Foi uma boa surpresa o livro Sussurros da Meia-Noite, lançado por quatro autores joseenses, que se intitularam Vale Fantástico, Daniel Pedrosa, Juliana Velonessi, Leandro Reis e Stefânia Andrade. Publicado pela Editora Pandorga.
Um livro composto de 10 contos de terror, muito bem elaborado que demonstra o cuidado da equipe editorial de fazer um bom produto para o mercado de livros e ele é isso mesmo, veio para ser bom e conseguiu. Gostei de todas as histórias, cada uma com a característica do seu autor, e todas no mesmo nível, não há histórias ruins. Ponto positivo para os autores e para a equipe editorial.
Eu gostaria de falar de cada história, dizer o que senti em cada uma e não sei se conseguirei ser preciso o suficiente. Vou tentar.
O que eu gostei muito nas histórias é o uso de paisagens daqui do Vale do Paraíba, daqui de São José dos Campos, ainda que isto não esteja explícito porque a ideia, acredito, era fazer um livro que pudesse ser lido em qualquer lugar, mas as referências estão lá.
O trabalho de edição foi muito bom, uma bonita capa e me diverti com o prefácio e com a escala de medo, um boa ideia.
Pude notar que em quase todos os contos, as referências do cinema e de outros personagens dos filmes de terror estão presentes. Por exemplo, criaturas negras sobrevoando as pessoas lembrando os dementadores do filme do Harry Potter, bonecas que provocam a morte, crianças que parecem bonecas que matam as pessoas da família, referência ao boneco "Chuck", fantasmas, espíritos malignos, bruxas. Deste ponto de vista podemos entender o trabalho editorial. Fazer um trabalho com bons autores, e todos são, indiscutivelmente, mas um trabalho que não seja difícil para o leitor médio compreender as referências porque ele precisa tê-las para entender os contos e assimilá-los bem.
Talvez por isso, quando os autores conseguiram fugir um pouco destas referências, fizeram os melhores contos, destacando para cada um deles os seguintes: "A Pedra da Caveira" de Daniel Pedrosa por relacionar histórias de maus-tratos a escravos com o terror em uma vila, destacando a feliz ideia de colocar a protagonista descendente de uma família que combatia os maus tratos aos escravos. "Insônia" de Leandro Reis, por trabalhar muito bem com a ideia de loucura do personagem, "Tormento" de Stefânia Andrade por trazer o mal como algo de dentro da protagonista, como algo que era imperdoável para si mesma, uma ótima colocação. "O Broche Azul" de Juliana Velonessi, sendo o único conto desta autora, não me permitiu fazer comparações com outros escritos dela, mas achei ótimo também.
Por conta disso, o livro é uma ótima diversão. Recomendo a quem gosta de um bons textos. E espero que não levem a sério, são só histórias criadas para assustar, nada é verdade... será?
Cada um dos autores tem uma característica própria, Daniel Pedrosa gosta de trabalhar mais a ação, Leandro Reis procura um texto mais detalhado, e com Stefânia Andrade, fazem um passeio maior pela mente e consciência, Juliana Velonessi, conta uma boa história envolvendo muitos personagens.
Lendo este livro e retornando ao livro que comentei anteriormente "Niffilins" de Wilson R,.não posso deixar de pensar neste viés mercadológico que se forma aqui em São José dos Campos, vejo com bons olhos que é algo crescente pelos bons textos sendo publicados. Defendo que devemos mesmo formar um mercado consumidor de livros de escritores joseenses e vejo que estes autores, persistindo, com certeza estão conseguindo construir este caminho.
E, mesmo defendendo o mercado consumidor, sei que é este também o entrave para fazer uma literatura de ideias novas, Escrevendo para o mercado, consegue-me mais leitores, mas também reduz-se a possibilidade de inovação e eu gostaria de ver mais discussão e embate dentro da literatura, mais defesas de ideias e de conceitos, mais inovação. Ainda falta isso para nós. Continua valendo o que eu disse de ser um leitor chato e que quer ser chacoalhado pelo livro.
Apesar de serem boas histórias e ótimos textos, não senti que são livros que me acrescentam novas ideias e perspectivas. ainda quero, neste caso, uma história de terror que me dê medo de ler a próxima página.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
A Literatura de Entretenimento de Wilson R.
Recentemente, li o livro "Niffilins, Os Filhos de Deus" do autor joseense Wilson R., presidente da Academia Joseense de Letras e gostei muito do livro.
Como um livro de entretenimento é realmente muito bom de se ler, e não deve nada para qualquer "Best-seller" internacional, ouso dizer que seria muito fácil uma produção "Hollywoodiana" em cima da história. O autor tem muitos méritos, Wilson R. sabe escrever um bom texto, que prende o leitor, aproveita-se muito bem de um sem número de conhecimentos superficiais, em especial aqueles que uma pessoa formada na civilização ocidental possui como noções de antigas civilizações, conhecimentos bíblicos e um pouco de conhecimento científico. Aliado a isso, ele inclui algumas noções de seres e divindades menos conhecidos de várias mitologias.
Desta forma, constrói seu livro contando com muitos estereótipos para a história e para os personagens, como, por exemplo, a existência de um escolhido capaz de fazer coisas que os outros não conseguem, e o fato de que todos os envolvidos sabem que o escolhido é importante e teve sua vida orientada, acompanhada e algumas vezes manipulada pelos seres e divindades. Temos os demônios todos com o estereótipo de demônio, com chifres, unhas grandes, peludos e feios; o anjo como deve ser um anjo, alto, louro, belo, vestindo túnica azul clara; a mulher do escolhido como extremamente bela e por aí vai.
O autor soube lidar com o clássico estilo de livro de ação, a história vai tomando o rumo e se direcionando para o "grand finale" no entanto, faltou um pouco mais de acentuação do ponto alto do livro que seria a esperada guerra entre os habitantes da Terra e os Niffilins, houve este ponto, mas creio que a dificuldade de descrever tirou um pouco da emoção deste momento.
Wilson R., portanto, vem se dedicando a esta literatura do entretenimento com elementos fantásticos, a exemplo do que faz também outros autores da cidade como, por exemplo, Leandro Reis, também um excelente autor. Acredito e desejo mesmo que ele consiga muito sucesso com a sua literatura.
Este tipo de escrita funciona, para a literatura, como um filme de ação do tipo "Os Vingadores" funciona para o cinema, ou seja, a gente curte (assiste ou lê) e fica satisfeito porque aconteceu tudo do jeito que tinha de ser, os vilões são superados e vencidos apesar de todo o poder de destruir o mundo um milhão de vezes que tem, os mocinhos vencem sempre mesmo estando em tremenda desvantagem afinal têm o que precisam para vencer, e a gente tem a certeza de que o mundo continua com o mesmo dualismo, as coisas no mesmo lugar. Assim, o cérebro não precisa pensar demais para aceitar que é tudo sempre a mesma coisa, o mundo é o mesmo, os estereótipos continuam firmes e fortes.
E é isto que justamente me incomoda como leitor. São filmes e livros que não me acrescentam, não me tiram da mesmice, dão-me satisfação e prazer mas não me levam a ter uma outra atitude. Mas eu sou um leitor chato, que quer ser chacoalhado, que quer ver as minhas bases balançando, que quer ver uma escrita diferente na literatura e quer a literatura como forma de transformação do mundo e das pessoas, quer a literatura participando ativamente da construção de um mundo melhor, de mais aceitação e menos discriminação, de mais bondade e menos intolerância, de mais compreensão e menos ignorância. Tudo isso não encontrei no livro de Wilson R.
Como um livro de entretenimento é realmente muito bom de se ler, e não deve nada para qualquer "Best-seller" internacional, ouso dizer que seria muito fácil uma produção "Hollywoodiana" em cima da história. O autor tem muitos méritos, Wilson R. sabe escrever um bom texto, que prende o leitor, aproveita-se muito bem de um sem número de conhecimentos superficiais, em especial aqueles que uma pessoa formada na civilização ocidental possui como noções de antigas civilizações, conhecimentos bíblicos e um pouco de conhecimento científico. Aliado a isso, ele inclui algumas noções de seres e divindades menos conhecidos de várias mitologias.
Desta forma, constrói seu livro contando com muitos estereótipos para a história e para os personagens, como, por exemplo, a existência de um escolhido capaz de fazer coisas que os outros não conseguem, e o fato de que todos os envolvidos sabem que o escolhido é importante e teve sua vida orientada, acompanhada e algumas vezes manipulada pelos seres e divindades. Temos os demônios todos com o estereótipo de demônio, com chifres, unhas grandes, peludos e feios; o anjo como deve ser um anjo, alto, louro, belo, vestindo túnica azul clara; a mulher do escolhido como extremamente bela e por aí vai.
O autor soube lidar com o clássico estilo de livro de ação, a história vai tomando o rumo e se direcionando para o "grand finale" no entanto, faltou um pouco mais de acentuação do ponto alto do livro que seria a esperada guerra entre os habitantes da Terra e os Niffilins, houve este ponto, mas creio que a dificuldade de descrever tirou um pouco da emoção deste momento.
Wilson R., portanto, vem se dedicando a esta literatura do entretenimento com elementos fantásticos, a exemplo do que faz também outros autores da cidade como, por exemplo, Leandro Reis, também um excelente autor. Acredito e desejo mesmo que ele consiga muito sucesso com a sua literatura.
Este tipo de escrita funciona, para a literatura, como um filme de ação do tipo "Os Vingadores" funciona para o cinema, ou seja, a gente curte (assiste ou lê) e fica satisfeito porque aconteceu tudo do jeito que tinha de ser, os vilões são superados e vencidos apesar de todo o poder de destruir o mundo um milhão de vezes que tem, os mocinhos vencem sempre mesmo estando em tremenda desvantagem afinal têm o que precisam para vencer, e a gente tem a certeza de que o mundo continua com o mesmo dualismo, as coisas no mesmo lugar. Assim, o cérebro não precisa pensar demais para aceitar que é tudo sempre a mesma coisa, o mundo é o mesmo, os estereótipos continuam firmes e fortes.
E é isto que justamente me incomoda como leitor. São filmes e livros que não me acrescentam, não me tiram da mesmice, dão-me satisfação e prazer mas não me levam a ter uma outra atitude. Mas eu sou um leitor chato, que quer ser chacoalhado, que quer ver as minhas bases balançando, que quer ver uma escrita diferente na literatura e quer a literatura como forma de transformação do mundo e das pessoas, quer a literatura participando ativamente da construção de um mundo melhor, de mais aceitação e menos discriminação, de mais bondade e menos intolerância, de mais compreensão e menos ignorância. Tudo isso não encontrei no livro de Wilson R.
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