terça-feira, 21 de julho de 2015

Anarcopoesia de Paulo Roxo Barja

          http://paulobarja.blogspot.com.br/ 

          Em 2014, Paulo Roxo Barja, publicou dois pequenos livros de poesia, Anarcopoesia e Sonetos. Falarei aqui do que senti em Anarcopoesia.
          Anarcopoesia começa com o poema "A Cobra":          
Este poema me chamou a atenção com a construção da cobra, que remete aos protestos de junho de 2013, chamados de Jornadas de Junho. No poema, a cobra vai crescendo com a multidão até atingir mais de 3 km e tomar a rodovia. Referência clara à noite em que a Rodovia Presidente Dutra foi fechada pelos protestos de junho em São José dos Campos. Claro que faz referência à lenda da Cobra Grande, comum em todo o país, em geral, esta lenda conta que uma cobra gigantesca vivia embaixo da cidade, saía à noite e comia pessoas. De certa forma, o poeta faz esta junção, a cobra de junho de 2013 saía à noite e era formada de pessoas mas a questão mais importante que ele coloca foram os versos:"a cobra/ tem 2 km/ muitas cabeças/ nenhuma cabeça/ será que pensa?". Sei que o espaço do papel não comporta bem a ideia do poema, mas eu pensei este poema em um movimento sinuoso como uma cobra, mexendo-se entre as ruas, seria interessante para alguém que gosta de fazer vídeos aproveitar a ideia.
          Apesar do título ser Anarcopoesia, o autor poderia ser muito mais anárquico do que realmente foi, em Oração a Boal e Oração do Artista, revela muita sua influência religiosa, mas são boas homenagens aos artistas que fazem de sua arte sua profissão de fé fazendo certa analogia com o futebol de "Neymar" (Disso não gostei porque não sou santista). É uma brincadeira minha, o autor pode citar quem ele entende como artista (lembrando que Paulo Barja é santista, daí vem a citação ao Neymar).
          Gostei muito do "Poemeto não muito Erudito sobre Língua Portuguesa" em que PRB (as iniciais parecem nome de partido político!, acho melhor usar PRBarja), revela muito da sua anarcopoesia e da sua ironia, lembrando que a marca do livro é a ironia, a graça, em que o autor tem sido muito bom, em poemas como "Comentários a uma (Auto) Crítica", "Defesa do Lobo" e outros, mas no poemeto ele foi excelente, a dúvida, claro, ele sabe qual é o uso correto da língua, mas ironiza muito bem o excesso de erudição.
          Na sequência, PRBarja vem com um poema para fazer rir, e muito, em sua homenagem ao poeta Laurindo Rabelo "Quando o Cume dá Poesia" e também no poema "Os Cães também têm suas Prioridades". Só fazendo a referência, Laurindo Rabelo é um poeta considerado o Bocage brasileiro, ou herdeiro direto de Gregório de Matos Guerra, por seus poemas obscenos e pornográficos, hetero e homossexuais. Interessante é notar a diferença de visão dos pederastas da época de meados do século XIX, que eram tratados como parceiros sexuais iguais às prostitutas e os homens de então não se sentiam mais ou menos homens por os procurarem, visão social totalmente diferente deste início de século XXI.
         Paulo Barja faz poesia bem certinha, contrariando o título do livro, para mim, faltou bastante da anarquia sugerida no título. Seus poemas são corretos, trabalhados, versados e pensados mas falta um elemento a mais, algo que torne a sua poesia marcante, falta esta anarquia mais acentuada. PRB é excelente quando se propõe a ironia mas ele parece temer que esta ironia seja ofensiva e acaba contido. Para mim, ele precisava ser mais agressivo, mais terno, mais ácido, mais lírico, ele precisa colocar mais vigor, força, emoção na sua poesia, falta uma pitada de ousadia. Em alguns momentos, eu sentia que o poema ia me apunhalar mas depois passava raspando. Talvez seja um defeito meu querer que o poema me fira como se fosse uma faca, ou me balance como se fosse um terremoto, ou me derreta como se fosse ácido, ou me acaricie como se fosse amor, ou me excite como se fosse sexo. Mas este defeito de querer mais é para dizer que Paulo Barja está neste projeto, fugindo da literatura de cordel, da qual ele é especialista, o livro Anarcopoesia é um bom trabalho, falta um pouquinho a mais de ousadia ou anarquia, que aguardo nos próximos trabalhos.
       É importante ressaltar que Paulo Barja, em outros trabalhos, fala de assuntos da atualidade em sua poesia, há vários assuntos que acontecem e logo ele nos brinda com um poema, lembrando o caso do Pinheirinho, onde rapidamente saiu um cordel sobre a expulsão dos moradores do Pinheirinho. Nisso, ele tem feito um trabalho muito importante e eu até usaria o termo de que ele faz uma Poesia Crônica ou seria uma Crônica Poética? O fato é que ele faz poesia de assuntos cotidianos, de fatos acontecidos, registrando tudo isso, como no dia em que o Papa Bento XVI renunciou e, no mesmo dia, ele fez uma marcha de carnaval (era terça-feira de carnaval, 11/02/2013).
          Paulo Barja também publicou o livro Sonetos, contendo 93 sonetos em que trata de diversos temas, em especial o amor e também de vários outros temas, como homenagens poéticas, ciência, poesia. Em meio a tantos, alguns me chamaram a atenção, "Gata de Alice", "Soneto Comestível", "Soneto Científico" e "Soneto Numérico". Poderia enumerar mais alguns mas como o poeta colocou tantos sonetos juntos, dificultou demais a minha leitura, pois a sua forma engessada não me é agradável.
         Então, fica o mesmo problema que tenho visto em vários livros dos autores que comento, a vontade de publicar, no mesmo livro, uma grande quantidade de poemas. Fica a sugestão de publicar menos poemas e tratar cada livro como uma obra de arte.

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