-small;">"O isqueiro substituiu o palito de fósforo, é um empresário fora de forma na minha mão. Precisa ter a cabeça rodada para trás para cuspir o fogo. O calo do meu dedo roça com força a cabeça do empresário.</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;"> O empresário havia contratado um homem forte que era uma árvore brutal e produzia peças raras. Até que o homem contratado se tornou um palito de fósforo e o empresário o queimou. Eu peguei o empresário emprestado para comprar alcool e acender meu carvão".</span></em><br />
<br />
Aí vemos outra característica que é a de simplesmente relacionar um objeto com uma história, neste caso foi o isqueiro, mas ele fez o mesmo com folha de papel, árvore, porta, dobradiça e outros.<br />
<br />
Podemos ver também muita referência a elementos da natureza e ao sexo em seus poemas, levando-nos a um ambiente mais primitivo, contrapondo-se ao ambiente urbano, conflitando com a metrópole. No geral, não pude entendê-lo como um livro de poesia, é um livro poético, mas não é de poesia em sua totalidade. Isso não quer dizer que não haja poesia, em alguns momentos, temos bons poemas:<br />
<br />
<strong><em><span style="font-size: x-small;">"Não arraste"</span></em></strong><br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;">Não quero seu resto</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Atropelando meu rastro</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">De cometa</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Você não é a única coisa</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Que me resta.</span></em><br />
<br />
ou o<br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;">Pai</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Pai</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Pai</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Pai</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Pai</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Sagem</span></em><br />
<br />
Em que parece que ele está batendo (Pá, pá, pá) na cabeça do pai para ver se o pai tira a cara de paisagem que faz para o filho, um poema interessante e bom que se aproxima da poesia concreta que o poeta Moraes faz, sem verbos mas com ação visível.<br />
ou ainda:<br />
<br />
<strong><em><span style="font-size: x-small;">Poros Pulsa</span></em></strong><br />
<br />
<em><span style="font-size: x-small;">Sou o pulso</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Que perfura</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Não o poço</span></em><br />
<em><span style="font-size: x-small;">Perfurado</span></em><br />
<br />
Este poema acima é a intenção do poeta de perfurar com a palavra e com o fazer artístico as noções pré concebidas que temos de poesia e poema, pois ele escreve mesmo de forma diferente, mas, apesar da estranheza que algumas frases me causaram, como por exemplo, nos poemas <br />
<br />
<em><strong><span style="font-size: x-small;"> "Escrever" </span></strong></em><br />
<em><strong><span style="font-size: x-small;"> "Escrever com a pata/ do cão/ com o pelo do rabo/ Escrever sem saber o/ que é tinta/ Escrever sem pensar/ Igual a pele grudada / na pinta"</span></strong></em><br />
<br />
ou<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"> "<em><strong>Mijo Santo" </strong></em></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><em><strong> "A água que cai da torneira/ e enche minha caneca/ Clara de alumínio/ é um mijo santo/ Vou passar o café/ daqui a pouco/ o mijo santo/ vai virar/ mijo preto/ com a minha/ fé"</strong></em></span>,<br />
<br />
o que me ficou mais marcado é a falta de preocupação com os versos, pois ele colocou todos os tipos e tamanhos de versos que quis, a falta de unidade do livro que tem uma temática diversa, a preocupação de causar estanheza, parecendo-me que foi mesmo proposital usar esta linguagem ("mijo santo", "mijo preto","a vagina é um barco", "pelo do rabo", "miolo de pau ardendo, torradeiras de bunda de inseto", "berro mergulho"). Tudo isso é um jeito que não estou acostumado a ler.<br />
No entanto, acredito que a manifestação deste livro é bastante interessante do ponto de vista do diferente. O formato dos versos, a falta de coesão e a temática fazem parte de uma visão da sociedade muito particular do autor, a mim é estranho mas, ao mesmo tempo, é fascinante tentar enxergar o que ele quer dizer, parece um quebra-cabeça, pode ser que ele queira mesmo dizer coisas que eu ainda não absorvi, pode ser que ele não queira dizer coisa com coisa, e que tudo seja proposital, ou não. <br />
Talvez Léo Mandi devesse ter, além desta preocupação de escrever diferente, também de trabalhar cada poema, retirando os excessos e as repetições de palavras de dentro do mesmo poema, como no exemplo acima, "Churrasco de Carrasco" em que usa a palavra "empresário" repetidas vezes. Isto aconteceu em outros poemas e poderia ser um objeto de mais dedicação do autor evitar esta repetição.<br />
O fato maior é que este livro incomoda, causa estranheza e nos tira das palavras fáceis do nosso dia, causou-me desconforto.<br />
Mas este desconforto, esta estranheza, eu sei que é muito importante dentro do fazer poético da cidade pois esta voz dissonante pode gerar outras formas de música, até que venhamos a compreender melhor as mensagens que o autor externaliza e deseja passar.<br />
Eu ainda fui encontrar uma ligação dos galos do Léo Mandi com o galo de João Cabral de Melo Neto no poema "Tecendo a manhã" em que diz que "Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos", seja o garnizé, o carijó ou o índio, espero que o galo Mandi continue cantando para que os outros teçam a manhã.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-15045527827221032922011-01-07T16:10:00.002-02:002014-11-10T12:13:24.725-02:00AQUI ESTÃO OS TIGRES Pablo Gonzalez lançou um livro intrigante e interessante chamado "Aqui estão os tigres".<br />
Trata da história de um desenhista que está com dois problemas urgentes, o primeiro junto às autoridades após um acidente de trânsito e o segundo é o término do romance com a sua ex-namorada. Todo o livro gira em torno destes problemas que parecem insolúveis para Valentino. Pensando mais a fundo, o problema maior do personagem não é resolver o assunto do acidente ou com a namorada, mas resolver a si mesmo quando é chamado à realidade (que se recusa a enfrentar) e ao convívio social, pois vive num mundo de fantasia e escapismo, com medo de entrar no mundo real, pois este lhe traz dor, medo e insegurança, sendo incapaz de assumir o seu amor por Celine. <br />
Vejo mais o livro dentro do embate entre o sonho e a fantasia e a realidade, de certa forma, um embate presente no mundo moderno em que as pessoas parecem mais e mais voltadas a fugir da realidade através de diversos meios, como as das drogas ou o computador, pois este apresenta uma realidade virtual mais interessante pois ausenta o indivíduo da dor.<br />
Pablo Gonzalez, escreve de forma incomum pois ele não utiliza os recursos clássicos dos romances, fugindo do esquema: "descrição do ambiente e do protagonista, fato que altera a história, resolução do problema", pois procura muito mais a análise psicanalítica do personagem, construindo um indivíduo ambíguo e inconstante, reflexo do mundo atual. No livro, ele deixa o problema sem solução, temos que depreender o ambiente e não conseguimos fazer uma idéia exata do protagonista. Confesso que é uma escrita que causa um desconforto inicial mas, nem por isso, deixa de ser interessante e renovadora.<br />
No primeiro momento ao usar a fala de um "fantasma" usa um artifício interessante para apresentar o personagem, tanto porque quem apresenta a questão não existe (é um fantasma), quanto porque uma questão importante é o medo que o protagonista tem de viver, e, por isso, busca um mundo de sonho que existe apenas nos seus desenhos (poderia ser no seu computador ou nas drogas, como já disse). Somado a isso, o fato de usar uma fala sem pontuação transforma este capítulo em uma experiência do leitor para dar o ritmo que ele desejar. Gostei deste recurso.<br />
Assim, Pablo vai lançando as questões para que nós as resolvamos, temos medo de viver neste mundo? Fugimos dele? Desejamos escapar através de alguma maneira que não precisemos sentir dor?<br />
Gostei do estilo da narrativa, é bem envolvente, bem escrito, os parágrafos são bem trabalhados, a construção das histórias que permeiam o livro são bem feitas, tanto que não consegui sossegar antes de terminar o livro todo. Gostei das várias situações. No decorrer da leitura, confesso que me perdi com elas e não conseguia mais distinguir o que era realidade e ficção na vida do Valentino, então, comecei a ler de outra maneira, sem me preocupar com a realidade proposta, a partir daí, a história começou a tratar do caminho da loucura em que o Valentino seguia e foi fluindo ainda mais fácil quando comecei a entrar no jogo de situações, nas probabilidades impossíveis sem pensar qual era o sentido.<br />
Um momento do livro que me agradou demais e me fez sentir a qualidade do autor foi a fantasia do Valentino que troca de corpo com Celine e o livro começa a ser descrito pela visão de mundo da Celine, foi fantástico este momento e me deixou com a certeza de que temos um grande autor ao nosso lado. Só lendo o livro para compreender.<br />
De certa forma, a multiplicidade do pensamento do Valentino tem a ver com a multiplicidade de escolhas do mundo atual e este pareceu o maior conflito do personagem, diante de tantas escolhas e possibilidades para a própria história que o mundo atual oferece, qual caminho o personagem deveria tomar? Ao pensar em tantas escolhas, Valentino se perdia e se conduzia à loucura. Mesmo porque, ninguém no mundo quer fazer as escolhas erradas ou que lhe causem dor, mas precisamos fazer estas escolhas.<br />
Assim, Pablo Gonzalez tenta mergulhar na alma do personagem, decifrar esta quantidade de escolhas que ele tem para fazer, analogamente, podemos dizer que a vida do Valentino é como o mundo, cheio de escolhas, cheio de rumos, cheio de desejos, mas a questão é como escolhemos o caminho que vamos seguir? Qual é a escolha certa? Qual é a atitude correta?<br />
Recomendo o livro com a certeza de que Pablo Gonzalez faz parte de um seleto rol de excelentes autores do nosso Vale.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-44393110485542605612010-11-04T15:26:00.005-02:002014-11-10T12:14:34.463-02:00O Bebedor de Auroras<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJxsGCgdJsxhqf8al1N4yrJJf9F4_F-8yShVcB1TnBmAIqKIH-B5p7pY5-gEsk_qkApVHyX3DlU1SJ6I6ZvQT8uoT5Ciety-AlBD2IFx6i3emRHnBArHwi0yL6Zo20ExWyoo_UQDALgXHw/s1600/Auroras-Tonho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJxsGCgdJsxhqf8al1N4yrJJf9F4_F-8yShVcB1TnBmAIqKIH-B5p7pY5-gEsk_qkApVHyX3DlU1SJ6I6ZvQT8uoT5Ciety-AlBD2IFx6i3emRHnBArHwi0yL6Zo20ExWyoo_UQDALgXHw/s320/Auroras-Tonho.jpg" height="320" width="212" /></a></div>
Tonho França lançou o belo livro "O Bebedor de Auroras", em que nos traz uma poesia lírica muito bem trabalhada, em que ele usa diversos recursos de estilo para dimensionar sua visão do mundo moderno vinculado a sua visão íntima de poeta repleta de aspectos valeparaibanos.<br />
Farei a leitura de alguns poemas e trechos de poemas numa tentativa de explicar este poeta complexo e completo, começa no seu primeiro poema, constante de apenas dois versos:<br />
<br />
<b><i>Enquanto Sonho</i></b><br />
<br />
<i> Teço versos que a manhã</i><br />
<i>verte anônimos entre os homens.</i><br />
<br />
A primeira lembrança que me trouxe este poema é uma referência ao poema "Canção Amiga" de Carlos Drummond de Andrade em que escreve nos versos finais "Eu preparo uma canção/ que faça acordar os homens/ e adormecer as crianças" porque tecer versos e preparar uma canção são semelhantes mas enquanto Drummonnd tem este característica de impactar (acordar os homens), Tonho França vem se inserir sem alarde, querendo, ao mesmo tempo, participar da humanidade com o seu canto, aqui, já começamos a ver um recurso interessante que Tonho utiliza, ao usar "a manhã" ele pode indicar também o "acordar os homens", ou "amanhã" como um tempo futuro, de qualquer maneira, ele faz esta relação de herança entre o modernismo de Drummond e a atualidade da sua poesia.<br />
Na sequência, vem com "<b><i>Tons de Maçã com Canela (tardes sem rotas e destinos)"</i></b> em que ele coloca muitas das características e dos temas que vão permear todo o livro, que são o uso de figuras estilisticas combinadas como, por exemplo, a prosopopéia, a metáfora e a sinestesia nestes belos versos da primeira estrofe do poema:<br />
<br />
<i>"Colho manhãs plenas de interrogações</i><br />
<i> as minhas roseiras despertam mais cedo</i><br />
<i> meus olhos, mais cansados, deságuam</i><br />
<i> no verde claro-infinito do capim-cidreira."</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i> </i>Tonho França usa e abusa com maestria de todos os recursos estilísticos possíveis sem cair em armadilhas fáceis, ao contrário, usa com propriedade e cuidado para criar suas alegorias da vida humana, do tempo que passa, da solidão dos homens no seu mundo. Interessante é observar que o poeta não fala de Deus ou de religião mas escreve cada verso com beleza e significado que se aproxima de algo divino, no sentido de algo que nos enleva e eleva a outro patamar.<br />
Voltando a falar de características dos seus poemas, é importante frisar o ritmo que ele impõe, onde temos o exemplo a seguinte estrofe do terceiro poema do livro, <b><i>"Sobre noites e poesia":</i></b><br />
<br />
<i>"O tempo não é senhor de tudo</i><br />
<i> O tempo não apaga tudo</i><br />
<i> Até muda o humor das marés e dos homens</i><br />
<i> Cercas e soberanias, domínios e propriedades"</i><br />
<br />
Concentremo-nos nos fonemas utilizados: "tem", "tu", "tem", "tu", "mu", "mor", "rés", "mens", "cer", "ni", "mí", "da" e temos o ritmo que ele coloca no poema, estas repetições vão acontecendo nos poemas de forma que dá um ritmo muito agradável. Além disso, recorrendo a mais uma estrofe do mesmo poema:<br />
<br />
"<i>Tantas coisas em meu coração,</i><br />
<i> Intangíveis por isso minhas</i><br />
<i> E só minhas são</i><br />
<i> E só minhas são"</i><br />
<br />
É muito interessante este jogo de "por isso minhas", ou "só minhas são", pois, ao falar de quantidade indefinida (tantas coisas), ele brinca com o som de "isso minhas" e de "só minhas" parece ler "sominhas", ou seja, quantidade e soma, ao mesmo tempo, ler "só minhas são" dá a entender "só minha ação", ou seja, só a ação dele que carrega o próprio coração de tantas coisas. É um jogo de palavras extremamente sutil e bem feito.<br />
Já em <b><i>"Epílogo dos Ventos"</i></b>, usa de assonância para dar este ritmo, como vemos na seguinte estrofe (com os grifos em negrito meus):<br />
<br />
<i>"O v<b>en</b>to hoje <b>não</b> veio à <b>no</b>roeste</i><br />
<i> O sol n<b>um</b> sil<b>ên</b>cio aver<b>me</b>lhado grave</i><br />
<i> Atreve-se as cores dos <b>me</b>us roseirais</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i> As <b>nu</b>v<b>en</b>s d<b>en</b>sas, t<b>en</b>sas, faces de t<b>em</b>porais</i><br />
<i> A noite chega s<b>em</b> pressa e c<b>om</b> aroma de definiç<b>ão</b>-s<b>en</b>t<b>en</b>ça</i><br />
<i> O m<b>on</b>jolo parece bater à pressa dos trovões</i><br />
<i> Folhas secas bail<b>am</b> no ar em pequeninos redemoinhos"</i><br />
<br />
Com isso ele vai dando-nos a impressão do vento, do som da ventania, aguardando a tempestade chegar. Parece mesmo que estamos vendo toda a cena, o sol avermelhado, as nuvens densas, estou ouvindo o monjolo batendo, vendo as folhas no ar, é poesia toda cheia de sensações, sinestésica e cheia de ritmo. Lembrando que ele usou todos os recursos poéticos já citados anteriormente. Não se esgotaria aqui a multiplicidade dos recursos utilizados ao longo de todo o livro.<br />
Além disso, a temática poética de Tonho França está centrada no homem e seus caminhos e consequências dos caminhos, onde a frequência do uso das rotas e destinos, potes, compotas, temperos, trazem-nos a idéia do homem que trilha caminhos em busca do que dá prazer e felicidade na vida, não é um prazer fácil, uma vez que os caminhos parecem muitas vezes doloridos "<i>e de nada me adiantariam agora lembranças,/ penitências, alegrias ou arrependimentos/ -Estou recluso nos versos - / E nas minhas dores e culpas/</i>" de "<i><b>Autorretrato</b></i>".<br />
O tema das rotas ou dos caminhos é bastante explorado sempre em conjunto com o dos sabores/temperos (chá, compotas), vimos em "Tons de Maçã com Canela", "Castelos de Linhas", "Caminhos de Sol", para citar alguns poemas, junto com solidão e tristeza doces, não amarguradas como se poderia pensar, e isto é interessante também.<br />
Outro fato marcante é inserção do Vale do Paraíba na poesia de Tonho França. Em nenhum momento ele cita explicitamente sua origem valeparaibana, mas é tão claro ver isso colocado de forma universal, ou seja, poderia ser de outro lugar porque ele trata dos sentimentos, da vida, do mundo, mas vemos que tem a pitada, a origem valeparaibana quando ele utiliza palavras como procissão, monjolo, romaria, café com pão de manhã, ou em um belo verso de "<b><i>Artificial</i></b>", "o<i> mar, desabando séculos de azul, tinge as cordilheiras</i>", quando ele chama a Serra da Mantiqueira de cordilheira que, vista de longe, é azul. Questões da religiosidade inserida na alma do valeparaibano "e<i> os homens perdidos, rasgam-se em gritos: Rogai por nós!</i>" de "<b><i>Noites sem Estrelas</i></b>", ou virgem, rosário, hóstias em "<b><i>Canto I</i></b>" e costumes típicos como manter canteiros e temperos em casa.<br />
E quando pensamos que nos cansaríamos deste estilo de lirismo poético, Tonho França dá um salto e mergulha numa linha poética mais atual, metropolitana, urbana, direto e crítico:<br />
<i><b><br />
</b></i><br />
<i><b> "Urbe-doida"</b></i><br />
<i><b><br />
</b></i><br />
<i><b> </b>"Toda bala é assassina</i><br />
<i><b> </b>se (en)contra uma vida</i><br />
<i> não existe este papo</i><br />
<i> de bala perdida" <b> </b></i><br />
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Usando o recurso de colocar o (en) entre parenteses para dar novo significado, toda bala contra uma vida, é contra uma vida quando encontra uma vida. A este, juntam-se "<i><b>Metropóle</b></i>" e "<i><b>Tempo Moderno</b></i>", e depois ele vem com outro poema curto, direto, atualíssimo no jeito de fazer poesia:<br />
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<b><i>"Muros</i></b><br />
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<i>A toda hora</i><br />
<i> A todo momento</i><br />
<i> Estou fora ou dentro?"</i><br />
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Inserindo-se de vez nesta grande metrópole urbana, conflituosa e confusa em que o Vale do Paraíba está se transformando. Mostrando que é um poeta atuante, atualizado, contemplativo e crítico, necessário ser lido e compreendido, pois é de importância para compreensão do momento vivido.<br />
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Só lembrando, alguns dos poemas aqui citados podem ser lidos no blog do poeta Tonho França, clicando no título deste comentário.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8486780447532897993.post-80556614041805762012010-10-01T14:08:00.001-03:002014-11-10T12:16:07.162-02:00Desmergulho de Daniela Peneluppi Em 2010, durante o Festival da Mantiqueira, Daniela Peneluppi lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Desmergulho.<br />
Começo dizendo pelo que me chamou primeiro a atenção no livro: poemas feitos como se fossem letras de música. Neste contexto, temos os poemas "Alô da Terra Custa Caro", "Bolero Saudoso", "Desmergulho", "Ilhabela", "Só uma Palavra". Em geral, são poemas com certa métrica, com palavras colocadas bem corretamente dentro de uma melodia que se pode até imaginar.<br />
Outro aspecto foi o visual no interior do livro, Daniela usou de muitas imagens de paisagens, flores, fotos diversas, além de escrever ora em maiúscula, ora em minúscula, ora iniciando com letras minúsculas as palavras com o restante do corpo em maiúscula. Esta utilização acabou por trazer algumas reflexões que vão além da palavra, pois, ao se utilizar destes recursos, a artista causa estranheza na leitura do livro, não estamos acostumados a ler uma palavra iniciando com minúscula e com o resto do corpo em maiúscula como em:<br />
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ASTRAL<br />
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bANHO dE rIO<br />
bANHO dE mAR<br />
bANHO aO lUAR<br />
aR<br />
LOGO LEVE<br />
LEVE CORPO<br />
dAQUI<br />
pARA uM oUTRO lUGAR.<br />
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Mas não é esta estranheza visual que este uso das letras nos causa que me fez pensar sobre este recurso, pois, ao utilizá-lo, perdemos um pouco o senso da palavra escrita, se o recurso fizesse jus a uma forma inovadora e de vanguarda no que ela quer dizer, então, seria muito válido, mas isto não ocorre porque é um recurso visual inócuo. Melhor seria se usasse o recurso de misturar letras maiúsculas e minúsculas com o intuito de destacar determinadas letras que, dentro do poema, poderiam transformar-se em outro poema.<br />
A métrica e a sonoridade que servem nas canções não necessariamente servirão em um trabalho poética de vanguarda, porque o trabalho poético deve ser repleto do mundo atual, deve vincular a vida do poeta com o mundo de alguma forma muito particular e única, o que está faltando para Daniela neste trabalho.<br />
Ao voltar-se para si mesma, não enxergando o arredor, ela se mostra fechada em um mundo interior próprio, sinalizar que morou aqui ou ali não significa que tenha saído de seu mundo interior para atingir o mundo dos seus pares, um grande poeta escreveu que viajou por todos os lugares do mundo, mas o único lugar em que realmente se encontrou foi dentro dele mesmo. No entanto, este é um caminho para chegar ao mundo que nos cerca, conhecer-nos para depois ir ao encontro do outro.<br />
Nesta sua fase poética, Daniela está indo ao seu próprio encontro, esta visão, às vezes egoísta, incomodou-me muito porque ela não conseguiu atingir um olhar mais refinado do fazer poético. Tanto que um dos temas que chama a atenção é o uso do espelho, do reflexo, do ver a si mesma muitas vezes, já na abertura do livro no poema "A Espera", depois em "Cabelo-Iris", "Lá em Cima do Piano", "Refrangível".<br />
Entendo que a palavra pode ser colocada ao seu próprio serviço, mas só atinge um grau mais elevado de poesia quando se impregna do mundo, das pessoas à nossa volta, das nuances que percebemos nas dores nossas e dos outros, o poeta não pode viver só no seu próprio mundo, como se morasse em outro planeta, precisa descer à terra, caminhar no meio do povo, sentir o calor da humanidade. Falta isso, neste momento, à Daniela.<br />
Convém ressaltar que surgiram poemas interessantes como "Plenilúnio" em que ela consegue fazer esta junção da própria dor e das dores alheias, misturando o sentimento de saudade com figuras interessantes como a imagem do trem na lua cheia. "Olhar invertido no vidro"<br />
Há vários poemas repetindo o tema de "Mar", "Lua", "Estrela", "Céu", "Rio", "Vento". Ao selecionar as 9 palavras mais utilizadas nos poemas (Céu, Lua, Estrela, Sol, Mar, Rio, Chuva, Flor e Espelho), vemos que dos 51 poemas, 26 deles possuem alguma destas palavras, sendo que em pelo um poema, seis destas palavras estão presentes.<br />
Faltou à poeta pensar o livro como um todo, como uma obra única, sendo o primeiro livro, talvez tenha havido o desejo de publicar o máximo possível sem considerar o conjunto da obra e dos temas tratados, penso que ela deveria se focar mais no temas trabalhados nos poemas "Refrangível", "Plenilúnio", "Campos de Margarida", "Olhar invertido no vidro" que são os mais interessantes.Unknownnoreply@blogger.com4