sábado, 22 de outubro de 2011

PREFÁCIO DE POEMAS DO SUBSOLO

       Em 20 de Outubro de 2011, José Moraes lançou sem livro mais recente "POEMAS DO SUBSOLO", prefaciado por Fernando Scarpel. Segue o prefácio do livro.

             POEMAS DO SUBSOLO dá continuidade ao excelente trabalho que o poeta Moraes desenvolve desde FRAGMENTOS URBANOS, seguido de POEMAS RAREFEITOS, mas, para compreendermos e entendermos a complexidade deste trabalho temos de colocar em mente a dimensão do ser humano diante de uma cidade devoradora de costumes, tradições, sentimentos, meio ambiente. Precisamos considerar a relação da cidade de São José dos Campos com o homem José Moraes Barbosa que enxerga como o excesso do concreto sobre o ser humano, o concreto que esmaga e destrói mais do que constrói coisas belas (lembrando até Caetano Veloso). Esta é a poesia por trás dos poemas de Moraes. Ele vê a cidade se transformando e esmagando seus habitantes, destruindo a alma humana; como exemplo temos

O CONCRETO É RETO
CURVO ÁRIDO ERETO
INQUIETO AQUIETA

Vemos que, além de falar da característica física e visual do Concreto (Reto, árido, ereto), também lhe dá dimensão de falta de sentimento (árido) e indiferença (ereto), apesar disso, mostra que não para (inquieto), mas, quando diz inquieto, ao mesmo tempo, quer dizer que ele representa a sociedade que insiste em erguê-lo, em continuar transformando a cidade em concreto e, quando diz aquieta, não quer dizer que ele para, mas que ele sufoca o ser humano dentro dele, aquieta o ser humano, aquieta o homem que, ao habitá-lo obriga-se a aceitá-lo.

Em "Interstício", outro excelente poema deste livro, enxergamos outra relação importantíssima do trabalho deste poeta que é a visualização do seu poema, a poesia do concreto visualizada num poema concreto, vem-me à mente a imagem do bairro joseense Jardim Aquarius quando estamos observando-o do alto da Vila Betânia, mais exatamente quando o visualizamos vindo de carro pelo Anel Viário, sentido centro-bairro e vemos aquele amontoado de prédios, com suas janelas surgindo como se fossem uma cadeia de montanhas, mas é acúmulo de concreto, lindamente traduzido neste poema, tanto na sua forma visual quanto na sua forma textual.

Esta relação entranhada do homem com a cidade, do homem com  o mundo é a poesia concreta de Moraes, que denuncia as prostitutas de rua, os menores abandonados, os relacionamentos efêmeros criados no mundo moderno e suas novas tecnologias que, a pretexto de libertar, prendem ainda mais o ser humano dentro de um ambiente virtual e irreal.

Mas este aspecto não é o único que devemos destacar na poesia de José Moraes, há de se notar a sua relação com a palavra como modificadora de pensamento, a palavra em seus aspectos visuais, na letra original deste poeta podemos perceber mais claramente o aspecto visual. Fora que as quebras que ele propõe também fazem parte de sua poesia, uma parte da palavra em uma linha, outra na linha de baixo, obriga-nos a ler o poema de maneiras diferentes, como uma frase única, como frases diversas, com cada palavra separadamente com seu significado que, juntas, tem outro. O que me remete a uma pequena diferença deste livro para os anteriores, neste ele volta a utilizar mais verbos em sua poesia, a dar mais ação, o que me traz o seguinte aspecto desta, se assim podemos dizer, trilogia poética que se forma entre "Fragmentos Urbanos", "Poemas Rarefeitos" e "Poemas do Subsolo".

Em "Fragmentos Urbanos" vemos o poeta tentando compreender a cidade onde existe, juntando suas faces e personagens, em "Poemas Rarefeitos", o poeta, abusando de não usar verbos, parece apenas refletir sobre o ambiente, parece em estado de transe, sem saída, sem ação, apesar de que a verdade é o estado de reflexão sobre o mundo. Agora, em "Poemas do Subsolo", traz tudo isso à tona, mais verbos, mais ação, extrai deste subsolo urbano a sua contestação e expõe aos habitantes da urbe e insiste em fazer poesia, em construir o seu mundo em cima deste mundo de concreto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns ao poeta Moraes pela sua importância no mundo da poesia joseense e ao Scarpel por divulgar a nossa literatura de forma tão desprendida e bonita, sem dúvida personalidades que deveriam ter mais atenção do nosso poder público que simplesmente refletem a frieza do aço em que esta cidade está construída.Abraços Nunes Rios ,poeta joseense.