domingo, 6 de junho de 2010

A LITERATURA INVISÍVEL DO FESTIVAL DA MANTIQUEIRA

     O Festival da Mantiqueira tem seus defeitos e precisa de aprimoramento. Com certeza o maior defeito é o vício de promover as grandes editoras, casando a política do poder econômico com o poder  político. O governo do estado de São Paulo premia os autores das grandes editoras porque estas, além de se alinharem com ele, apreciam a promoção gratuita que o Festival lhes confere.
     No entanto, o maior de todos os defeitos do Festival não está nisso, mas na ignorância que a imprensa dá a aquilo que o Festival poderia trazer de melhor: a novidade na literatura. Quando a organização do festival confere um prêmio ao melhor autor estreante, está conferindo um prêmio a um autor que passou por um longo crivo editorial e que a grande indústria tem muito interesse em transformá-lo num autor de grande vendagem, obviamente.
     Mas este nem é o grande problema, sabemos que as coisas funcionam assim. Gritamos contra isso. Sim, gritamos. Fazemos barulho e tentamos chamar a atenção. Sim, fazemos.
     Neste ano de 2010, obtivemos um apoio imenso da Fundação Cultural Cassiano Ricardo para que pudéssemos participar do Festival da Mantiqueira e obtermos algum contato com os nossos leitores. Como escritor, fiquei muito feliz de ver, enfim, o órgão público municipal voltado à cultura, dedicando-se de corpo e alma a um projeto fora dos padrões da grande indústria. Participar daquele espaço de cem metros quadrados onde nós, escritores, pudemos interagir com nossos pares e com possíveis leitores e outros interessados foi gratificante e me levou a muitas reflexões.
     Primeiro de que precisamos disso mesmo, do apoio de pessoas de fé nesta cidade, como o curador Júlio Ottoboni da FCCR, ao qual somos muito gratos, para que possamos e passemos a existir perante a população joseense.
     Segundo, a TV Vanguarda mostrou pouco interesse em divulgar a literatura e poesia da região em que obtém seus recursos financeiros, vendo as reportagens que fez sobre o Festival da Mantiqueira, percebi que ela só não ignorou a tenda Cassiano Ricardo porque fez trinta segundos no SPTV 2ª edição de sábado, no entanto, esquecendo de dizer que os autores eram joseenses, que o espaço era fornecido pela FCCR, sequer entrevistou o curador da FCCR, muita ignorância do repórter que não vai a fundo no seu trabalho. Na última reportagem exibida na segunda-feira, 31 de Maio, por exemplo, passou direto da apresentação da Orquestra Sinfônica para a Tenda Principal, não mostrou nada e nenhum dos acontecimentos da tenda da FCCR onde importantes conversas foram levadas a cabo, lançamentos de muitos livros de autores joseenses, discussões sobre os rumos da literatura no vale, sobre a sociedade em que vivemos, sem contar a intervenção excelente do Poeta Moraes defendendo com razões inquestionáveis o poeta como ser pensante e atuante na sociedade, contrariando a visão geral de que o poeta é um alienado do mundo. Para a TV Vanguarda, os autores joseenses parecem invisíveis, não existem, não tem ninguém digno de representar a literatura. Perde a TV Vanguarda uma chance de participar mais com este grupo interessante e inteligente da região. Foi pouco o que ela fez, poderia e tem condições de fazer mais e participar mais da vida urbana.
     Terceiro, o jornal O Vale novamente perde em apenas divulgar o programa do Festival. É inacreditável que um jornal da nossa terra se preste somente a isso. Reproduzir o programa do Festival. Não vi um repórter do jornal entrevistando ou fotogrando os autores presentes no espaço da FCCR. O jornal O Vale poderia realizar matérias literárias muito interessantes, colocando muita coisa em discussão, tanto em poesia quanto em literatura, mas, parece que as pessoas que estão no jornal O Vale têm dificuldade em lidar com as cabeças pensantes da região, preferem isolá-las, torná-las invisíveis, assim não mostram a ignorância do jornal. Até para o jornal da nossa região, os escritores joseenses são seres invisíveis. A participação de O Vale foi pífia, ridícula e menos que medíocre para um jornal que se pretende formador de opinião nesta cidade.
     Quarto, as atitudes dos políticos joseenses são lamentáveis. Quais vereadores se deram ao trabalho de visitar a tenda da FCCR? Á exceção do Cristiano, que passou bastante tempo lá conversando e prestigiando, eu vi apenas o Wagner Balieiro acompanhado do deputado Carlinhos Almeida. Longe de qualquer filiação partidária, política ou ideológica, vou analisar a postura dos políticos que passaram por ali. A começar do nosso prefeito que passou feito um raio pela Tenda da FCCR, demonstrando bastante desinteresse pelos livros e pelos autores, depois, sumiu das ruas de São Francisco Xavier, sendo impossível vê-lo entre a população ou conversando com os munícipes, afinal, rodeado de interesseiros, não podia mesmo se aproximar da população. Atitude totalmente diferente do Deputado Carlinhos Almeida e do vereador Wagner Balieiro. Durante todo o domingo, pude vê-los circulando pelo Subdistrito, conversando com um e com outro, parando na tenda da FCCR e conversando com quem estava ali presente, mostrando-se interessados nas coisas que aconteciam, até vi Balieiro participando de uma das conversas da programação da Tenda da FCCR. A humildade e desprendimente destes dois foi fantástica. Nada de estrelismos, nada de asseclas e interesseiros, apenas estavam interagindo com a população como qualquer um de nós que lá estavámos.
     Pergunto: e os outros políticos? Onde estavam o deputado federal Emanuel Fernandes, os vereadores Dié, Alexandre, o deputado Hélio Nishimoto? E os outros vereadores? Só andando atrás do prefeito?  Francamente, se estávamos invisíveis para estes políticos, estes, então, nem sequer se interessaram por alguma cultura. E, ao não se interessar em interagir com as pessoas ligadas à discussão da cidade, ao pensamento, às novas idéias, com quem eles vão dialogar? Será que vão dialogar com os donos de construtoras ávidos para liberar prédios em ruas que não suportam mais edifícios? Espero que não, espero que procurem dialogar com formadores de opinião e não com formadores de patrimônio.
     É isso, não fosse o enorme esforço da FCCR em divulgar os autores joseenses, continuaríamos todos invisíveis para a cidade. Pelo menos, para a população que se deslocou até São Francisco, pudemos conversar, aparecer, mostrar que existe literatura e poesia muito bem feitas em São José dos Campos.

10 comentários:

Anônimo disse...

Justo desabafo, Scarpel.
A literatura do Vale, para muitos, nada vale. Quanto aos políticos, é fácil entender porque evitaram a tenda dos autores. Medo de tornarem visível a própria ignorância - o vazio intelectual no qual ecoa apenas os lugares-comuns de uma política medíocre, para não dizer rasteira.

W. Gorj

Valentine Cirano Vieira disse...

Gostei de seu comentário. Lastimável saber que realmente somos como uma sombra quase invisível para muitos. O que mais me surpreende é o fato dos meios de comunicação (jornal e TV), que mais deveriam apoiar a cultura e arte dessa região, terem dado praticamente as costas para os autores joseenses. Creio que seu comentário, de que eles temem aqueles que tem mais intelecto do que eles seja, uma grande verdade. Infelizmente temos que conviver com esse tipo de ignorância e descaso. Felizmente ainda temos pessoas que acreditam que a cultura e a literatura são importantes, e para esses eu bato palmas de pé.
Um grande abraço

Anônimo disse...

errata: no qual ecoam [...]

Abraços.
W.G.

Zenilda Lua disse...

Muito pertinente sua reflexão meu caro amigo escritor Fernando.
Contudo não espere ação diferenciada por parte desta organização que representa nossa cidade em especial a política.
Nossos vereadores, deputado, prefeito sequer leem os emails destinados à eles ou tomam conhecimento de cartas que entregamos em suas próprias mãos.
São alheios e nos ignoram. Desconhecem o potencial de sua gente.
Mas não nos intimidemos.
Visíveis ou invisíveis continuaremos buscando espaço para mostrar que a matéria prima de que fomos feitos são duas: amor e pó.
O pó explica nossa existência o amor nossa essência. O pó nos iguala o amor nos identifica.
E assim elevaremos nossa árdua construção literária e poética contando com todos os sonhos do mundo.
Um abraço

Anônimo disse...

Oi Fenando finalmente uma nova voz pondo os pontos de vista ando cansado de ver nossos escritores demonstrarem alienação sim alienação as questoes sociais e politicas quanto ao Vale e a Vanguarade não dão nenhum espaço para quem pensa.
Talvez porque acham que ningúem pensa nesta cidade.
Nosso povo artistas e escritores são muito festivos e pouco critico.
Ai causam desiteresse é pena da parte do poder público poderiamos ter um fundo de cultura.
Um polo de teatro e cinema.
Da nossa cooperativa, ongs e editoras.
Mas enquanto coletivo não existimos estamos vazios.
Talvez novas vozes como a sua de um gás. De festa estou cheio.
POR ISTO PAREI DE FAZER CDS COLETIVOS E OUTRAS AÇOES.
Esta comunidade digamos cultural não quer nada além de festa.
Abraços

Joca Faria

valeria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
valeria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
valéria disse...

Bom Dia Scarpel,Tudo bem?
Meu nome é Valéria, lendo o seu 1º artigo sobre a política e os meios de comunicações locais,e refletido sobre o que disse, faço a seguinte observação:Será que cabe apenas falar o que está de errado neste setores do nosso cotidiano Joseense?Será que as pessoas que estão envolvidas nas artes seja em que area for , não estão agindo solidariamente uns com os outros ou até mesmo evitando uma união das Artes aqui em São José dos Campos.Sem nenhuma menção a quem quer que seja, o que vejo é que cada ser artístico dentro das Artes não estão Unidos nem entre si e nem com as outras areas, são poucos os que conhecem o que rola entre e dentro da sua própria area e muito menos quem faz o que? Todos se sentem poderosos uns sobre os outros ,Eu de minha parte agradeço a cada lugar que Vc mencionou,pq considero que em todos os lugares há pessoas e pessoas e não são elas que decidem a quem ajudar, a promover ou dialogar pra formar um público de opiniões e ideias , são seus egos exarcebados pela forte tendência, em promover aquilo que é do seu interesse pessoal e de sua area.E dentro disso todos nós temos nossa parcela de contribuição.Acredito que se houver maior compreenssão de um pensamento que seja dialogado de forma sistêmica e não da forma linear em que observo em todas as areas, não só das Artes bem como num todo nesta cidade.Nadaremos e morreremos na praia, chegar a um lugar em que todos possam compartilhar das mesmas condições de divulgação e promoção dentro do que faz é trabalho e muito trabalho mesmo a começar pela nossa casa , apontar erros é facil, concorda? O que é dificil é aceitar que quando fazemos isso estamos nos compromentendo a fazer algo ou seja; colocar em prática o que estamos aprendendo com os erros alheios.Dizem não fui eu que escrevi essa frase que ..."Inteligente(me refiro a tudo que há sobre esse ambito)é todo aquele que aprende com os erros dos outros"...ou seja tá errado otimo, já foi e agora? O que devemos fazer pra melhorar ou acertar o que está incomodando? Isso é um compromentimento e não ficar só na palavra, agir é a palavra de ordem no momento.E isso é em tudo não só nessa cidade bem como em todo País...política medíocre e sociedade medíocre existe em todos os lugares, o que não existe é força vital pra mudar o que aí está,a ausência de valores básicos e de ética é algo que temos em evidência por todo lado, a começar por nós mesmos, principalmente quando tocamos o campo da sobrevivencia ai as coisas se tornam bem obscuras, mesmo porque estamos querendo muito e pra sobreviver basta ter o suficiente em que todos participem e compartilhem ...isso me lembrou Einsten quando um reporte da época lhe perguntou:Porque o senhor só tem um par de sapatos ele respondeu:..."Ora tenho apenas dois pés".E se Vc estudar a vida dele verá que ele tbm cometeu muitos erros, erros que faria nossos cabelos se arrepiarem e olha que já se foi secúlos que aconteceu ...minha última observação "Será que mudamos muito desde aquela época? Não,estou falando de tecnologia ou de avanço progressista nisso avançamos muito. Estou me referindo a Moral Ética e Compromentimento com Valores Verdadeiros.Abraços, vou assistir seu evento no Bola de Meia.

valeria disse...

Bom Dia Scarpel,Tudo bem?
Meu nome é Valéria, lendo o seu 1º artigo sobre a política e os meios de comunicações locais,e refletido sobre o que disse, faço a seguinte observação:Será que cabe apenas falar o que está de errado neste setores do nosso cotidiano Joseense ?Será que as pessoas que estão envolvidas nas artes seja em que área for , não estão agindo solidariamente uns com os outros ou até mesmo evitando uma união das Artes aqui em São José dos Campos.Sem nenhuma menção a quem quer que seja, o que vejo é que cada ser artístico dentro das Artes não estão Unidos nem entre si e nem com as outras áreas, são poucos os que conhecem o que rola entre e dentro da sua própria área e muito menos quem faz o quê? Todos se sentem poderosos uns sobre os outros eu de minha parte agradeço a cada lugar que Você mencionou , porque considero que em todos os lugares há pessoas e pessoas e não são elas que decidem a quem ajudar a promover ou dialogar pra formar um público de opiniões e idéias, são seus egos exarcebados pela forte tendência, em promover aquilo que é do seu interesse pessoal e de sua área.E dentro disso todos nós temos nossa parcela de contribuição.Acredito que se houver maior compreensão de um pensamento que seja dialogado de forma sistêmica e não da forma linear em que observo em todas as áreas, não só das Artes bem como num todo nesta cidade.Nadaremos e morreremos na praia, chegar a um lugar em que todos possam compartilhar das mesmas condições de divulgação e promoção dentro do que faz é trabalho e muito trabalho mesmo.A começar pela nossa casa , apontar erros é fácil, concorda? O que é motivador e não percebemos é aceitar que quando fazemos isso estamos nos comprometendo a fazer algo ou seja ; colocar em prática o que estamos aprendendo com os erros alheios.Dizem não fui eu que escrevi essa frase que ..."Inteligente(me refiro a tudo que há sobre esse âmbito ) é todo aquele que aprende com os erros dos outros"...ou seja está errado ótimo, já foi e agora? O que devemos fazer pra melhorar ou acertar o que está incomodando, mais isso é um comprometimento e não ficar só na palavra, agir é a palavra de ordem no momento. E isso é em tudo não só nessa cidade bem como em todo País. Política medíocre e sociedade medíocre existe em todos os lugares, o que não existe é força vital pra mudar o que ai está,a ausência de valores básicos e de ética é algo que temos em evidencia por todo lado, a começar por nós mesmos, principalmente quando tocamos a campo da sobrevivência ai as coisas se tornam bem obscuras, mesmo porque estamos querendo muito e pra viver basta ter o suficiente em que todos participem e compartilhem ...isso me lembrou Einsten quando um reporte da época lhe perguntou:Porque o senhor só tem um par de sapatos ele respondeu;Ora tenho apenas dois pés.E se Você estudar a vida dele verá que ele também cometeu muitos erros, erros que faria nossos cabelos se arrepiarem e olha que já se foi séculos que aconteceu ...minha ultima observação "Será que mudamos muito deste aquela época? Não,estou falando de tecnologia ou de avanço progressista nisso avançamos muito , estou me referindo a Moral Ética e comprometimento com Valores Verdadeiros.Abraços, vou assistir seu evento no Bola de

SCARPEL disse...

Valéria, que bom o seu comentário. Estamos fazendo sim alguma coisa, caminhando e dando os primeiros passos para criar um ambiente sustentável para a poesia e literatura em SJC, porque aqui se produz muito e há pouca divulgação. Sim, estou reclamando dos meios de comunicação e dos políticos e disposto a brigar por um espaço, por um lugar ao sol, não para mim, mas para todos os autores joseenses e valeparaibanos. O primeiro passo que dei foi o de ler e estudar o trabalho dos meus colegas de literatura. Isto me trouxe a dimensão da qualidade da poesia feita em nossa cidade e comecei a divulgar, não só entre os meus pares, mas para todos os interessados, a importância e a qualidade de autores como Zé Moraes, Zenilda Lua, Reginaldo Poeta, João Possidônio. E tem muita gente nova chegando como a Má Luporini, a Daniela Peneluppi, a Rossana Masiero e tantas outras. Vá no nosso evento no Bola de Meia, participe, ajude-nos a lutar por espaço merecido não para mim, mas toda esta gente boa que faz literatura e poesia de qualidade e merece ser reconhecida pela sua importância diante da nossa cidade e sociedade. Espero você lá.