quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Trabalho de Joca Faria

Joca Faria é um poeta que exige mais compreensão. Seus estudos de filosofia o levam a construir um mundo próprio, preocupado com as atitudes auto-destrutivas suas e da sociedade humana como um todo. Chega a ter, em muitos aspectos, uma característica de messianismo.
Muitas vezes, as palavras funcionam bem nos poemas e a sua forma de protesto realmente põe o leitor a pensar. Sua preocupação excessiva com a morte remete, pelo tema, aos poetas românticos que a buscavam excessivamente. Sua preocupação excessiva com o aspecto negativo da sociedade atual que leva o mundo a auto destruição tem, como substrato, deuses gregos e indianos, aproximando-se do esoterismo e com muitas referências incomuns ao brasileiro médio, por isso, sua poesia torna-se incompreendida pela sociedade.
A forte referência ao sexo também revela um poeta que enxerga mais o sexo do que o amor como forma de redenção humana.
Percebemos um poeta que conhece bem os textos de várias religiões e que acaba por fazer, muitas vezes, uma fusão de várias delas, conectando-as e inter-relacionando-as.
A dificuldade maior do livro de Joca Faria é o por onde iniciar a sua leitura, já que não há uma seqüência de temas a uniformizá-lo. Cada poema trata de um assunto, entre eles: a preocupação com a situação da sociedade, o desejo sexual, a morte, uma profecia, a dicotomia entre o sagrado e o profano. Concluo que não há forma de iniciar o livro porque não há forma de se colocar ordem no caos. A proposta do livro parece ser o próprio caos, a confusão do homem moderno, bombardeado por milhares de informações e sendo solicitado a todo instante a dar uma razão para a sua existência. Para Joca Faria não há razão para a vida humana, havendo milhões de razões para a sua exterminação da face da terra, restando entregar o mundo às baratas.
Deste ponto, talvez falte-lhe avançar na filosofia e trazê-la mais próxima dos tempos atuais, chegando até Dag Tessore e Giles Lipovetzki, filósofos atuais que discutem muito a atual sociedade de consumo que está levando o mundo à destruição.
Percebe-se a aura de um poeta atormentado por questões muito maiores do que ele, questões já citadas (profano-sagrado, desejo, morte, sexo, destruição). Joca Faria não traz a poesia para o dia-a-dia dos mortais normais, coloca-a em outra esfera, diferente da que estamos acostumados, como se fossem códigos ainda por decifrar, símbolos que falariam mais alto do que a vida humana.
Este universo tão particular que ele enxerga através das suas “Retinas” é o que distingue dos demais, mas até mesmo esta discussão que ele propõe, de certa forma, deve ser inserida no debate da cidade como um todo, afinal, é a partir da cidade, das observações das relações humanas que ele elabora sua teoria do caos e da destruição.
Aos poucos, Joca Faria vai-se infiltrando e assumindo a cidade, principalmente ao enxergar uma personagem constante em sua poesia, a mulher, vista algumas vezes como a prostituta que corre o risco na rua em:

A Dama

Na dura esquina da noite
Ela busca seus sonhos
Linda mulher, desejada
Corre risco
Em busca da liberdade...

Esta visão da mulher necessita de mais discussão, pois onde a prostituição, como meio de vida, é a busca da liberdade? Ou a busca da liberdade seria sair da prostituição (pois a prostituição é uma prisão para aquela que a exerce) ou a busca da liberdade é viver na prostituição (pois a sociedade atual seria uma prisão)?
Mas, em geral, a mulher é o mistério que ele tenta decifrar, ao mesmo tempo sagrada e profana, a mulher pela qual ele sofre, que é anjo, a qual ele deseja e que, por isso mesmo, leva-o à morte e à própria destruição.
Além de se inserir na cidade através da mulher, Joca Faria se insere, também, ao reverenciar o Vale do Paraíba, ao protestar contra a destruição da natureza, ao desejar ser o dono do próprio chão. Os melhores poemas de Joca Faria são os que ele abandona a filosofia e parte para a simplicidade, claro, percebemos que a filosofia está presente nos poemas em que ele busca mais a síntese do que a explicação:




Faces

Acaso a sussurrar
em meus sentidos,
No labirinto te encontro
Ausência presente
mistério de sete faces

Neste poema, Joca sintetiza todo o mundo que ele exaustivamente se explica ao longo do livro, há alguém (provavelmente a mulher desejada) a sussurrar nos sentidos, ou seja, não apenas no ouvido, mas em todos os sentidos esta mulher sussurra. Ele a encontra no labirinto, que pode ser entendido como o emaranhado de ações cotidianas, as contradições e dificuldades, onde ela está ausente (pois o poeta a busca) mas presente (porque impregnada em seus sentidos) sendo um mistério para ele como ela consegue isso, como ela é multifacetada (sete faces) em sete, um número esotérico, de cada forma que a mulher desejada se apresenta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi adoro ler esta tua critica abraços.

Joca Faria